Em carta,
mais de 40 grupos de liberdades civis afirmam que "o direito dos
jornalistas de reportar matérias-primas primárias que documentam a infração
oficial é uma questão de liberdade de imprensa criticamente importante".
"O MPF abusou de seu poder", dizem. Há "efeito assustador de tal
intimidação", acrescentam
Glenn Greenwald (Foto: Lula Marques) |
247 - Mais de 40
grupos de liberdade de imprensa e liberdades civis escreveram uma carta aberta
em repúdio à denúncia do Ministério Público Federal contra o jornalista do site
Intercept Brasil Glenn Greenwald. O documento foi organizado pela Fundação
Liberdade de Imprensa e Repórteres Sem Fronteiras.
"Essas acusações representam uma
tentativa direta de intimidar e retaliar contra Greenwald e The Intercept
Brasil por seus relatórios críticos", afirma a coalizão. "O direito
dos jornalistas de reportar matérias-primas primárias que documentam a infração
oficial é uma questão de liberdade de imprensa criticamente importante. O
Ministério Público Federal abusou de seu poder acusando Greenwald de fazer
exatamente isso", continua.
De acordo com o texto, "o efeito
assustador de tal intimidação legal permanece. Se essas táticas forem mantidas,
comprometeria a liberdade de expressão de todos os brasileiros, a liberdade de
imprensa e a liberdade de participar da democracia".
As organizações destacam que as ameaças
contra os jornalistas do Intercept Brasil "foram documentadas desde junho
passado, quando o The Intercept começou a publicar uma série de importantes
histórias de interesse público com base em um cache de mensagens vazadas do
Telegram entre funcionários públicos".
Segundo o texto, "os ataques a
Greenwald e The Intercept incluíram ameaças de morte específicas, desinformação
pública e processo criminal".
"Notavelmente, em agosto de 2019, em
uma opinião notável de um membro da mais alta corte do Brasil, ordenou que
qualquer investigação policial sobre Greenwald parasse e condenasse quaisquer
esforços como 'um ato inequívoco de censura' em violação à constituição do
país".
O Comitê para a
Proteção de Jornalistas, a Human Rights Watch, a ACLU, o Comitê de Repórteres
pela Liberdade de Imprensa, a Electronic Frontier Foundation e outras entidades
protestaram contra a denúncia.
Vaza Jato
Desde junho do ano passado, o Intercept
Brasil divulga reportagens com ilegalidades da Operação Lava Jato, através da
publicação de mensagens trocadas pelo ex-juiz e atual ministro da Justiça,
Sérgio Moro, com procuradores de Curitiba (PR).
Segundo as
matérias, Moro dava orientações sobre as acusações dos promotores, ou seja,
feria a equidistância entre quem julga e quem acusa. Chegou, por exemplo, a
sugerir a inversão da ordem das fases da operação, questionou a capacidade de
uma procurador em interrogar o ex-presidente Lula, e recomendou acréscimo de
informações na denúncia de um réu — Zwi Skornicki, representante da Keppel
Fels, estaleiro que tinha contratos com a Petrobrás.
Outras denúncias de irregularidades da
Lava Jato também caíram sobre o coordenador da farça-tarefa da operação, Deltan
Dallagnol. Em 2016, por exemplo, o procurador recebeu R$ 33 mil uma palestra da
empresa de informática Neoway, delatada por um lobista. Em vez de ser punida, a
empresa ofereceu tecnologia à força-tarefa.
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