Presidente, que tem 45% de intenção de votos, é o
favorito para as eleições de outubro no país vizinho
Morales assumiu o cargo pela primeira vez em janeiro de 2006 / Foto: Mauricio Valenzuela/AFP |
O presidente da
Bolívia, Evo Morales, tenta conquistar neste ano seu quarto mandato
consecutivo, tendo contra si todos os demais oito candidatos.
O
principal trunfo do atual mandatário é a diminuição drástica dos índices de
pobreza e extrema pobreza no país. Favorito à reeleição em 20 de outubro, ele é
acusado pelos opositores de "driblar" a lei para garantir sua
candidatura – autorizada pelo Tribunal Eleitoral Boliviano em dezembro de 2018.
Confira
os principais fatos da corrida eleitoral:
Primárias
A lei
boliviana prevê que os candidatos à presidência participem de eleições
primárias. Nessa fase, que ocorreu
em 27 de janeiro, nove partidos definiram os seus representantes.
Uma
peculiaridade das primárias é a de que nenhum partido lançou mais de uma
candidatura. Desta forma, além de indicar quais seriam os representantes de
cada partido, o pleito não teve nenhuma função prática.
A
necessidade de primárias é recente no país, tendo sido aprovada apenas no
segundo semestre de 2018. Os representantes são escolhidos por pessoas filiadas
aos partidos políticos.
Além de
Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), as primárias definiram as
candidaturas do ex-vice-presidente Víctor Hugo Cárdenas (Unidade Cívica
Solidariedade); o senador Oscar Ortiz (Bolívia Diz Não); e dos ex-presidentes Carlos Mesa (Comunidade
Cidadã) e Jaime Paz Zamora (Partido Democrata Cristão). Quatro representantes
de partidos menores também participarão do pleito.
Todos os presidenciáveis fazem oposição a Morales.
Principais
candidatos
Segundo
uma pesquisa divulgada em 27 de março pelo Centro Estratégico Latino-Americano
de Geopolítica (CELAG), Morales lidera as intenções de voto com 45%.
Sob seu governo, iniciado em
2006, a Bolívia conseguiu manter um crescimento econômico de
cerca de 4% ao ano e reduziu drasticamente os índices de pobreza. Em 2005,
38,2% das pessoas (quatro a cada 10 habitantes) viviam em condição de pobreza
extrema. Em 2018, esse índice caiu para 15,2%.
Já a
pobreza moderada atingia 60,6% dos bolivianos, tendo diminuído para 36.4%. As
pessoas com renda média cresceram sob a gestão Morales, saltando de 3,3 milhões
de pessoas em 2005 para 7 milhões em 2018.
O
candidato enfrenta, no entanto, o desgaste causado pelos 13 anos à frente do
país e é acusado pela oposição de tentar se perpetuar no poder.
Em
segundo lugar, com 35%, aparece o ex-presidente de direita Carlos Mesa, que
comandou o país entre outubro de 2003 e março de 2005. O presidenciável tem uma
postura mais próxima ao do mandatário argentino Mauricio Macri.
Para o
jornalista e cientista político boliviano Juan Luis Abya Yala, as propostas do
candidato da Comunidade Cidadã ainda são pouco claras.
“Mesa
ocupa o segundo lugar nas pesquisas sem um plano de governo, capitalizando o
voto anti-Morales mais moderado. Os problemas internos que apresentou
ultimamente – como denúncias de corrupção pouco esclarecidas e contradições,
como por exemplo chamar Morales ao debate e ao mesmo tempo dizer que ele não é
um candidato legal – o obrigaram a se movimentar ao espectro radical da
oposição”, afirma.
Segundo
ele, Mesa se apresenta como um intelectual moralmente superior, de convicção
democrática, um ‘defensor da democracia’.
"Vão
elegendo seus acompanhantes sob essa premissa. Por outro lado, sua falta de
clareza na hora de enfrentar acusações, além de sua indiferença e contradições,
afastam os eleitores que ainda estão indecisos. Sua tendência é de
queda”.
Yala
explica que é difícil antecipar quais temas irão dominar a corrida
eleitoral, mas já é possível identificar o tom dos embates que ganharão força
nos próximos meses.
“O partido
dirigente promove um discurso muito ligado às fortalezas do modelo econômico,
às potencialidades da gestão do governo […] A oposição projeta um discurso com
ênfase na divisão ‘ditadura x democracia’, promovendo mobilizações de rua ‘em
defesa da democracia' e o respeito aos resultados do referendo de 21 de
fevereiro”.
Outras
pesquisas de intenção de voto apresentam uma distância menor entre Morales e
Mesa. Um levantamento do jornal Página
Siete aponta empate técnico entre os presidenciáveis.
O
senador Oscar Ortiz, de direita, também aparece bem posicionado, segundo as
pesquisas, porém muito abaixo dos líderes, variando entre 8% e 9% das intenções
de voto.
Candidatura
de Morales
Parte
das críticas a Morales se devem ao fato de ele ter optado por concorrer a
um novo pleito. A lei boliviana determina a possibilidade de apenas uma
reeleição presidencial. No entanto, Morales irá concorrer ao seu quarto mandato
consecutivo.
A Carta Magna do país, de 2009, estabelece que o
presidente pode ser reeleito “por uma só vez de maneira contínua”, e que “os
mandatos anteriores à vigência desta Constituição serão tomados em conta no
cômputo dos novos períodos de funções”. O mandato é de 5 anos.
Morales
assumiu o cargo pela primeira vez em janeiro de 2006, mas este mandato durou só
quatro anos devido a acordos políticos. No final dele, reelegeu-se para mais um
governo, desta vez de 5 anos, de 2010 a 2015. Argumentando que o
primeiro mandato não cumpriu o período integral previsto na lei, Morales
conseguiu candidatar-se uma terceira vez - e venceu novamente, assim
prolongando sua presença à frente da nação até 2020.
Para
poder concorrer nas eleições de outubro, Morales chamou um referendo. Em 21 de
fevereiro de 2016, 48,7% das pessoas consultadas apoiaram uma nova eleição,
enquanto 51,3% optaram pelo “não”. Ainda assim, em dezembro de 2018, o Tribunal
Eleitoral Boliviano autorizou sua participação no pleito
Congresso
Além
das eleições presidenciais, os bolivianos irão escolher novos deputados e
senadores. Atualmente, o partido de Morales comanda dois terços dos assentos
das duas câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional.
O pleito
é importante porque irá definir se Morales, caso ganho, permanecerá tendo um
amplo apoio. Segundo Yala, “tanto o partido dirigente quanto a oposição estão
em um processo de seleção de candidatos para a Assembleia”.
O
pleito do dia 20 irá preencher 130 assentos na Câmara dos Deputados e 36 no
Senado para o período 2020-2025.
Fonte:
Brasil de Fato
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