Em nova
entrevista, o empresário Marcelo Odebrecht diz que Operação Lava Jato foi o
estopim para o colapso da companhia, hoje em recuperação judicial, mas afirma
que a empresa errou ao acreditar que os fins justificam os meios, ao falar
sobre o caixa dois que vinha desde a década de 80. Ele também negou corrupção
no BNDES e favorecimentos nos governos de Lula e Dilma
(Foto: Reprodução) |
247 – O empresário
Marcelo Odebrecht concedeu nova entrevista,
desta vez ao jornalista Thomas Traumann, em que admitiu seus erros e falou
sobre o impacto da Lava Jato na companhia, que era o maior grupo de engenharia
do Brasil e hoje se encontra em recuperação judicial. "É fácil dizer que o
que quebrou a Odebrecht foi a Lava-Jato. Sim, a Lava-Jato foi o gatilho para
nossa derrocada, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa crise menor, mas mais
bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais
sustentáveis. Só que nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato. A
Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato",
diz ele.
Na entrevista, Marcelo negou que houvesse corrupção no BNDES e que
ex-presidentes Lula e Dilma tivessem tomado ações concretas para favorecer a
empresa. "Não havia uma preferência nem de Lula, nem de Dilma para fazer
tal empresa crescer. O que havia eram políticas públicas influenciadas e
disputadas por vários setores e empresas. A Odebrecht já era, desde a década de
1990, a maior exportadora de serviços do Brasil. No governo Lula houve uma boa
política pública de incentivo à exportação de serviços e nós, pela nossa
presença internacional, fomos os maiores beneficiários", afirmou.
O empresário, no
entanto, afirmou que a empresa errou ao ser tolerante com o caixa dois, que
vinha desde a década de 80. "Nós, porém, sempre fomos tolerantes com o
caixa dois. E não faltavam motivos para justificá-lo. Seja porque o político
tinha uma referência de orçamento oficial de campanha que não queria
ultrapassar, seja porque o político não queria aparecer recebendo muito
dinheiro de uma empresa com interesses na região, ou cujos projetos ele
defendia. A própria empresa, por sua vez, também não queria aparecer, porque
havia uma criminalização na mídia com relação às contribuições oficiais de
campanha", afirma. "Nós, da Odebrecht, cometemos nossos dois grandes
pecados: a falta de transparência do caixa dois, e a crença de que os fins
justificavam os meios."
"Um dos pontos positivos dessa década
é que sairemos dela com menos governo. Quanto menos o empresário tiver que
viajar para Brasília para defender seus interesses, quanto menos governo tiver
dificultando a vida do empresário, - aquela dificuldade criada para vender
facilidade - menos problemas teremos. A melhor maneira que você tem de evitar
de ter relações indevidas entre a iniciativa privada e o governo é ter menos
governo", disse ainda o empresário.
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