Rede de proteção
contra a violência doméstica alia-se a grupo de advogadas e chama atenção para
o problema. Paraná ocupa o terceiro lugar no ranking nacional deste crime
(Fotos: PMA) |
A tarde desta
sexta-feira (31/7) teve movimento incomum pelas vias de tráfego da cidade: em
diversas ruas do centro foi possível ver um comboio de carros com balões de gás
rosa e lilás, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal acionando
sirenes, chamando a atenção para veículos da secretaria da Mulher e de Assuntos
da Família expondo cartazes de combate ao feminicídio. A carreata reuniu cerca
de 50 veículos e teve duração de uma hora, com início e fim em frente à
Delegacia da Mulher.
O Paraná, terceiro Estado no ranking
nacional de assassinatos de mulheres (feminicídio), ou seja, assassinatos
cometidos por questão de gênero, decidiu fazer frente à esta situação,
realizando um conjunto de ações ao longo de julho, visando sensibilizar a
sociedade a respeito do crime. “Quero lembrar que esse é um crime considerado
qualificado, hediondo, que deve render ao agressor de 12 a 30 anos de cadeia”,
adverte a secretária da Mulher Denise Canesin.
O juiz Oswaldo Soares Neto, diretor do
Fórum de Apucarana, ressaltou a importância vital da rede de combate à
violência doméstica. “Quero dizer a todos que a rede em Apucarana é muito unida
e funciona”, afirmou. Ele lembrou que em julho de 2020 completaram-se 14 anos
da Lei Maria da Penha que, segundo ele, “é um instrumento legal que veio dar
maior proteção concreta às mulheres em situação de violência doméstica”,
destacou.
“Hoje Apucarana tem grande união das
instituições, temos aqui a delegada da Mulher Sandra Nepomuceno, a
secretária Municipal da Mulher, Denise Canesin, um grupo de mulheres advogadas,
o Poder Executivo Municipal, a Guarda Municipal, a Polícia Militar, o Poder
Judiciário: todos unidos, mostrando que em Apucarana temos uma forte rede de
proteção à mulher, que ela tem a quem denunciar a violência que está sofrendo.
Denuncie, saia do ciclo de violência”, invocou o juiz.
Violência
doméstica
A Polícia Militar recebeu mais de mil
ligações para o 190 apenas nos seis primeiros meses do ano. Houve nesse período
um aumento de 64% das ocorrências com lesões corporais. A secretária Denise
Canesin ressalta que as campanhas propondo ações de combate à violência, que
vêm sendo divulgadas ao mesmo tempo, também levam ao crescimento dos números,
porque há crescente número de denúncias.
“O feminicídio tirou a vida de 50 mil
mulheres entre 2000 e 2010. Temos que fazer entender que a violência é uma
escalada sim, que pode terminar em tragédia, como acontece, infelizmente, com
muita frequência”, afirmou. “Sim, os números aumentaram muito nesse primeiro
semestre. Para dar uma ideia em números locais, o CAM costuma atender cerca de
18 casos novos por mês, isto é, de mulheres que nunca passaram por atendimento.
No mês passado, houve 43 novos atendimentos”, disse.
Números
alarmantes
Os números que descrevem a violência
contra as mulheres no Brasil apontam para a existência de um problema agudo e
de longa duração. A violência fatal atingiu cerca de 50 mil mulheres em uma
década, com uma taxa de morte de 4,6 por 100 mil habitantes.
Na abertura da carreata, o prefeito Junior
da Femac salientou que a mulher, no município, não está sozinha, e pode contar
com atenção especial da cidade que não tolera violência contra ela. “É muito
importante destacar que você, mulher, não está sozinha em Apucarana. Desde
2013, nossa gestão tem uma preocupação constante com a mulher, prova disso está
nos equipamentos municipais como o CAM, como a Secretaria da Mulher, como a
Patrulha Maria da Penha. Saímos na frente em todo o Estado com o lançamento do
botão do pânico”, destacou o prefeito.
Junior assinalou ainda que a violência não
escolhe raça, classe social, religião. “A voz de tantas mulheres que não têm
voz está hoje aqui presente entre nós, nessa carreata. O machismo, formado por
uma classe de valentões, faz com que os homens sejam pôneis fora de casa e
cavalos com a mulher. Nós estamos aqui para lembrar: feminicídio é crime e como
tal será punido”, disse.
Uma
prisão por dia
A delegada da Mulher, Sandra Nepomuceno,
lembrou que na Polícia Civil os números também chocam. “Nos primeiros seis
meses do ano tivemos uma prisão por dia da semana, 22 prisões por mês por
violência doméstica contra a mulher. São números muito altos, que assustam”,
ressaltou. Para ela, as denúncias também cresceram durante a pandemia. “O
isolamento social, o desemprego e a questão financeira são os maiores motivos
do aumento de denúncias”, realçou.
A advogada Franciele Gonçalves foi a
principal articuladora da carreata em Apucarana. Ela disse ter ficado feliz com
o resultado. “Muita gente participou, tive a colaboração de colegas advogadas,
foi uma iniciativa de fato importante para a mulher de nossa cidade, que
mostrou como somos intolerantes com os agressores, e como não mediremos
esforços, como comunidade municipal, para barrar a violência contra a mulher”,
concluiu.
Serviço:
A Secretaria da Mulher e Assuntos da
Família atende de segunda à sexta-feira, das 8 às 17h, no CAM (atendimento
presencial) ou pelos telefones
(43)
3422-4479 e pelo 0800-6454479
Todos os atendimentos são sigilosos e
gratuitos. Há equipe multiprofissional capacitada para prestar esclarecimentos
e ajudar nos encaminhamentos, com assistente social, psicóloga e advogada.
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