Os
ataques dos procuradores da Lava Jato à Raquel Dodge, revelados pelas matérias
do The Intercept, chamaram a atenção pela violência. O procurador Anderson
Lodetti elevou a temperatura e falou em “incinerar” a procuradora-geral. “Raquel
está destruindo o MPF, achincalhando a gente…[…] teria que ser incinerada
publicamente, internamente e internacionalmente”
Do Brasil de Fato - Procuradores da Lava Jato, entre eles o chefe Deltan
Dallagnol, passaram os últimos dois anos atacando a procuradora-geral da
República Raquel Dodge num grupo do aplicativo Telegram, segundo reportagem
desta sexta-feira (9) do jornal El País.
A base da matéria
são as milhares de conversas obtidas pelo site Intercept
Brasil envolvendo a Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro - e cujos
detalhes vêm sendo publicados por vários veículos de comunicação desde 9 de
julho..
Segundo o que se depreende dos diálogos
agora revelados, a insatisfação dos procuradores com Dodge vinha de sua demora
em encaminhar delações da Lava Jato para homologação no Supremo Tribunal
Federal (STF). Dede que assumiu o posto, em setembro de 2017, Dodge encaminhou
apenas um acordo de delegação ao Supremo, relativo a um caso envolvendo o
senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Entre as delações que Dodge não deu
prosseguimento, está a do empreiteiro Léo Pinheiro, dono da OAS – que mudou
duas vezes de versão e só teve o acordo fechado quando passou a incriminar o
ex-presidente Lula.
Os procuradores reclamam que Dogde “não
despacha nada” e “centraliza tudo”. Em uma das conversas, o procurador Antonio
Carlos Welter fala em colocar a questão na “ponta da faca” e discute a
possibilidade de o grupo ingressar com mandado de segurança contra ela, por
omissão.
Em outro trecho, o procurador Anderson
Lodetti eleva a temperatura e fala em “incinerar” a procuradora-geral. “Raquel
está destruindo o MPF, achincalhando a gente…[…] teria que ser incinerada
publicamente, internamente e internacionalmente”, desabafa.
Barraco
A sugestão de Lodetti se dá em abril deste
ano, um mês depois de Dodge ter barrado a tentativa dos procuradores de
Curitiba de se apropriaram dos R$ 2,5 bilhões pagos pela Petrobras a título de
multas no EUA, no âmbito das investigações da Lava Jato.
O MPF-PR chegou a criar uma fundação para
gerir os recursos em supostas ações de combate à corrupção. A manobra despertou
grande desconfiança na sociedade e no próprio judiciário – e Dodge foi ao STF
para frear o negócio.
“O barraco tem
nome e sobrenome. Raquel dodge. O Oswaldo instaurou pgea para pedir informações
sobre o acordo”, disse o procurador Januário Paludo, referindo-se ao
Procedimento de Gestão Administrativa (PGEA), uma medida administrativa
utilizada pelo corregedor-geral do MPF, Oswaldo Barbosa, para ter acesso aos
documentos sobre o acordo que permitiria a transferência bilionária para as
mãos dos procuradores da Lava Jato.
Pressão
As conversas mostram que os procuradores
não se limitaram a reclamar de Dodge, mas chegaram a debater estratégias para
pressioná-la.
Em julho de 2018, eles se queixam por ela
tenha saído de férias sem resolver “pendências” consideradas urgentes.
Dallagnol propõe aos colegas pressioná-la, “usando” a imprensa “em off” (sem que as matérias identifiquem a
fonte de informação).
“Podemos pressionar de modo mais agressivo
pela imprensa”, diz. “A mensagem que a demora passa é que não tá nem aí pra
evolução as investigações de corrupção”, se queixa. “Da saudades do Janot”,
encerra Dallagnol, referindo-se ao antecessor de Dodge, Rodrigo Janot.
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