O Palácio do Planalto divulgou neste domingo, 31, pelo
WhatsApp um vídeo em que trata o Golpe Militar de 1964 como um momento da
história em que o Exército "salvou" o Brasil; com 1 minuto e 55
segundos de duração, o vídeo retoma a narrativa, já tantas vezes rejeitada em
livros de história, de que havia uma revolução comunista prestes a ser
deflagrada no país; "O Exército nos salvou, não há como negar",
afirma o narrador; ao fim, uma voz masculina e grave ecoa sobre a imagem
da bandeira nacional: "O Exército não quer palmas nem homenagens. O
Exército apenas cumpriu o seu papel"; assista
Por Camilo Vannuchi, na Casa da Democracia - O Golpe de
1964 salvou o país. É esta a mensagem que o Governo Federal busca transmitir em
vídeo divulgado neste domingo, 31 de março, em seu canal oficial no WhatsApp.
Com 1 minuto e 55 segundos de duração, o vídeo retoma a narrativa, já tantas
vezes rejeitada em livros de história, de que havia uma revolução comunista
prestes a ser deflagrada no país, e que foi contida graças à bravura do
Exército brasileiro, sempre pronto para defender a pátria com soberania e
abnegação.
"Se
você tem a mesma idade que eu, um pouco mais, um pouco menos, sabe que houve um
tempo em que nosso céu de repente não tinha mais estrelas que outros", diz
um narrador septuagenário. "Era assim, um tempo de medo e ameaças. Ameaças
daquilo que os comunistas faziam onde era imposto, sem exceção. Prendiam e
matavam seus compatriotas."
A peça busca
criminalizar também a atuação sindical e a liberdade de manifestação no país.
"Havia, sim, muito medo no ar. Greve nas fábricas, insegurança em todos os
lugares", diz o texto.
De
acordo com o roteiro, este cenário justificaria a intervenção militar de 31 de
março: um golpe que durou 21 anos e causou a morte de mais de 430 opositores da
ditadura listados pela Comissão Nacional da Verdade, o genocídio de 8 mil
indígenas e a prisão e tortura de pelo menos 50 mil pessoas segundo estimativa
do Ministério Público Federal. "Foi aí que, conclamado por jornais,
rádios, TVs, e principalmente pelo povo na rua — povo de verdade, pais, mães,
Igreja —, que o Brasil lembrou que possuía um Exército nacional e apelou a ele.
Foi só aí que a escuridão, graças a Deus, foi passando, passando, e fez-se a
luz".
"O Exército
nos salvou, não há como negar", afirma o narrador. Em seguida, uma voz em
off, masculina e grave, ecoa sobre a imagem da bandeira nacional: "O
Exército não quer palmas nem homenagens. O Exército apenas cumpriu o seu
papel."
A
divulgação ocorre seis dias após o presidente Jair Bolsonaro conclamar o
Ministério da Defesa a comemorar os 55 anos do golpe, chamado por ele de
"revolução". A declaração despertou reações imediatas de juristas,
historiadores e entidades de defesa dos Direitos Humanos, inclusive no
exterior.
"À
luz de tudo que hoje se sabe sobre o regime militar, é profundamente
problemático que o presidente da República oriente a comemoração de um regime
autoritário que durou 21 anos", afirmou à Casa da Democracia o relator da
ONU Paulo Sérgio Pinheiro, que foi ministro dos Direitos Humanos no governo
Fernando Henrique Cardoso e membro da Comissão Nacional da Verdade, instalada
no governo Dilma Rousseff. Em artigo publicado neste sábado no Washington Post,
o escritor Paulo Coelho relata as torturas que sofreu em 1974 no Dops do Rio de
Janeiro.
"São essas
décadas de chumbo que o Presidente Jair Bolsonaro, depois de mencionar no
Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo, quer festejar nesse dia 31
de março", escreveu Paulo Coelho.
Em
repúdio ao golpe e à declaração de Bolsonaro, foram organizadas manifestações
em todo o país.
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