Integrantes
da Operação Lava Jato ironizaram a morte da ex-primeira-dama, Marisa Letícia, e
o luto do ex-presidente Lula. É o que revelam mensagens vazadas pelo site The
Intercept, no novo capítulo da Vaza Jato
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(Foto: REUTERS/Nacho Doce) |
247 - Em 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC
hemorrágico. A internação no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é comentada
em chat no aplicativo Telegram.
Quando foi
confirmada a morte encefálica da ex-primeira-dama, em 3 de fevereiro de 2017, a
procuradora da República Laura Tessler, do MPF (Ministério Público Federal) em
Curitiba, sugere que Lula faria uso político da perda da mulher.
Minutos após a confirmação da morte de
Marisa Letícia ser noticiada, o tema volta a ser comentado no chat entre os
procuradores da Lava Jato.
Após nota da colunista do jornal Folha de
S.Paulo Mônica Bergamo sobre a agonia vivida por Marisa em seus últimos dias de
vida ter sido compartilhada no grupo, a procuradora Laura Tessler refuta a
possibilidade de o agravamento do quadro da ex-primeira-dama ter acontecido
após busca e apreensão na casa dela e dos filhos e condução coercitiva de Lula,
determinada pelo então juiz Sergio Moro no ano anterior.
"Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a
pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do
Lula", afirma Laura.
Na mesma conversa, o procurador Januário
Paludo, que também integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, coloca sob
suspeita as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. "A propósito,
sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E
a segunda morte em sequência", diz ele, sem especificar à qual outra morte
se referia.
A suspeição em relação às circunstâncias
da morte da ex-primeira-dama já havia sido exposta por Paludo em 24 de janeiro
de 2017, quando Marisa Letícia fora internada. Na ocasião, o chefe da
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirma que Marisa
havia chegado debilitada ao hospital. "Um amigo de um amigo de uma
prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal",
afirma Deltan. Paludo reage à frase dizendo: "Estão eliminando as
testemunhas".
Em 4 de fevereiro,
o corpo de Marisa Letícia foi velado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
A fala de Lula na despedida da mulher é compartilhada pela procuradora Laura
Tessler no chat.
Na ocasião, Lula afirmou: "Eles que
têm que provar que as mentiras que estão contando são verdade. Então, Marisa,
descanse em paz porque esse Lulinha paz e amor vai continuar brigando
muito".
Deltan define a manifestação de Lula como
"uma bobagem". "Bobagem total... nguém mais dá ouvidos a esse
cara", diz.
O tema volta ao
grupo no dia seguinte, quando o procurador Antônio Carlos Welter diz que
"a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra
gandaia sem culpa ou consequência politica".
A morte de Marisa também foi comentada por
outros integrantes do MPF em chats no Telegram. Ainda em 4 de fevereiro, a
procuradora da República Thaméa Danelon, da força-tarefa da Lava Jato em São
Paulo, critica a participação da procuradora Eugênia Augusta Gonzaga no velório
da ex-primeira-dama, o que, para ela, equivaleria a ir ao enterro da
"esposa do líder de uma facção do PCC".
"Olhem quem estava no velório da Ré
Marisa Leticia", escreve às 14h07 no grupo Parceiros/MPF - 10 Medidas, ao
citar fotografia de Eugênia na cerimônia. Outros procuradores questionam qual
seria o problema da presença no velório de Eugênia Gonzaga, que chefiou a
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos de 2014 até o começo
de agosto. "Acho um desrespeito ao Janot e a todos os colegas
envolvidos na LJ. Além disso, demonstra partidarismo. Algo q temos q evitar
Apenas isso. Abraços", responde Thaméa às 15h16. Ela se referia a Rodrigo
Janot, então procurador-geral da República. "É como um colega ir ai
enterro da esposa do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado",
compara.