Em entrevista ao 247, o jurista Afrânio Silva Jardim,
professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e um dos mais
renomados processualistas penais do país, afirma que a decisão da 6ª Turma do
STJ de conceder habeas corpus libertando o ex-presidente Michel Temer é
correta, mas aponta a diferença quando o processo tem o ex-presidente Lula como
parte; "A diferença é que Lula também deveria estar solto", enfatiza
247 - O jurista
Afrânio Silva Jardim, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) e um dos mais renomados processualistas penais do país, considera que a
decisão da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de conceder habeas
corpus libertando o ex-presidente Michel Temer e o coronel Lima, presos na
semana passada, respeitou a lei.
Para o professor, prisão preventiva
pressupõe requisitos e é uma medida de exceção, podendo somente ser decretada
em casos excepcionais.
Quando indagado a comparar as decisões da
corte no caso de Michel Temer com as do ex-presidente Lula, Afrânio é
categórico: "A diferença é que Lula também deveria estar solto".
O jurista adverte que no caso de Michel Temer trata-se de prisão preventiva, ou
seja, antes do julgamento. E no caso do ex-presidente Lula se tratou de prisão
após decisão em segunda instância.
"A prisão de Lula é ilegal por força
do princípio da presunção da inocência", aponta o professor, citando o
artigo 283 do Código de Processo Penal, que estabelece que ninguém poderá ser
preso senão "em decorrência de sentença condenatória trasitada em
julgado".
"É ilegal prender alguém como efeito
da decisão em segunda instância. Assim como a prisão de Temer não é necessária.
Portanto, os dois deveriam estar soltos", disse.
Punitivismo
Indagado a comentar a afirmação da
ministra Laurita Vaz, que disse que o Brasil precisa ser passado a limpo e o
Poder Judiciário tem papel importante nessa luta, mas que tal tarefa "não
pode virar caça às bruxas, buscando garantir em todos os casos o devido
processo legal", Afrânio criticou o discurso, apontando que tal tese
punitivista é que promove os abusos e violações aos direitos."
"O Poder Judiciário não tem que
passar a limpo nada. Tem que julgar de forma imparcial, de acordo com o direito
e as provas. Além disso, se algo tem que ser passado a limpo é o próprio Poder
Judiciário", advertiu o jurista.
Afrânio lembrou que a ministra Laurita não
foi tão garantista nos julgamento das ações do ex-presidente Lula.
"No caso de Lula ela passou a mão na
cabeça do Moro, que mesmo de férias atuou para impedir a liberdade de
Lula", lembrou o professor, se referindo a decisão do desembargador
Rogério Favreto, que concedeu habeas corpus libertando Lula, mas após manobras
do então juiz Sérgio Moro, a medida não se cumpriu.
Afrânio ironizou ainda classificando o STJ
como uma loteria. "Que pena que os recursos de Lula não caíram na 6ª turma
do STJ, pois ao invés de preso, estaria solto. Isso mostra como os processos
são como uma loteria atualmente", disse.
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