Presidenta
do PT reafirma consequências trágicas de mais dois anos de governo Bolsonaro no
Brasil. E lembra que impeachment é um dos compromissos assumidos por Baleia
Rossi para apoio do PT pela presidência da Câmara
RBA - O Partido dos Trabalhadores (PT) subscreve quatro
dos até agora 61 pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro que
repousam sob análise na Mesa da Câmara dos Deputados, em Brasília. Mais um está
sendo fechado entre os partidos de oposição ao governo Bolsonaro, informa a
presidenta do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR.) Esse novo
pedido trata especificamente da responsabilidade de Bolsonaro pela
falta de oxigênio nas unidades de saúde em Manaus (AM), que levou a centenas de mortes por
covid-19 na última semana. Dias antes de o sistema entrar em colapso no Norte
do país, o ministro da Saúde de Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello, esteve na capital amazonense e pregou o uso de
cloroquina. Nenhuma medida foi adotada para evitar a falta de oxigênio em
Manaus.
Em dois anos de
governo, Bolsonaro é o presidente que mais coleciona pedidos de impeachment.
Razões não faltam, como demonstra série de
reportagens sobre o tema publicada pela Rede Brasil Atual. A deputada petista elenca
alguns deles: o atentado à democracia, às instituições; a apologia à tortura e
à ditadura; crime contra a saúde pública e contra as pessoas. “Essa é a mais
grave e objeto desse último pedido que estamos apresentando”, reforça Gleisi
Hoffmann.
Pressão
política contra a tragédia
Gleisi Hoffmann
avalia que serão trágicas para o Brasil as consequências de mais dois anos de
governo Bolsonaro. “São trágicas porque é um desgoverno. Bolsonaro não olha
para o povo, não está preocupado com os problemas do país. Não coordena
políticas para o enfrentamento da crise. Simplesmente deixa correr”, critica a
parlamentar com quase 32 anos de vida pública.
“Ele
está cumprindo exatamente aquilo que disse quando assumiu: fazer a
desconstrução de tudo que está aí. Isso nos preocupa muito. Por isso que a
gente tem insistido muito nessa pauta do impeachment, mesmo às vezes as pessoas
e lideranças políticas dizendo que não tem maioria no Congresso. Mas essa
maioria vai ter de ser construída com a pressão popular e a pressão política.”
A
presidenta do PT sabe que a oposição sozinha não tem força para fazer caminhar
um pedido de impeachment. “Tem sim condições políticas de pressionar e é o que
nós estamos fazendo desde o início desse mandato do Bolsonaro, por saber quem
ele é. E mais ainda agora, referendados pelos desmandos e pelo desgoverno que
ele está fazendo”, diz. “Além de tudo, crime contra a saúde pública e contra o
povo. Estamos pressionando e acho que esse tema está crescendo, tá mobilizando
a sociedade. E nós vamos apostar nessa pressão política e também na
mobilização.”
Impeachment
de Bolsonaro crescendo
O tema
realmente começa a ganhar corpo. Pesquisa
realizada pela XP/Ipespe mostra que a avaliação negativa – ruim
e péssimo – do governo Jair Bolsonaro subiu de 35% para 40%, na comparação com
o levantamento anterior, de 20 de dezembro. Ao mesmo tempo, o percentual de
entrevistados que o consideram ótimo e bom caiu de 38% para 32%, enquanto 26%
classificam o governo como regular. O aumento da rejeição e a queda na
aprovação estão associados à atuação de
Bolsonaro no “combate” à pandemia de covid-19.
Para 52% dos entrevistados, a gestão da crise de saúde causada pelo coronavírus
é ruim ou péssima, 4 pontos percentuais a mais do que em dezembro.
Reportagem
da Folha de S.Paulo desta
terça-feira também revela que líderes de partidos centristas, inclusive do
centrão que sustenta Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, já discutem “com
desenvoltura” o tema do
impeachment. O “isso não tem chance de acontecer” estaria sendo
substituído pelo “olha, depende”, nas conversas entre os parlamentares.
Até o
desaparecido jurista Miguel Reale Júnior, corresponsável pelo impeachment sem
crime de responsabilidade da presidenta Dilma Rousseff, falou hoje em interdição
de Jair Bolsonaro por insanidade mental. “O impeachment é um remédio. O
impeachment existe para ser um remédio em casos graves. E estamos diante de um
caso grave. Outro caminho é a abertura de um processo criminal, pois há uma
coletânea de crimes nos quais ele poderia ser enquadrado: crimes contra a
saúde, crimes contra a democracia. E há uma opção da interdição, que pode ser
pedida pela família ou pelo Ministério Público. Diante de todo esse quadro,
quem pode pedir o exame de sanidade mental é o Ministério Público, que tem que
salvaguardar o Brasil”, disse ao site O Antagonista.
Baleia
e o impeachment de Bolsonaro
A presidenta
do PT classifica como “muito ruim” a postura do ainda presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que durante dois anos não levou adiante
nenhum dos pedidos de impeachment contra o atual presidente da República.
“Cobramos diversas vezes do Rodrigo Maia instauração da Comissão Especial de
Impeachment. Espero que agora, na abertura dos trabalhos do Congresso ou na
convocação extraordinária que estamos pressionando para fazer, a gente possa
ter esse tema de maneira mais objetiva nas discussões.”
A
deputada lembra que esse é um dos compromissos assumidos pelo deputado Baleia
Rossi (MDB-SP), que disputa a presidência da Câmara com apoio do PT e outros
partidos de oposição a Bolsonaro. “Baleia Rossi tinha dado uma entrevista à Folha de S.Paulo que foi ruim, dizendo
que o impeachment fazia mal ao Brasil. Cobramos o posicionamento dele, porque
na carta compromisso assinada, um dos itens está o de não abrir mão de nenhum
dos itens que a Constituição oferece para fiscalizar e também barrar ações indevidas
do Poder Executivo. Entre elas o impeachment”, ressalta Gleisi.
“Ele se
retratou, disse que vai manter o compromisso, que não vai tirar do foco de
discussão e que vai tratar isso com clareza e objetividade. E eu espero que
isso aconteça. Com certeza, após a eleição (para a presidência da Câmara do
Deputados) é um dos itens que vamos debater com Baleia Rossi e o conjunto das
lideranças partidárias que o apoiaram. O impeachment tem de ser avaliado. Então
nós vamos botar muita pressão este ano para isso acontecer.”
Risco
EUA
Para a
presidenta do PT, o que ocorreu nos Estados Unidos, com a tentativa de golpe do
presidente Donald Trump, pode acontecer no Brasil em 2022. E, por isso, debater
o impeachment do presidente Jair Bolsonaro é tão importante, já que a situação
do Brasil é ainda pior, considera Gleisi Hoffmann. “Os Estados Unidos ainda têm
instituições mais fortes, as Forças Armadas não embarcaram nessa onda do Trump.
Mas aqui no Brasil a gente não tem essa certeza. Temos fragilidade
institucional e temos de considerar que as Forças Armadas estão no governo
Bolsonaro.”
Gleisi
avalia ainda que uma tentativa de Bolsonaro de desestabilizar o processo
eleitoral ou alimentar a dúvida pode ter apoio sim das Forças Armadas ou de uma
base armada no Brasil inteiro. “São as bases das polícias militares e também
das milícias. Isso nos preocupa muito. Por isso é importante fazer o confronto
com Bolsonaro desde já, fazer esse enfrentamento. Por isso é tão importante o
impeachment.”
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