Rovena Rosa/Agência Brasil |
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli,
disse que as informações fraudulentas já fazem parte do processo eleitoral em
diversas partes do mundo, inclusive no Brasil; a declaração foi dada nesta
sexta-feira (24) no seminário Fake
News: Desafios para o Judiciário, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil
Camila Boehm (Agência Brasil) -O presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, disse que as informações
fraudulentas já fazem parte do processo eleitoral em diversas partes do mundo,
inclusive no Brasil. A declaração foi dada noite desta sexta-feira (24) no
seminário Fake
News: Desafios para o Judiciário, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil, que debateu
o papel da Justiça frente às notícias falsas, na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo.
"Pesquisa
realizada pelo Ideia Big Date e divulgada neste mês revelou que mais de dois
terços das pessoas receberam fake news pelo Whatsapp durante a campanha
eleitoral de 2018", disse Toffoli ao classificar o fenômeno das fake news
como abrangente e complexo. "Esse processo [de desinformação] pode colocar
em risco os processos e os valores democráticos".
Para o presidente do STF, esse ambiente
também propicia o avanço do discurso de ódio. "São discursos que estimulam
a divisão social a partir da dicotomia entre nós e eles e que remete ao
fantasma das ideologias fascistas conforme explica Jason Stanley em obra
extraordinária recente Como Funciona o Fascismo", disse.
Toffoli disse que tudo isso polui o debate
democrático em dois aspectos principais: primeiro o cidadão passa a formar sua
opinião e se conduzir na democracia guiado por ilusões, por inverdades e a
deturpação da realidade deturpa os caminhos da própria democracia; e, segundo,
ultrapassada a fronteira do pluralismo, do embate construtivo de ideias e
opiniões, a polarização extrema inviabiliza o diálogo.
Divulgação incontrolável
O ministro de STF Ricardo Lewandowski disse que houve uma divulgação
"absolutamente incontrolável de fake news durante o período das eleições
em 2018". Para ele, o fenômeno é uma realidade com a qual a sociedade
convive diariamente e deu exemplos de notícias falsas que circularam no país.
"Tivemos também o caso do kit gay,
que foi amplamente divulgado, que o Ministério da Educação no Brasil teria
disseminado nas escolas brasileiras um kit gay. O ministro da Educação teve que
vir a público desmentir aquilo que era obviamente, a meu ver pelo menos,
inverossímil", citou. "Tivemos o caso da Marielle Franco, vereadora
do Rio de Janeiro brutalmente assassinada, que de repente foi acusada de estar
envolvida com o tráfico de drogas".
Em relação à influência das fake news em
processos eleitorais, Lewandowski acredita que é preciso desenvolver
instrumentos adequados para combatê-la. "Nós da Justiça Eleitoral e do
Poder Judiciário deveríamos ter instrumentos para neutralizar a influência
nefasta e negativa das fake news. Se a Justiça Eleitoral não estiver à altura
de cumprir esse dever, é melhor fechar as portas e entregar a chave dos
tribunais eleitorais aos partidos políticos", disse.
O coordenador do Observatório da Liberdade
de Imprensa da OAB, Pierpaolo Bottini, também falou sobre o uso das fake news
com finalidade política nas eleições de 2018. "Exemplos revelam que nossa
história tem uma intimidade com notícias falsas e revelam seu potencial de
abalar as estruturas democráticas e revelam seu potencial para muitas vezes
justificar medidas autoritárias", disse.
Ao avaliar que o fenômeno das fake news
não é novo no país, ele lembrou que a história está permeada de notícias
falsas. "Em 31 de março de 1964, o [senador] Auro Andrade no Congresso
Nacional declara vago o cargo de presidente da República porque seu mandatário
supostamente não se encontrava no país, quando se sabia que o presidente da
República se encontrava em território nacional. Podemos dizer, portanto, que
uma fake news inaugurou o regime militar no Brasil, que foi encerrado, de certa
forma, por uma tentativa desastrada de fake news no Riocentro, em 1981".
Nenhum comentário:
Postar um comentário