Jair Bolsonaro distribuiu na manhã desta sexta-feira em
grupos de WhatsApp um texto que em tudo lembra a retórica de Jânio Quadros e
insinua as hipóteses de um golpe de Estado para implantar um Estado policial ou
a renúncia; o texto, que ele diz ser de "autor desconhecido", usa a
expressão "corporações" sem nomeá-las, quase num sinônimo das
"forças ocultas" a que se referia Jânio Quadros; ao introduzir o
texto para os grupos, ele diz que "o Sistema vai me matar"; políticos
consideraram a iniciativa de Bolsonaro grave e preocupante
247 - Jair Bolsonaro
distribuiu na manhã desta sexta-feira em grupos de WhatsApp um texto que em
tudo lembra a retórica de Jânio Quadros e insinua as hipóteses de um golpe de
Estado para implantar um Estado policial ou a renúncia. O texto, que ele diz
ser de "autor desconhecido", usa a expressão "corporações"
sem nomeá-las, quase num sinônimo das "forças ocultas" a que se
referia Jânio Quadros, para falar das supostas dificuldade de Bolsonaro para governar.
Termina com uma expressão típica do mercado financeiro, "Sell"
(vendam), como a dizer que o governo acabou. Para introduzir o texto nos
grupos, Bolsonaro escreveu: "Um texto no mínimo interessante. Para
quem se preocupa em se antecipar aos fatos sua leitura é obrigatória. Em
Juiz de Fora (06/set/2018), tive um sentimento e avisei meus seguranças: 'Essa
é a última vez que me exporei junto ao povo. O Sistema vai me matar'. Com
o texto abaixo cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões."
Segundo a repórter Tânia
Monteiro, do jornal O Estado de S.Paulo, a resposta de Bolsonaro por
meio de seu porta-voz, o general Otávio do Rêgo Barros, ao
questionamento sobre a iniciativa no Whatsapp foi: "Venho colocando todo
meu esforço para governar o Brasil. Infelizmente os desafios são inúmeros e a
mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se
beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade
para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do
futuro promissor. Que Deus nos ajude!”
O texto anônimo divulgado por Bolsonaro
afirma que ele estaria sofrendo pressões das misteriosas
corporações e que o País "está disfuncional", não por culpa do
presidente, mas que "até agora (Bolsonaro) não fez nada de fato, não
aprovou nada, só tentou e fracassou".
Segundo a jornalista, Bolsonaro pediu que
o texto fosse replicado nos grupos de WhatsApp. Tânia Monteiro acrescente:
"fontes ouvidas pelo Estado consideram
o desabado reproduzido como 'muito grave' e 'preocupante'".
Uma das fontes chegou a lembrar que o
presidente está se deixando tomar pelas "teorias de conspiração", que
dominam os discursos em sua família e que, ao endossar o texto, ele pode
provocar sim o que chamou de tsunami, na semana passada, e avisou que
estava por vir, completou a veterana repórter de Brasília.
Leia a íntegra do texto, da forma como o
presidente compartilhou em grupos de WhatsApp:
TEXTO APAVORANTE - LEITURA OBRIGATÓRIA
Alexandre Szn
Temos muito para agradecer a Bolsonaro.
Bastaram 5 meses de um governo atípico,
"sem jeito" com o congresso e de comunicação amadora para nos mostrar
que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o
interesse dos eleitores. Sejam eles de esquerda ou de direita.
Desde a tal compra de votos para a
reeleição, os conchavos para a privatização, o mensalão, o petrolão e o tal
"presidencialismo de coalizão", o Brasil é governado exclusivamente
para atender aos interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento
público.
Não só políticos, mas
servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados
nas teias de poder. Os verdadeiros donos do orçamento. As lagostas do STF e os
espumantes com quatro prêmios internacionais são só a face gourmet do nosso
absolutismo orçamentário.
Todos nós sabíamos disso, mas queríamos
acreditar que era só um efeito de determinado governo corrupto ou cooptado. Na
próxima eleição, tudo poderia mudar. Infelizmente não era isso, não era
pontual. Bolsonaro provou que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável.
Descobrimos que não existe nenhum
compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas
bênçãos. Sempre a contragosto.
Nem uma simples redução do número de
ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser
OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer.
Isso é do interesse de quem? Qual é o
propósito de o congresso ter que aprovar a estrutura do executivo, que é
exclusivamente do interesse operacional deste último, além de ser promessa de
campanha?
Querem, na verdade, é manter nichos de controle
sobre o orçamento para indicar os ministros que vão permitir sangrar estes
recursos para objetivos não republicanos. Historinha com mais de 500 anos por
aqui.
Que poder, de fato, tem o presidente do
Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas no
congresso e na justiça, apostaria que o presidente não serve para NADA, exceto
para organizar o governo no interesse das corporações. Fora isso, não governa.
Se não negocia com o congresso, é amador e
não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se
100% dos caminhos estão errados na visão dos "ana(lfabe)listas
políticos"?
A continuar tudo como está, as corporações
vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil
não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios.
O moribundo-Brasil será mantido vivo por
aparelhos para que os privilegiados continuem mamando. É fato inegável. Está
assim há 519 anos, morto, mas procriando. Foi assim, provavelmente continuará
assim.
Antes de Bolsonaro vivíamos em um
cativeiro, sequestrados pelas corporações, mas tínhamos a falsa impressão de
que nossos representantes eleitos tinham efetivo poder de apresentar suas
agendas.
Era falso, FHC foi reeleito prometendo
segurar o dólar e soltou-o 2 meses depois, Lula foi eleito criticando a
política de FHC e nomeou um presidente do Bank Boston, fez reforma da
previdência e aumentou os juros, Dilma foi eleita criticando o neoliberalismo e
indicou Joaquim Levy. Tudo para manter o cadáver procriando por múltiplos de 4
anos.
Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do
interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o
sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.
Na hipótese mais provável, o governo será
desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações. Que sempre
venceram. Daremos adeus Moro, Mansueto e Guedes. Estão atrapalhando as
corporações, não terão lugar por muito tempo.
Na pior hipótese ficamos ingovernáveis e
os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil. Teremos um
orçamento destruído, aumentando o desemprego, a inflação e com calotes
generalizados. Perfeitamente plausível. Claramente possível.
A hipótese nuclear é uma ruptura
institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado,
sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada. Não se sabe como será
reconstruído. Não é impossível, basta olhar para a Argentina e para a
Venezuela. A economia destes países não é funcional. Podemos chegar lá, está
longe de ser impossível.
Agradeçamos a Bolsonaro, pois em menos de
5 meses provou de forma inequívoca que o Brasil só é governável se atender o
interesse das corporações. Nunca será governável para atender ao interesse dos
eleitores. Quaisquer eleitores. Tenho certeza que esquerdistas não votaram em
Dilma para Joaquim Levy ser indicado ministro. Foi o que aconteceu, pois
precisavam manter o cadáver Brasil procriando. Sem controle do orçamento, as
corporações morrem.
O Brasil está disfuncional. Como nunca
antes. Bolsonaro não é culpado pela disfuncionalidade, pois não destruiu nada,
aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou.
Ele é só um óculos com grau certo, para vermos que o rei sempre esteve nu, e é
horroroso.
Infelizmente o diagnóstico racional é
claro: "Sell".
Autor desconhecido
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