O Brasil tem episódios em sua história que são exemplos a não
serem seguidos. Passagens que gostaríamos de esquecer, mas que não devemos,
para evitar que se repitam. Desde nosso “descobrimento”, nossa história é
repleta de momentos lastimáveis, de exploração, escravização e genocídio. A
implantação da ditadura militar é um deles. Entre os mais recentes, com
certeza, é o mais forte e representativo desses momentos históricos que nos
envergonham.
E hoje, 33 anos depois do fim desse período cinzento, um
capitão reformado por inaptidão, que está Presidente da República, quer
resgatar as comemorações à implantação desse regime de exceção em nosso País,
orientando os quartéis a comemorarem a data de 31 de março. O presidente, que
tem nos envergonhado mundialmente por seus discursos e postura, quer reescrever
nossa história à força. Quer dar outro significado aos anos de chumbo, porém,
não há outro significado se não a barbárie. Ele ideologiza o governo, aparelha
os órgãos públicos com seus militantes fundamentalistas, instrumentaliza o
governo para atender aos seus delírios em defesa da disseminação do ódio e
preconceito, e de métodos que atentam contra os direitos humanos tão caros a brasileiros
e brasileiras e os princípios cristãos que finge representar.
Claro que não devemos nos surpreender com essa atitude.
Vindo de quem vem, não é novidade, pois está alinhado àquilo que defende há
décadas. Além de participar da farsa do golpe mais recente ocorrido no Brasil —
o impeachment da ex-Presidente Dilma, elogiou um dos mais brutais torturadores
que atuaram durante o período militar no Brasil. O mesmo que em visita ao
Paraguai elogia o general Stroessner e quando pisa no Chile rende honrarias ao
general Pinochet, ambos sanguinários ditadores da América Latina. Não, não
devemos nos espantar.
Na Alemanha, as escolas ensinam a história do Nazismo e o
Holocausto sobre uma perspectiva crítica, na intenção de conscientizar os
jovens. Penso que o Brasil deveria ter seguido este exemplo, assumido um
compromisso para que as gerações vindouras tivessem consciência do que é a
tortura, e tudo o que era encoberto no período da Ditadura Militar. Pois assim,
evitaria que as pessoas relativizassem a bárbarie e a desumanidade acometida
por este regime, além de ensinar os jovens sobre a luta por liberdade, emancipação,
direitos, dignidade e democracia.
Mas essa atitude de Bolsonaro — que a cada dia se mostra mais
o messias do caos, é criminosa. Criminosa porque atenta contra os princípios
democráticos. Ao fazer apologia a um regime que cometeu as maiores atrocidades
contra os direitos das pessoas e crimes internacionais, utilizando inclusive a
estrutura pública para isso — celebrar crimes — ele atenta contra os mais
básicos princípios da administração pública, o que pode caracterizar ato de
improbidade administrativa, segundo a lei 8.429, de 1992. E quem diz isso não
sou eu, mas, os membros do Ministério Público Federal.
A ditadura militar no Brasil torturou, matou, separou
famílias, sumiu com corpos. Desrespeitou normas internacionais. Calou a
imprensa. Fechou o Congresso. Engessou a Justiça. E junto com isso concentrou
renda, aumentou a pobreza, dívida externa e fez campear a corrupção. Na
ditadura defendida por Bolsonaro e seus seguidores, a Lava jato não exisitiria.
É por essas e outras razões - e não por você ser ou não ser
petista, que não devemos comemorar o 31 de março.
Arilson Chiorato é
Administrador, Mestre em Gestão Urbana e Deputado Estadual pelo PT-PR
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