quarta-feira, 12 de junho de 2019

Gleen Greenwald: não há como manter a condenação de Lula


Reprodução/Twitter
Em entrevista ao programa de notícias dos Estados Unidos Democracy Now, o jornalista Glenn Greenwald, acredita que "há boas chances que o Supremo Tribunal Federal dirá que a condenação de Lula da Silva foi um subproduto de tantas impropriedades que não podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele precisa de um novo julgamento e precisa ser libertado enquanto esse novo julgamento acontece"
247 - O jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept, responsável pela publicação das conversas vazadas entre o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato, avalia que a condenação do ex-presidente Lula não pode mais ser mantida diante dos fatos, que revelaram uma parceria entre o Judiciário e o Ministério Público na elaboração da denúncia e no projeto de tirá-lo da disputa presidencial.
Em entrevista ao programa de notícias dos Estados Unidos Democracy Now, concedida nesta quarta-feira 12, Greenwald avalia que "há boas chances que o Supremo Tribunal Federal dirá que a condenação de Lula da Silva foi um subproduto de tantas impropriedades que não podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele precisa de um novo julgamento e precisa ser libertado enquanto esse novo julgamento acontece".
Confira alguns trechos, publicados na página do Democracy Now no Facebook, e assista à entrevista ao final da matéria.
Amy Goodman: Você fez essa série de reportagens, ela está sacudindo o Brasil nesse momento, pedidos para que Moro deixe o superministério da Justiça, pedidos para que Lula ser libertado. Quais são as chances disso acontecer na sua opinião? E por fim, você diz que isso é maior que o conjunto de informações de Snowden, você tem muito mais informações do que aquelas que já publicou, o que você vai fazer com elas?
Glenn Greenwald: Nós estamos trabalhando fervorosamente para publicá-las o mais rápido que pudermos. Obviamente há um intenso desejo de ver mais informações mas temos a responsabilidade, exatamente como fizemos com as informações obtidas via Snowden, de ter certeza de que serão bem publicadas, profissionalmente e acuradamente, porque se fizermos um único erro, ele será usado para sempre contra nós, minando a credibilidade da reportagem. Mas, definitivamente, mais reportagens estão a caminho, muito brevemente. Então, quando você pergunta o que acontecerá com Moro, o que acontecerá com Lula, muito depende da qualidade das reportagens que fazemos e de quanto mais vamos mostrar, porque temos muito mais a mostrar. Mas nós acreditamos, somente com aquilo que nós mostramos, não digo que Sérgio Moro esteja em vias de ser exonerado, porque ele ainda tem o apoio de Bolsonaro, ele ainda é crucial para o governo, mas ele certamente sofreu um severo prejuízo e enfraquecimento com os relatos do fim de semana e nós continuaremos com reportagens que o prejudicarão e enfraquecerão quando revelarmos mais e não estou seguro de que ele possa sobreviver a isso. Mas acho que há boas chances que o Superior Tribunal Federal dirá que a condenação de Lula da Silva foi um subproduto de tantas impropriedades que não podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele precisa de um novo julgamento e precisa ser libertado enquanto esse novo julgamento acontece.
"É incrível a disposição de altas autoridades para mentir sociopaticamente", afirma Glenn Greenwald
Amy Goodman: A Ordem dos Advogados do Brasil pediu que Moro seja suspenso e que todos os promotores envolvidos no escândalo sejam dispensados. No entanto, como você apontou, Bolsonaro fez dele um tipo de superministro da justiça, reunindo as funções de aplicação da lei, vigilância e investigação, que eram distribuídas entre vários ministérios, todos sob o cargo do superministro da justiça de Moro, fazendo dele, como você apontou, Glenn Greenwald, a segunda pessoa mais poderosa do Brasil agora. Então o que acontece?
Glenn Greenwald: Então, é tão fascinante, Amy, porque a história me lembra muito da história de Snowden de muitas maneiras. Um modo, lembra-se, que a história de Snowden essencialmente começou quando Snowden ouviu James Clapper ir ao Senado e apenas olhar para eles e simplesmente mentir descaradamente, quando lhe perguntaram: "Você está coletando dados de milhões de americanos?" Ele disse: "Não, senhor, não estamos fazendo isso. Não temos tal programa." E foi chocante para Snowden ver alguém naquela posição tão sociopática, e foi isso que, no final das contas, levou Snowden a decidir, com a finalidade, "preciso mostrar a verdade".
Esta é a mesma reação que eu tenho quando ouço o juiz Moro olhar para as câmeras e dizer: "Eu me irrito com a noção de que eu tenho qualquer envolvimento em uma acusação", quando eu li todos esses documentos e conversas de anos que temos - muitos dos quais publicamos e continuaremos a publicar, mostrando que ele fez exatamente o que presunçosamente negava, olhando para a câmera com esse sorriso afetado. É incrível, embora eu ache que não deveria ser, a disposição das pessoas nessas altas posições de autoridade para mentir sociopaticamente sobre o que eles fazem.



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