Votação do texto-base da PEC 6/2019 - Reforma da Previdência (Foto: Andrea Marques/Câmara dos Deputados) |
"Só
a distribuição de bilhões em emendas parlamentares explica a diferença abismal
entre o placar da Câmara e a opinião da população sobre a reforma da
Previdência," escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; " Na
última pesquisa, o Data Folha apontou um empate técnico, de 47% a 44%; no
placar, o governo venceu por 74% a 26%"
Vamos esquecer a conversa de que o placar do primeiro turno
da reforma da Previdência refletiu o debate dos brasileiros e brasileiras. Esse
argumento serve para embelezar artificialmente um resultado que interessa a
Jair Bolsonaro, aos bancos e aos parlamentares que daqui para a frente terão de
explicar ao eleitor porque ajudaram o governo a aprovar uma proposta tão nociva
à maioria da população.
O último Data
Folha, jornal em campanha aberta pela reforma, mostrou um empate técnico
população: 47% a favor, 44% contra. Tudo dentro da margem de erro. No
levantamento anterior, os adversários venciam, com 51%.
No placar da Câmara, o resultado foi
outro: 74% a favor, 26% contra. Estes números mostram uma diferença
esmagadora -- 3 por 1 -- que passa muito longe da opinião apurada pelas
pesquisas.
Essa situação confirma que, no país real,
a povo estava e continua divido. Já no plenário, agitando bandeiras
providenciadas por Alexandre Frota, os aliados da reforma se portaram como
poucas vezes se viu em torno de uma proposta que metade da população
rejeita.
Nem é preciso refletir muito para entender
por que tantos parlamentares foram capazes de dar um voto às costas da
população.
Presente ao plenário, o ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, foi claro ao dizer que a liberação de emendas de sua
pasta -- que totalizaram R$ 1 bilhão -- fez parte do esforço para aprovar a
reforma.
Pelos cálculos da
Folha, "o governo ofereceu a cada parlamentar fiel um lote extra de R$ 20
milhões de emendas (em um total de mais de R$ 3 bilhões). Além disso, acelerou
o empenho —que é o registro oficial de que pretende executar aquele gasto— das
emendas ordinárias, conforme mostrou a coluna Painel nesta terça: liberou quase
R$ 1 bilhão na véspera da votação, tudo relacionado à pasta da
Saúde".
Numa atitude que ilustra o clima
reinante, a deputada Tábata Amaral (PDT-SP), que deu um voto já previsto a
favor do governo, achou prudente se diferenciar da lama geral. Disse que votou
"por convicção".
Diante de uma dinheirama repulsiva, cabe
aplaudir a atitude de parlamentares do Partido dos Trabalhadores que, já no dia
anterior, cumpriram a obrigação de comparecer à Procuradoria Geral da
República para pedir uma investigação sobre a compra de votos. Denunciaram
“grave abuso do poder político e financeiro, às custas do Erário, devendo ser
obstado imediatamente para que o próprio sistema democrático e a lisura do
pleito não sejam antecipadamente comprometidos”, disse a peça, enviada à
procuradora-geral Raquel Dodge. "Trata-se de um comportamento
imoral, ilegal e inconstitucional".
Pode-se aguardar
-- obviamente com ceticismo quase absoluto -- por investigações que, se forem
realizadas, dificilmente chegarão a algum lugar. O que é lamentável, pois o
dinheiro ajudou a abrir caminho para uma traição parlamentar que irá causar
prejuízos imensos a maioria dos brasileiros se for confirmada nas próximas
votações.
Resta um fato inegável, porém. Nem Jair
Bolsonaro, nem o choroso Rodrigo Maia, tiveram uma vitória política, mas uma
vitória comprada.
Isso quer dizer que seus dividendos
políticos serão menores e menos duradouros do que se assiste nas disputas
políticas legítimas. Mais cedo do que se imagina, o povo estará mais pobre e
Bolsonaro, mais fraco.
Alguma dúvida?
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