sábado, 30 de março de 2019

Por que não devemos comemorar 31 de março - Por Arilson Chiorato



 

O Brasil tem episódios em sua história que são exemplos a não serem seguidos. Passagens que gostaríamos de esquecer, mas que não devemos, para evitar que se repitam. Desde nosso “descobrimento”, nossa história é repleta de momentos lastimáveis, de exploração, escravização e genocídio. A implantação da ditadura militar é um deles. Entre os mais recentes, com certeza, é o mais forte e representativo desses momentos históricos que nos envergonham.


E hoje, 33 anos depois do fim desse período cinzento, um capitão reformado por inaptidão, que está Presidente da República, quer resgatar as comemorações à implantação desse regime de exceção em nosso País, orientando os quartéis a comemorarem a data de 31 de março. O presidente, que tem nos envergonhado mundialmente por seus discursos e postura, quer reescrever nossa história à força. Quer dar outro significado aos anos de chumbo, porém, não há outro significado se não a barbárie. Ele ideologiza o governo, aparelha os órgãos públicos com seus militantes fundamentalistas, instrumentaliza o governo para atender aos seus delírios em defesa da disseminação do ódio e preconceito, e de métodos que atentam contra os direitos humanos tão caros a brasileiros e brasileiras e os princípios cristãos que finge representar. 

Claro que não devemos nos surpreender com  essa atitude. Vindo de quem vem, não é novidade, pois está alinhado àquilo que defende há décadas. Além de participar da farsa do golpe mais recente ocorrido no Brasil — o impeachment da ex-Presidente Dilma, elogiou um dos mais brutais torturadores que atuaram durante o período militar no Brasil. O mesmo que em visita ao Paraguai elogia o general Stroessner e quando pisa no Chile rende honrarias ao general Pinochet, ambos sanguinários ditadores da América Latina. Não, não devemos nos espantar.

Na Alemanha, as escolas ensinam a história do Nazismo e o Holocausto sobre uma perspectiva crítica, na intenção de conscientizar os jovens. Penso que o Brasil deveria ter seguido este exemplo, assumido um compromisso para que as gerações vindouras tivessem consciência do que é a tortura, e tudo o que era encoberto no período da Ditadura Militar. Pois assim, evitaria que as pessoas relativizassem a bárbarie e a desumanidade acometida por este regime, além de ensinar os jovens sobre a luta por liberdade, emancipação, direitos, dignidade e democracia.

Mas essa atitude de Bolsonaro — que a cada dia se mostra mais o messias do caos, é criminosa. Criminosa porque atenta contra os princípios democráticos. Ao fazer apologia a um regime que cometeu as maiores atrocidades contra os direitos das pessoas e crimes internacionais, utilizando inclusive a estrutura pública para isso — celebrar crimes — ele atenta contra os mais básicos princípios da administração pública, o que pode caracterizar ato de improbidade administrativa, segundo a lei 8.429, de 1992. E quem diz isso não sou eu, mas, os membros do Ministério Público Federal.

A ditadura militar no Brasil torturou, matou, separou famílias, sumiu com corpos. Desrespeitou normas internacionais. Calou a imprensa. Fechou o Congresso. Engessou a Justiça. E junto com isso concentrou renda, aumentou a pobreza, dívida externa e fez campear a corrupção. Na ditadura defendida por Bolsonaro e seus seguidores, a Lava jato não exisitiria.

É por essas e outras razões - e não por você ser ou não ser petista, que não devemos comemorar o 31 de março.

Arilson Chiorato é Administrador, Mestre em Gestão Urbana e Deputado Estadual pelo PT-PR


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