"A partir de hoje o Brasil exercerá plenamente sua soberania, não para oprimir quem quer que seja, mas para promover a integração da América Latina, a cooperação com a África, relações econômicas equilibradas e democráticas entre os países, defender o meio ambiente e a paz mundial", disse ele, em discurso paralelo
Por Luiz Inácio Lula da Silva – As únicas palavras sensatas do discurso de Jair Bolsonaro
hoje na ONU foram as primeiras: o mundo precisa mesmo conhecer a verdade. Mas
na boca de uma pessoa que não tem compromisso com a verdade até esta frase soa
falsa
O
que se esperava ouvir hoje de um presidente são coisas simples, que estão
indicadas no Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, apresentado ontem
pelo Partido dos Trabalhadores. Algo assim:
Senhoras e senhores desta
Assembleia, O Brasil se envergonha de ter tido, ao longo desta gravíssima
pandemia, um governo que ignorou a ciência e desprezou a vida, o que resultou
em mais de 136 mil mortes e milhões de contaminados pela Covid.
Queremos anunciar que, a
partir deste momento, vamos realizar testes em massa na população para conhecer
as verdadeiras dimensões da pandemia e enfrentá-la.
Vamos recompor o Orçamento
da Saúde para ter hospitais, médicos, enfermeiros e remédios; investir o que
for necessário para salvar vidas.
Vamos manter o auxílio
emergencial de R$ 600 e instituir o Mais Bolsa Família, para que este valor
seja pago mensalmente a todas as famílias vulneráveis.
Os
bancos públicos abrirão imediatamente crédito para as pequenas empresas.
Retomaremos já as obras paradas para reativar a economia e gerar empregos.
O governo brasileiro nunca
mais fará propaganda enganosa de remédios sem comprovação científica nem
voltará a desmoralizar medidas coletivas de prevenção.
A partir de hoje, estamos
decretando o Desmatamento Zero da Amazônia. Três anos de proibição total de
queimadas e derrubadas, para que a natureza tenha tempo de se recuperar da
destruição.
Convocamos
as Forças Armadas para combater o incêndio do Pantanal, a começar pelos 4 mil
hoje deslocados para fazer provocação militar irresponsável em nossa fronteira
com a Venezuela.
Os povos indígenas são
irmãos da natureza e guardiões do meio ambiente. Terão prioridade nas ações
emergenciais de saúde. Seu território e suas culturas voltarão a ser
respeitados, com a retomada das demarcações de reservas e terras indígenas.
Os cientistas e os
agricultores brasileiros desenvolveram a mais avançada tecnologia para o
cultivo de grãos e produção de proteína animal.
Este conhecimento, a partir
de hoje, voltará a ser utilizado em benefício da segurança alimentar do planeta
e do povo brasileiro, de maneira social e ambientalmente sustentável. A partir
de hoje está proibido em nosso território o uso indiscriminado de insumos e
sementes que representam risco à saúde humana.
Não é preciso destruir para
botar comida na mesa. É preciso, sim, entregar terra, tecnologia e
financiamento a centenas de milhares de famílias que trabalham no campo para
alimentar as cidades.
Estamos criando hoje um
banco de terras públicas para retomar a reforma agrária no Brasil. E reativando
o financiamento da agricultura familiar.
É desta forma, garantindo
segurança alimentar para nossa população e produzindo com abundância, respeito
ao meio ambiente e à saúde humana, que o Brasil quer contribuir para saciar a
fome no mundo.
Senhoras e senhores,
Esta
assembleia foi criada, ao final da mais devastadora guerra de todos os tempos,
para construir a paz, promover a educação, a saúde, o trabalho digno, a
produção de alimentos e o equilíbrio nas relações econômicas.
Passados 75 anos, não
tivemos sequer um dia sem guerras. O colonialismo deu lugar a outro tipo de
dominação, ditada pela concentração de capitais e a especulação financeira. O
acesso à educação e saúde é uma miragem para a imensa maioria. As relações de
trabalho regridem ao que eram no século 19.
E, vergonha das vergonhas:
800 milhões de crianças passam fome todos os dias, no mesmo planeta em que uns
poucos privilegiados nem sabem como gastar – ou sequer como contar – suas
inacreditáveis fortunas.
Como alertou papa Francisco:
“Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na
desigualdade”.
No Brasil, a partir de hoje,
tudo que o estado fizer será no sentido de reverter séculos de desigualdade, o
racismo estrutural que nos legou a escravidão, o patriarcado que discrimina as
mulheres, superar o preconceito, a fome, a pobreza, o desemprego.
A
partir de hoje o Brasil exercerá plenamente sua soberania, não para oprimir
quem quer que seja, mas para promover a integração da América Latina, a
cooperação com a África, relações econômicas equilibradas e democráticas entre
os países, defender o meio ambiente e a paz mundial.
O Brasil quer para si o que
deseja para todos os povos do planeta: soberania, autodeterminação, acesso
compartilhado ao conhecimento, às vacinas e medicamentos imprescindíveis,
regras justas de comércio, ação internacional efetiva para o desenvolvimento e o
combate à pobreza no mundo.
O Brasil quer para todos
democracia, paz e justiça.
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