A
articulação política de Dallagnol, missão avessa às prerrogativas institucionais
de um procurador da República, previu que o MPF agiria nos bastidores
Do Conjur – O procurador Deltan Martinazzo Dallagnol, que coordenou
a frente paranaense da autodenominada "lava jato", planejou em 2017
"um grau de renovação política", para que só fossem eleitas em 2018
pessoas "comprometidas com mudanças". O plano, pelo que se viu, deu
certo
Já por essa época,
na antevéspera da eleição de Jair Bolsonaro, Deltan tratava com Sérgio Moro do
uso da "lava jato" para levar o juiz para o Supremo. Na ocasião, a 29
de agosto de 2016, o procurador se esforça para convencer Moro a ir ao último
programa do apresentador Jô Soares. Na descrição de Deltan, seria um programa
destinado a "humanizar e desmitificar" o juiz — trabalho de imagem
que ele vinha fazendo em suas palestras, mas que na TV alcançaria "milhões
de lares".
Depois
do fracasso da tentativa de aprovar o que chamou de "dez medidas contra a
corrupção" — alterações em normas de processo penal que incluíam, por
exemplo, o uso de prova ilícita para condenação de réus —, Dallagnol iniciou um
"novo projeto". Tratou-se, nas palavras dele, da "vingança das
dez medidas".
A ideia consistia
em buscar apoio na sociedade civil — em sociedade com a Transparência
Internacional (TI) e a Fundação Getulio Vargas — para expandir a proposta das
"dez medidas" em outras áreas, como a de licitações, orçamento e em
uma reforma política mais ampla. "FGV e TI já toparam (...), mas estamos
começando 'na sombra'", disse Dallagnol. A ideia era encetar um negócio de
alcance internacional, como a FGV mostra em seu site.
Para
tanto, concebeu uma chamada "fase 1", que resultaria em novas
propostas de alterações legislativas. Em uma fase seguinte ("fase
2"), Dallagnol vislumbrou a criação de um selo que seria dado a candidatos
no pleito de 2018 sem condenação criminal que se comprometessem com o que ele
chamou de "dez medidas plus". "O objetivo é buscar algum grau de
renovação política e levar ao congresso pessoas comprometidas com
mudanças", escreveu o procurador. "Vou articular com movimentos ou
com quem for mais estratégico um selo a ser dado [aos candidatos]",
afirmou.
A articulação política de Dallagnol, missão avessa às
prerrogativas institucionais de um procurador da República, previu que o MPF
agiria nos bastidores, se retirando dessa chamada "fase 2".
"Essas polêmicas [referentes à proposta original das "dez medidas
contra a corrupção"] ficaram no passado e talvez tenham ajudado a mover um
pouco a 'overton window'", concluiu. A "janela de overton", ou
"janela do discurso", se refere às ideias que são toleradas no
discurso público, mas que não necessariamente fazem parte das preferências
individuais dos políticos.
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