Por
Arilson Chiorato
Resisti
em escrever sobre o episódio dos dois jovens que mataram estudantes, uma
professora e uma funcionária de uma escola estadual na cidade de Suzano em São
Paulo. A empatia com as vítimas e suas famílias me trouxeram prudência e
reflexão. Contudo, penso ser obrigação de todos nós, como cidadãos, refletirmos
sobre o triste acontecimento. Não apenas sobre ocorrido em si, mas
principalmente sobre as suas causas. Pois trata-se de uma tragédia social sem
qualquer sombra de dúvidas.
No
Paraná, em setembro de 2018, no município de Medianeira, também houve um ataque
semelhante, onde um aluno atirou contra os demais e acertou dois adolescentes.
A violência está presente nas mais variadas sociedades, mas, o que precisamos
refletir, é sobre a forma com que iremos lidar com ela: cultuando e fazendo
apologia sistemática à repressão? Agindo sobre as consequências ao invés das
causas? Ou condenando os fatos geradores e conscientizando a população?
Vivemos
um momento na sociedade brasileira onde a violência e o ódio são estimulados e
exaltados. Onde a punição e a vingança social se sobrepõem à prevenção e
ressocialização. Mesmo que não concordemos com essa perspectiva e de forma
ativa não contribuamos para que ela se fortaleça, contribuímos com o seu
desenvolvimento quando não denunciamos, condenamos ou repudiamos atitudes que
estão transformando o Brasil em um país da intolerância. E esse é o quadro da
sociedade em que esses jovens estavam mergulhados.
Precisamos
tomar em nossas mãos a propaganda da CULTURA DE PAZ e nos contrapormos com determinação
a esse estado de condições que nos leva à barbárie. Estimular o respeito às
diferenças é essencial. Condenar a discriminação idem. Contrapor ideias que
estimulem a violência como, na minha opinião, é o caso da venda, porte e uso de
armas propagandeadas em rede nacional de televisão e até mesmo por governantes
que deveriam defender a valorização de nossas vidas.
Nos
mínimos detalhes podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais
humana. Não dar brinquedos que imitem armas aos nossos filhos. Ensiná-los que
meninas e meninos têm algumas diferenças e que elas devem ser respeitadas. Em
hipótese alguma permitir que se transformem em objeto de discriminações e
coisificação. Ensiná-los que a cor da pele, sexualidade, opção religiosa ou política
não faz de ninguém melhor ou pior do que outra pessoa. São alguns exemplos de
atitudes que ajudam a deter o avanço do ódio e da intolerância que foram causa
e não consequência da tragédia de Suzano.
Os jovens
que cometeram aquelas barbaridades, juridicamente, não devem ser absolvidos.
Mas do ponto de vista social temos que admitir também nossa parcela de culpa.
Não por puxar os gatilhos ou lançar as flechas. Mas por não fazermos algo para
estancar o avanço de comportamentos que estimulem ações como aquelas.
E como
pai, preocupado com a realidade a que nossos jovens, em especial, estão
expostos, gostaria de propor ao governador do Estado que realize, em conjunto
com a APP Sindicato, entidade que representa professoras e professores
estaduais, a 1ª Conferência Estadual da Cultura de Paz nas escolas estaduais
paranaenses. O objetivo desta conferência é reunir a comunidade escolar –
alunos, pais, professores, psicólogos e funcionários, para debater a realidade
interna das escolas com foco no relacionamento e na divulgação de valores que
se contraponham à violência, muito presente nos discursos em nossa sociedade
atualmente.
A ideia é
que realizemos o debate primeiro dentro de cada escola e, depois avancemos para
o debate regional, tendo como próxima etapa uma grande conferência estadual que
culmine em ações a serem desempenhadas pelo poder público e a comunidade
escolar como contribuições para termos uma sociedade mais humana, começando
dentro de nossas escolas, refletindo em nossas vidas, ações e relações.
*Arilson
Chiorato é Mestre em Gestão Urbana e Deputado Estadual PT/PR
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