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Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu aprovou moção que pede
para a União Europeia impor mais exigências de proteção ao meio ambiente em
suas importações – e o alvo é o Brasil de Bolsonaro e Mourão
Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro; vista aérea de área desmatada da Amazônia em Itaituba, no Pará (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | REUTERS/Ricardo Moraes) |
Sputnik – Uma moção do Parlamento Europeu pedindo que a União
Europeia seja mais rigorosa em questões ambientais em suas importações tem o
Brasil como "alvo preferencial", disse especialista à Sputnik Brasil.
Na quarta-feira
(9), a Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu aprovou moção
que pede para a União Europeia impor mais exigências de proteção ao meio
ambiente em suas importações e na hora de fechar acordos comerciais.
A comissão recomenda "que todos os
novos acordos comerciais ou de investimento e as atualizações dos já existentes
incluam disposições ambientais e climáticas mais ambiciosas em relação à
conservação e à gestão sustentável das florestas, incluindo proteção dos povos
indígenas e direitos das comunidades locais".
Além disso, a moção diz que a União
Europeia (UE) é um importador significativo de "commodities com risco
ambiental e florestal", por isso deve garantir que sua demanda e
investimentos sigam política de economia responsável, "sem estimular
desmatamento nem violações dos direitos humanos".
'Forte efeito político'
Para Leonardo Trevisan, professor de
Relações Internacionais da ESPM/SP (Escola Superior de Propaganda e Marketing
de São Paulo), apesar de a moção ser apenas uma recomendação, sem efeitos de
lei, ela pode causar prejuízos econômicos e políticos para o Brasil.
"Infelizmente,
tudo indica que o Brasil é o alvo preferencial dessa recomendação, que não é
uma ação concreta e decisiva do Parlamento, mas tem um forte efeito político,
por incluir um pedido para que a questão dos acordos comerciais contenha uma
auditoria de sustentabilidade", afirmou o especialista em história das
relações internacionais e em geoeconomia internacional.
Em razão disso, a moção pode ser mais um
fator complicador para a concretização do acordo comercial entre o Mercosul e a
União Europeia. Diante dos altos índices de desmatamento e queimadas na
Amazônia, alguns países da Europa sinalizaram que podem não ratificar o
acordo.
"Não é possível esquecer que no dia
21 de agosto, [Angela] Merkel foi muito clara em avisar que tinha sérias
dúvidas de que o acordo poderia ser efetivamente promulgado como planejado,
logo depois que o mundo ficou sabendo que os incêndios florestais no Brasil em
junho eram 28% maiores na comparação com julho de 2019", ponderou o
especialista.
Atenção da
centro-direita às questões ambientais
Segundo Trevisan, líderes europeus de
centro-direita, como a chanceler da Alemanha e o presidente francês, Emmanuel
Macron, estão bastante atentos às pautas dos parlamentares verdes no
continente.
"Essa moção é produto de uma espécie
de atenção especial da centro-direita europeia às questões ambientais. A
centro-direita só consegue ter o controle do Parlamento Europeu porque tem o apoio
dos verdes, como as últimas eleições provaram. Os verdes são 16% do
Parlamento", explicou.
Além disso, ele diz que a medida poderia
até mesmo, por seu "efeito simbólico", afetar as exportações de
produtos agrícolas.
"Não há dúvida alguma de que essa
moção, com todo seu efeito simbólico, pode afetar sim as nossas exportações,
agrícolas principalmente. O alerta é forte para o Brasil, porque de algum modo
a Europa está bastante preocupada em qual será o perfil de crescimento dela na
pós-pandemia", afirmou o professor.
Brasil deve
prestar atenção à Europa
Segundo o especialista, o governo
brasileiro deve prestar muita atenção à questão ambiental e à União Europeia,
que se tornou o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com forte queda das
vendas, em razão da pandemia do coronavírus, para os Estados Unidos,
"apesar de todas as aproximações de nossa política externa" a
Washington.
“Não há dúvida alguma, que se nós não quisermos ficar muito
dependentes do mercado chinês, da demanda chinesa, com todo o preço político
que isso vai implicar para o Brasil, nós temos que prestar atenção também aos
movimentos do nosso segundo parceiro comercial", avaliou Trevisan.
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