A Sputnik Brasil entrevistou o advogado de defesa do sargento, Carlos
Alexandre Klomfahs, que relatou a situação atual do processo. "Nós estamos
mais preocupados com a parte militar porque só de a gente provar que foi uma
armadilha feita para ele, por alguma razão desconhecida", explica o
advogado
(Foto: Sputinik) |
Sputinik – A prisão do
sargento da FAB, Manoel Silva Rodrigues, na Espanha, transportando drogas em
comitiva que acompanhava o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, causou grande
constrangimento. Para a defesa, foi tudo uma armadilha.
O
caso, que aconteceu durante viagem de Bolsonaro ao G20, em junho, chamou atenção de todo o Brasil, quando
39 kg de cocaína foram encontrados com o sargento no voo da FAB.
Na sexta-feira (23) se
esgotou o prazo para conclusão do inquérito. Até agora, poucas informações
adicionais foram reveladas sobre o caso que constrangeu o governo dentro e fora do
Brasil.
A Sputnik Brasil entrevistou
o advogado de defesa do sargento, Carlos Alexandre Klomfahs, que relatou a
situação atual do processo.
Segundo o advogado, o
sargento responde no Brasil a dois processos. Um inquérito policial militar
busca provas de que o sargento cometeu o crime de tráfico em serviço. Já a
Polícia Federal investiga suspeitas de crime organizado.
"Nós
estamos mais preocupados com a parte militar porque só de a gente provar que
foi uma armadilha feita para ele, por alguma razão desconhecida, esse é o
principal", explica o advogado à Sputnik Brasil. Ele acredita que a
inocência na investigação militar impediria o processo da Polícia Federal.
Na
Espanha, a situação é diferente, porém de certa forma curiosa, conforme afirma
Klomfahs.
"É
uma situação bem sui generis, bem
específica e diferente, porque lá ele está respondendo pelo mesmo crime que
aqui, em tese. Para nós, para a defesa, o crime é um só", aponta.
Na Espanha o argento é
acusado de tráfico internacional de entorpecentes e crime contra a saúde
pública. Klomfahs explica que foi requerida a transferência do sargento, que
segue detido na Espanha, para o Brasil. Porém o pedido foi negado.
Na
Espanha, o advogado aponta que o sargento segue sob cuidado da Defensoria
Pública local. A defesa afirma que tentou contato através de uma carta
solicitando que ele apresentasse uma defesa prévia no Brasil.
No entanto, a carta, postada há cerca de três semanas, ainda não recebeu
resposta.
"Acreditamos
que ele esteja em uma situação de respeito à sua liberdade concessional, não só
aqui no Brasil, mas também previsto na Convenção Europeia de Direitos
Humanos", aponta o advogado, que tem defendido o sargento sem contrapartida
financeira.
Segundo Klomfahs, ainda há
certa nebulosidade em relação ao código penal espanhol e também às
possibilidades de que ele possa atuar ao lado da Defensoria Pública espanhola.
O advogado tem tentado viabilizar financeiramente sua ida à Espanha.
As teses da defesa do sargento
O advogado Carlos Alexandre
Klomfahs, conta que a defesa trabalha com algumas possibilidades que
explicariam a mala com cocaína no avião da FAB.
"A defesa tem algumas,
digamos assim, teses para explorar no processo. Uma delas [...] é que a gente
não sabe se há um interesse internacional, de alguma organização, de algum
Estado, de prejudicar a imagem do Brasil no exterior", conta.
Além dessa, há pelo menos
outras duas possibilidades com que a defesa trabalha.
"Segunda,
não se sabe se há uma retaliação dentro do governo, algumas áreas insatisfeitas
com a atuação do presidente. Por exemplo, a área de inteligência, os
militares...", cogita.
Por último, Klomfahs afirma
que também é possível que ação tenha partido do próprio governo.
"Talvez
possa ser um ato de contra-informação do próprio governo. Ou seja, no sentido
de criar o fato, desviando a atenção de outros fatos, talvez mais graves",
diz.
Sem antecedentes, sargento realizava sonho, diz família
O advogado afirma que o
sargento mantinha conduta honesta e não tem histórico de envolvimento com
atividades ilícitas.
"Documentos, parece que
emitidos pela aeronáutica, dão conta de que não havia nenhuma conduta que
desabonasse o sargento", conta.
Klomfahs também cita que a
família do sargento aponta que ele vivia um sonho na aeronáutica.
"A
família dele falava que ele foi realizar um sonho em Brasília. Ele está, parece
que há 20 anos em Brasília, fez um concurso, entrou na aeronáutica",
conta, acrescentando que o grupo o qual o sargento integrava é seleto e leva em
conta a conduta do militar para a seleção.
O advogado acrescenta ainda
que o sargento levava uma vida simples, era dono de um carro popular e pagava
as parcelas de um apartamento. Para Klomfahs, o próprio fato de a investigação
não ter quebrado o sigilo bancário do sargento mostra que ele não tinha cifras
a esconder.
"É tudo muito
estanho!", aponta.
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