Em
editorial, o jornal lembra que o desvio de salários de servidores públicos para
pagar gastos pessoais da família caracteriza uma série de infrações, tais como
peculato, concussão e improbidade administrativa
Presidente Jair Bolsonaro chega para declaração à imprensa no Palácio do Alvorada 12/08/2020 (Foto: REUTERS/Adriano Machado) |
247 – O jornal O
Estado de S.Paulo, que assim como O Globo e também a Folha de S.Paulo, apoiou o golpe de
estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff e a prisão política do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fenômenos que permitiram a ascensão de
Jair Bolsonaro, que hoje ameaça "dar porrada" em jornalistas, afirma,
em editorial, que ele se torna selvagem porque
não resposta para seus escândalos de corrupção.
"Não é nada fácil ser moderado quando
se é Jair Bolsonaro. Para quem fez carreira política na base da ofensa
explícita a adversários e ao decoro, interpretar um personagem discreto e
ponderado como o que o presidente incorporou nas últimas semanas deve demandar
um esforço quase sobre-humano. Mas a natureza, cedo ou tarde, se manifesta, e o
presidente Bolsonaro voltou a ser quem sempre foi, ao dizer a um jornalista, no
domingo passado, que estava com 'vontade de encher a tua boca com uma porrada'.
Tudo porque o repórter lhe havia feito uma pergunta incômoda", aponta o
texto.
"Que pergunta foi essa, afinal, que
causou reação tão truculenta de um presidente que, conforme a crônica política
de Brasília, havia se metamorfoseado em democrata de uns dias para cá? O
repórter, do jornal O Globo, perguntara a Bolsonaro que explicação ele tinha
para os depósitos de R$ 89 mil em cheques na conta da primeira-dama Michelle
Bolsonaro, feitos por Fabrício Queiroz e pela mulher deste, Marta Aguiar.
Fabrício Queiroz, como se sabe, é o pivô do escândalo da 'rachadinha'. Além de
sua flagrante imoralidade, tal conduta caracteriza uma série de infrações, tais
como peculato, concussão e improbidade administrativa", aponta ainda o
texto.
"Bolsonaro escolheu ofender os repórteres que o
questionam a respeito desses negócios esquisitos – ainda ontem, voltou a atacar
jornalistas, chamando-os de 'bundões' (covardes, no dialeto dos valentões). Se
tivesse uma boa explicação, o presidente certamente já a teria dado, sem
recorrer à selvageria. Como aparentemente não tem, faz o que sabe fazer melhor:
parte para a intimidação. É inútil, pois a pergunta incômoda continuará a ser
feita, até que haja uma resposta convincente – dada ou pelo presidente ou pela
Justiça", finaliza o editorialista.
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