Cidadãos que estiveram no país vizinho se reúnem em
SP para compartilhar olhares sobre a democracia venezuelana
Brasileiros relataram suas experiências nesta quarta-feira (20) em evento em São Paulo (SP) / @kaboughoff/UJS |
“É realmente
chocante você fazer o processo comparativo. Como a democracia lá é real,
profunda, participativa. A daqui [do Brasil] é completamente dominada
pelo poder econômico. Não é uma democracia real, tampouco participativa,
mas se acusa a Venezuela de ditadura, enquanto considera o Brasil uma
democracia”.
A
surpresa de Jessy Dayane, vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes
(UNE) ao se dar conta da distorção provocada pela campanha midiática
internacional contra a Venezuela, é compartilhada por muitos cidadãos que
estiveram em Caracas durante o mês de fevereiro, por ocasião da realização da Assembleia Internacional dos Povos. Jessy
participou ainda da Brigada Internacionalista Che Guevara, que reuniu
jovens de diversas organizações e movimentos populares na Venezuela também no
mesmo mês.
Bia
Lopes, secretária de formação da União da Juventude Socialista
(UJS) também participou daquela brigada. Ela conta que, durante a estadia
no país, notou os efeitos do bloqueio econômico, principalmente no que diz
respeito a produtos de higiene pessoal e medicamentos – embora o
abastecimento de alimentos estivesse regular.
“Existe
uma compreensão muito unânime entre as pessoas do que está acontecendo. Eu acho
que isso foi muito impactante principalmente para nós, brasileiros, que
acabamos de sair de um processo de golpe de Estado, em que uma das dificuldades
que a gente tinha era justamente explicar para as pessoas o que estava
acontecendo”.
A
distorção de informações sobre a Venezuela e seu processo político chega muitas
vezes às próprias organizações e movimentos do campo popular, na avaliação de
José Carlos Miranda, membro do conselho curador da Fundação Lauro Campos e da
direção estadual do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que também esteve na
Venezuela. Segundo ele, é preciso combater a desinformação que, algumas vezes,
faz com que dirigentes e militantes da esquerda reproduzam o discurso
hegemônico:
“Essa
avalanche e essa pressão enorme desse cerco midiático e da propaganda dos
governos e as sanções, é óbvio, criam um senso comum de que existe um regime
autoritário na Venezuela. E essas personalidades militantes e mesmo correntes
de organizações e movimentos de esquerda sucumbem a esse cerco, a essa pressão
da política imperialista sobre eles”.
Estado de guerra
Os
brigadistas de mais de 80 países estavam na Venezuela no dia 23 de fevereiro,
quando uma articulação de governos de direita, incluindo Brasil, Estados
Unidos, Colômbia e Chile, tentaram ingressar em território venezuelano com uma
suposta "ajuda humanitária". Lopes conta como foi viver os momentos
de tensão, sob a ameaça de uma agressão armada dos Estados Unidos.
“Obviamente
[estavam] assustados com uma ameaça, porque ninguém dorme em paz
ameaçado de guerra, sem saber quando os tanques irão chegar. Mas
[vimos] um povo muito disposto a defender o seu país, a defender a Venezuela. E
eu acho que a gente tem muito o que aprender com eles”, conclui.
De
volta aos seus países, os brigadistas terão pela frente a tarefa de se
dedicar a contrainformação e revelar o que viram no país sul-americano. E
foi esse o objetivo do evento "O que está acontecendo na Venezuela?",
nesta quarta-feira (20), em São Paulo (SP).
“Depois
dessa ‘agenda diplomática’ do Bolsonaro nos Estados Unidos nesses três dias, eu
acho que o nosso principal objetivo agora é conseguir explicar através disso
que o Bolsonaro foi fazer nos Estados Unidos, que foi colocar o Brasil de
joelhos para o imperialismo, explicar para as pessoas porque o povo venezuelano
está sofrendo. Porque não estão dispostos a ficar de joelhos, porque não estão
dispostos a abrir mão das suas riquezas, porque não estão dispostos a abrir mão
da sua cultura, da sua identidade e da sua revolução”, acrescenta Lopes.
O
evento foi realizado pelo Comité Brasileiro de Solidariedade à Venezuela em
parceria com o Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé.
Fonte:
Brasil de Fato
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