O presidenciável Fernando Haddad se despediu neste sábado do jornal,
depois de ser atacado covardemente num editorial do jornal, que não se retratou
247 – Fernando Haddad não é mais colunista da Folha de S.
Paulo. O ex-prefeito e um dos presidenciáveis petistas publicou neste sábado
sua carta de despedida, depois de ser vítima de um ataque rasteiro num
editorial do jornal, que não quis se retratar. Haddad foi agredido depois de
defender a candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
reagindo a um artigo de Eliane Cantanhêde, chamado "O pino da granada" e que foi publicado no Estado de S. Paulo,
em que ela pressionava os ministros do Supremo Tribunal Federal a não devolver
os direitos políticos de Lula, a despeito de todas as evidências de suspeição
do ex-juiz Sergio Moro.
Insatisfeita
com a defesa do estado de direito feita por Haddad, a Folha partiu para a
agressão, no editorial Filme antigo, publicado em 3 de janeiro.
"Fernando Haddad assumiu o papel de poste e a chapa surfou nos votos que
Lula ainda era capaz de amealhar, sendo derrotada por Jair Bolsonaro no segundo
turno sem conseguir apoios expressivos. Talvez esperançoso por uma nova chance,
Haddad lançou no fim do ano passado a candidatura do ex-chefe em 2022, algo que
depende de um complexo arranjo legal", escreveu a Folha, que ainda
defendeu a tese de Ciro Gomes, que foi para a Paris, de que a "desunião da
esquerda" é culpa do PT.
Inconformado e sem direito a uma retratação do jornal, Haddad,
que representa um amplo setor da sociedade brasileira, chegou à conclusão de
que a Folha segue alimentando o antipetismo, que está na raiz da ascensão
fascista no Brasil, e também teses como a da falsa simetria entre ele, moderado
professor social-democrata, e um fascista como Jair Bolsonaro. Por isso tomou a
decisão de publicar sua carta de despedida, decisão que terá certo custo
político, mas que preserva sua coerência.
"Quando
fui convidado para ser colunista da Folha, relutei em aceitar. Na época, me
incomodava o posicionamento do jornal no segundo turno das eleições de 2018.
Pareceu-me uma falsificação inaceitável um órgão de imprensa que apoiou o golpe
militar de 1964 equiparar, em editorial, um professor de teoria democrática a
uma aberração saída dos porões da ditadura. Àquela altura, a Folha já sabia que
a família Bolsonaro era autoritária e corrupta, mas entendia que a agenda
econômica neoliberal de Paulo Guedes compensaria o risco. Teria sido mais
correto assumir isso publicamente", escreveu Haddad no artigo deste
sábado.
"Aceitei o convite, no entanto, porque intuía que o governo
Bolsonaro traria graves consequências ao país, o que exigia da parte de todos
uma disposição ainda maior ao diálogo. Na semana passada, ocorreu um episódio
insólito. Uma jornalista sugeriu, em artigo publicado no Estadão, que o STF
mantivesse a condenação de Lula e desconsiderasse as provas de parcialidade de
Moro. E por quê? Para evitar que Lula seja candidato em 2022, o que,
supostamente, favoreceria a candidatura de Bolsonaro. Reagi, nas redes sociais,
afirmando que, diante de tanta infâmia e covardia, restava ao PT reafirmar os
argumentos da defesa de Lula e relançá-lo à Presidência", prosseguiu o
ex-prefeito.
Ataque
ao estilo bolsonarista
"Em editorial, segunda-feira (4/1), este jornal resolveu me
atacar de maneira rebaixada. Incapaz de perceber na minha atitude a defesa do
Estado de Direito, interpretou-a como tentativa oportunista de eu próprio obter
nova chance de disputar a eleição presidencial, ou seja, que seria um gesto motivado
por interesse pessoal mesquinho. Simplesmente desconsiderou que, nos últimos
dois anos, em todas as oportunidades, inclusive em entrevista recente ao
jornal, defendi sempre a mesma posição, qual seja, a precedência da candidatura
de Lula", afirmou. "Ao me desqualificar mais uma vez, inclusive com
expediente discursivo desrespeitoso, ao estilo bolsonarista, esta Folha
demonstra pouca compreensão com gestos de aproximação e sacrifica as bases de
urbanidade que o pluralismo exige. Infelizmente, constato que, nos momentos
decisivos, a Folha, em lugar de discutir ideias, prefere agredir pessoas de
forma estúpida", pontuou.
"O jornal tem méritos que não desconsidero, mas não vejo
como manter uma colaboração permanente com este veículo. Por fim, a julgar pelo
histórico dos políticos que a Folha veladamente tem apoiado, penso que ela
deveria redobrar os cuidados antes de pretender deslegitimar alguém",
advertiu. Confira ainda o tweet de Haddad, que motivou o ataque do jornal:
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