Pesquisadores
que investigam os efeitos da cloroquina no tratamento da Covid-19 estão
sofrendo ameaças de morte em Manaus. "Filho da puta maldito. Deve ser
espancado quando pisar na rua!!" - escreveu um bolsonarista na rede social
de um dos cientistas. Motivo: a pesquisa não confirma o que diz Bolsonaro.
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Reprodução) |
247 - "Filho
da puta maldito. Deve ser espancado quando pisar na rua!!" e
"Assassino comunista fdp" -essas são algumas das ameaças que
cientistas do Amazonas estão recebendo nas redes sociais, de perfis
bolsonaristas fakes. Eles estão conduzindo uma pesquisa sobre o efeito da
cloroquina no tratamento do coronavírus e os resultados iniciais não confirmam
a propaganda de Jair Bolsonaro, que garante ser a droga um remédio milagroso
contra a infecção.
A pesquisa CloroCovid-19, é feita com 81
pacientes em estado grave internados em Manaus. Participam dela 70
pesquisadores de instituições como Fundação de Medicina Tropical (FMT), de
Manaus, a Fiocruz, a USP e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Os
pacientes foram divididos em dois grupos. Um grupo foi tratado com dosagem
baixa, adotada em um hospital dos EUA, e outro recebeu dose mais alta, adotada
na China, relata a Folha de
S.Paulo.
O objetivo, segundo os pesquisadores, é
"verificar se há ação benéfica da cloroquina, em comparação com dados de
outros estudos internacionais, nos quais pacientes em condições clínicas
semelhantes não usaram cloroquina". Os primeiros resultados foram
divulgados no dia 6 de abril em entrevista coletiva online de um pesquisador ao
lado do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). O cientista afirmou que os
pacientes "se beneficiaram discretamente" da cloroquina e que os
resultados encorajavam a continuidade, mas que, em dose mais alta, o medicamento
"pode, sim, dar arritmias graves e levar à morte".
No mesmo dia da
entrevista coletiva, a pesquisa suspendeu a dose mais alta porque "havia
tendência de mais efeitos colaterais nos pacientes em uso da maior dose".
Onze pacientes do grupo de alta morreram até agora, na maioria idosos
Depois da coletiva, diversos pesquisadores
passaram a receber ameaças, que estão sendo investigadas pela polícia. "O
debate não apenas está tendo forte viés ideológico, mas também prejudicando a
reputação de pesquisadores com forte tradição de pesquisa no Brasil e no mundo,
o que pode ser um efeito deletério grave em momentos como o que estamos
vivendo", afirmam os autores da pesquisa, em nota conjunta.
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