Guilherme
Boulos rebateu artigo de Luiz Eduardo Soares, que quer o cancelamento das
manifestações antifascistas marcadas para o próximo domingo pelo temor da
presença de agentes provocadores. "Discordo em relação às manifestações de
domingo", escreveu o líder do MTST, do PSOL e da Frente Povo Sem Medo.
"O que vimos na semana passada, puxado por torcedores organizados, foi um
passo fundamental na resistência ao fascismo: a demonstração de que a rua não é
deles."
Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Pam Santos) |
Por Guilherme
Boulos, coordenador do MTST - Tenho muito respeito por Luiz Eduardo, um
intelectual de primeira linha e uma figura humana extraordinária. Como ele,
tenho grande preocupação com a ascensão do fascismo bolsonarista e não
considero as liberdades democráticas simples formalidades. Foram conquistadas
com sangue e luta de toda uma geração de brasileiros. Mas discordo em relação
às manifestações de domingo. O que vimos na semana passada, puxado por
torcedores organizados, foi um passo fundamental na resistência ao fascismo: a
demonstração de que a rua não é deles. Não basta sermos maioria na
sociedade.
Não basta assinarmos manifestos unitários,
que julgo importantes, aliás subscrevi todos. Mas a hegemonia fascista, mesmo
minoritária, se afirma nas ruas. Foi assim com os Camisas Negras de Mussolini e
com as milícias hitleristas. Poderia ter sido assim com os integralistas de
Plinio Salgado no Brasil se os comunistas não os tivessem enxotado das ruas. Se
normalizamos gente defendendo AI-5 e agredindo opositores, jornalistas e
enfermeiras em praça pública, daqui a pouco não teremos condições de dar as
caras. Sei que a questão não é simples. Além do mais, estamos em meio a uma
pandemia. Mas na conversa entre os organizadores da manifestação do próximo
domingo, ao menos em São Paulo, haverá um enorme esforço para manter o
distanciamento e as precauções sanitárias.
O Povo Sem Medo organizou uma brigada de
saúde para isso com centenas de voluntários. O MTST vai distribuir 4 mil máscaras
na Avenida Paulista, feitas pelas cooperativas de costureiras do Movimento. A
orientação da organização do ato será uma manifestação pacífica e de inibir
infiltrados. Claro que sempre há um risco. Devemos fazer de tudo para
minimizá-lo. Mas, convenhamos, o outro lado não precisa de pretextos nossos
para endurecer. Se ficarmos parados tampouco temos qualquer garantia.
Eles sempre
produziram os próprios pretextos. Lembremos do Rio Centro, em 1981, quando
oficiais do Exército contra a democratização iriam explodir bombas no festival
do Dia do Trabalhador para culpar a esquerda. Não funcionou por imperícia. Ou
do plano de explodir o gasômetro de São Cristovão, em 1968, em nome dos
comunistas, só evitado pela denúncia de um oficial da Aeronáutica. É a velha
tática que os nazistas inauguraram no incêndio do Reischtag.
Bolsonaro avança na escalada autoritária.
Sei dos riscos, mas não creio que se deixarmos as ruas para eles estaremos
impedindo essa marcha. Por isso, o MTST e o Povo Sem Medo estarão nas ruas no
domingo. E eu também estarei lá.
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