quinta-feira, 30 de julho de 2020

Brasil está perto de 100 mil mortes na pandemia e há indiferença em massa


“É como se estivéssemos anestesiados frente ao grande número de mortes”, diz o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, sobre a onda de indiferença em massa enquanto o Brasil aproxima-se dos 100 mil mortos pelo coronavírus
Cemitério Parque Tarumã, em Manaus
Cemitério Parque Tarumã, em Manaus (Foto: REUTERS/Bruno Kelly)

247 - O país aproxima-se dos 100 mil mortos pelo coronavírus e grassa a indiferença. “É como se estivéssemos anestesiados frente ao grande número de mortes”, avalia o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Mackenzie. “Depois de um período de crise, todos clamam pela volta do normal e, até como sentido de autodefesa, a pessoa para de olhar o número de mortes. Cansadas, tristes, chegam à conclusão de que a vida tem de seguir, daí o termo novo normal. Estamos vivendo a normalidade dentro da anormalidade”, disse ele ao jornalista José Maria Tomazela, de O Estado de S.Paulo.
O total de mortes diárias pelo coronavírus é o equivalente à queda de três grandes aviões comerciais lotados, mas o número não choca mais. Nesta quarta-feira (29), o número de mortes chegou a 90,2 mil, mas há enorme descumprimento às regras de isolamento social e volta à rotina em praias, restaurantes e festas, como se o Brasil estivesse à margem da tragédia mundial. Embora a média oscile, o país está próximo de mil mortos por dia desde o começo de junho. Assiste-se pressão velada e escancarada do empresariado para a reabertura total dos comércio e a “normalização” da atividade econômica.
O país se mantém acima das mil mortes diárias há seis semanas, desde meados de junho. Para o filósofo Roberto Romano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pandemia realça a “tremenda ambivalência” humana. “Temos ao mesmo tempo gestos magnânimos, simpatias e heroísmo, mas também momentos de pequenez, egoísmo, auto satisfação com a maldade, o prazer em fazer o mal”, afirma. “Essa duplicidade depende muito das condições de comunicação, visualidade e proximidade do fato. Se um parente próximo estiver no Boeing que caiu, a reação é de consternação, tristeza e até de revolta. Quando o fato não está no campo visual, de percepção imediata, essa reação se torna cada vez mais tênue.”
No caso da pandemia, acredita Romano, a notícia das mil mortes é apenas um número: “Você não vê aquilo acontecendo, como os destroços de um Boeing, das Torres Gêmeas (atentado em Nova York, de 2001)”.
O cenário de indiferença pode sofrer um abalo quando o Brasil chegar aos 100 mil mortos, mas é incerto. 


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