Mesmo sem a presença de
jornalistas responsáveis pelo escândalo da Vaza Jato, tema foi lembrado várias
vezes, mas Moro se manteve evasivo
Moro foi questionado sobre parcialidade em seu trabalho como juiz |
O ministro da
Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Sergio Moro, esteve no programa Roda Viva,
da TV Cultura, na
noite de ontem (20). Com respostas evasivas e com pontas soltas eu seu
discurso, o ex-juiz foi questionado sobre temas como escândalos no alto escalão
do governo, assassinato da vereadora Marielle Franco e, especialmente, sobre a #VazaJato.
Nenhum jornalista que trabalhou nas
publicações de mensagens vazadas – e que mostraram que a Lava Jato foi uma
operação coordenada por Moro para tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva da disputa eleitoral de 2018 – foi convidado para fazer parte da
bancada de entrevistadores. O caso repercutiu negativamente nas redes sociais
que, de forma espontânea, começaram uma campanha para pedir a presença de alguém do The
Intercept Brasil no programa. Não deu certo. De
acordo com editorial do veículo que iniciou as investigações que incriminam
Moro, os jornalistas presentes teriam passado por aprovação do ministro;,
o que foi negado pela âncora do programa, a jornalista Vera Magalhães, que
estreava na função.
A Vaza Jato revelou que Moro atuou com
parcialidade enquanto juiz federal de primeira instância, formando um conluio
com membros do Ministério Público Federal para atingir objetivos políticos a
partir da operação Lava Jato. Na prática, Moro atuou como chefe da operação e
não juiz imparcial.
Questões
Mesmo sem jornalistas responsáveis diretamente
pela Vaza Jato, o tema esteve presente em boa parte das perguntas. Como fala
decorada, Moro desdenhou do escândalo. “A Vaza Jato é um episódio menor, nunca
dei muita importância. Nunca entendi muito bem a importância daquilo. Foi
utilizado politicamente para soltar pessoas condenadas por corrupção e
enfraquecer o ministro”, disse.
Em outro momento, foi questionado sobre a
parcialidade em seu trabalho como juiz. Moro repetiu que os vazamentos que
deram origem à Vaza Jato são ilegais e devem ser desconsiderados. Por outro
lado, vazou ilegalmente conversas entre a ex-presidenta DIlma Rousseff (PT) e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em outro caso de evidente parcialidade,
Moro adiou um depoimento de Lula que estava previsto para acontecer pouco antes
das eleições de 2018, alegando que tal evento poderia ter influência no
processo (influência positiva para o PT). Contraditoriamente, o então juiz
quebrou o sigilo de uma delação antiga do ex-ministro petista Antônio Palocci,
que acabou publicada na imprensa seis dias antes do primeiro turno. Ou seja,
adiou algo que poderia favorecer o PT e divulgou o que poderia prejudicar.
Nas duas questões, Moro se esquivou.
“Quando fizemos o primeiro depoimento do Lula houve manifestações (…) No caso
do Palocci, ele já tinha dado o depoimento. Não vi nenhuma importância”, disse,
ao defender que o caso do Palocci foi “super dimensionado”.
Moro “liso”
Moro preferiu se esquivar de temas
“delicados”, como o escândalo de corrupção envolvendo o filho do presidente,
senador Flávio Bolsonaro e o caso Queiroz; a manifestação aberta de nazismo do
ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim; o caso de corrupção envolvendo o
secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten; os ataques de Bolsonaro
contra a liberdade de imprensa e jornalistas. “Não cabe ao ministro da Justiça
ser comentarista sobre tudo”, foi a resposta padrão de Moro. “Não vim aqui
falar sobre o presidente (…) cabe ao presidente fazer avaliações (…) Não
preciso ficar externando conselhos que dou ao presidente”, foram algumas de
suas respostas.
Enquanto isso…
Já que não foram convidados para o Roda
Viva, jornalistas do The Intercept Brasil estiveram ao vivo acompanhando todo o
programa e publicando comentários em suas redes sociais. Com audiência que
beirava as 14 mil visualizações simultâneas, rebateram as esquivas de Moro e
ainda deixaram uma série de perguntas que eles fariam se estivessem lá. Algumas
boas perguntas foram feitas pela “bancada oficial”, como afirmou o editor
executivo do veículo, Leandro Demori. A grande exceção foi Felipe Moura Brasil,
da Jovem Pan, que pouco participou e, quando falou, mais pareceu um assessor do
ministro, segundo os analistas.
Segue
algumas das perguntas do The Intercept Brasil que ficaram sem resposta:
§ O senhor acha a delação de Palocci fraca,
por que levantou sigilo seis dias antes das eleições? Nem mesmo o MPF aceitou
fechar delação.
PS. Foi perguntado e Moro não respondeu.
§ Deltan trouxe da Suíça, em segredo, um pen
drive com informações de contas bancárias. Ilegalmente. Um procurador pode ir
para um país estrangeiro sem autorização e usar no processo?
§ O senhor acha normal que procuradores
vazem informações para a imprensa para intimidar réus e delatores?
§ O que acha da Lava Jato ter acessado
clandestinamente o esquema de propinas da Odebrecht antes da autorização
judicial? Pode ser usado no processo?
§ Por que o senhor instruiu a Lava Jato a
não apreender os celulares de Eduardo Cunha? O que tinha nesses celulares? Ele
se declarou contra uma delação do Eduardo Cunha, pediu para ser informado.
Disse “Como sabe, sou contra”. Por que era contra? Por que instruiu agentes a
não apreender os celulares?
§ O senhor autorizou uma devassa na filha de
um investigado para tentar prendê-lo. Um cara que morava em Portugal. Há
relatos de pressão, inclusive, contra uma criança de 7 anos. Acha normal isso?
§ O que quis dizer com “In Fux We Trust”?
§ Como Deltan conseguiu ganhar 400 mil reais
em um ano, pelo menos, em palestras a partir da Lava Jato?
Fonte: RBA
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