quarta-feira, 6 de março de 2019

Não reconhecido pela maioria do povo venezuelano, Guaidó é mais famoso na Colômbia


Aprovação do deputado opositor é de apenas 21% entre venezuelanos; já para 52% a 57%, Maduro é o único presidente
Juan Guaidó (ao centro) e o presidente da Colômbia, Iván Duque (à sua direita), usam do ataque a Maduro para aumentar popularidade / Foto: AFP
Pesquisas de opinião realizadas no mês de fevereiro apontam que a maioria da população venezuelana segue reconhecendo Nicolás Maduro como o único chefe de Estado do país. Isso ficou demonstrado em duas pesquisas. A realizada pela empresa venezuelana Hinterlaces aponta que 57% da população local entende Nicolás Maduro como o presidente legítimo da Venezuela.
Outra pesquisa, feita pela empresa brasileira Ideias a pedido da revista Exame, indica que cerca de 52% dos venezuelanos responderam que Maduro é o presidente da República. Enquanto 21% reconhecem o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, que no dia 23 de janeiro se autoproclamou presidente interino do país. Já 18% não responderam e 9% disseram que não sabiam.
Fora da Venezuela, no país vizinho, a Colômbia, o cenário se inverte. A empresa de pesquisa colombiana Invamer afirmou que a popularidade de Guaidó entre a população colombiana é de 70%, ou seja, mais alta do que a do próprio presidente do país, Iván Duque, que teve 42% de aprovação em fevereiro.
E ainda assim é um cenário favorável para o fiel apoiador de Guaidó, já que a popularidade do presidente colombiano subiu 15 pontos nos últimos dois meses, período de início de uma ofensiva da nação vizinha contra a Venezuela. Antes disso, os problemas internos da Colômbia tinham provocado uma queda em sua popularidade. Entre novembro e dezembro de 2018, aqueles que avaliavam positivamente o governo de Duque caíram de 53% para 27%, de acordo com a mesma empresa.
O impacto da repercussão da mídia estrangeira sobre o que está acontecendo na Venezuela pode ajudar a explicar o fato de o deputado opositor Juan Guaidó ser mais reconhecido fora do que na própria Venezuela.
De acordo com Marco Teruggi, sociólogo argentino radicado na Venezuela, o rápido aumento da popularidade de Guaidó junto à população venezuelana e de outros países se trata de uma criação midiática, visto que ele era praticamente desconhecido antes de se autoproclamar presidente interino.
“Existe um exagero comunicacional, que foi o ponto inicial para construir a imagem de Guaidó. Os meios ocultaram a dimensão real que tinha sua imagem dentro do território venezuelano. Quiseram apresentá-lo como uma nova liderança, alguém transversal à sociedade multiclassista. Houve uma construção midiática para legitimar essa afirmação, mas a realidade está bem longe disso. Tentaram construir artificialmente uma liderança. Isso teve um peso importante fora da Venezuela e, em alguns países, conseguiu-se convencer de que existem, efetivamente, dois presidentes na Venezuela”, analisa o sociólogo.
Meios tentaram construir artificialmente uma liderança na Venezuela, diz sociólogo | Foto: Federico Parra/AFP


Desconhecimento recente
Cerca de dois meses atrás, Juan Guaidó poderia ser considerado um desconhecido por boa parte dos venezuelanos. Isso é o que mostrou uma pesquisa da Hinterlaces, feita no dia 20 de janeiro, que apontava que 81% da população não sabia quem era o presidente da Assembleia Nacional.
Dias depois, em 23 de janeiro, ele voltou a se autoproclamar presidente interino do país, invocando o artigo 233 da Constituição. Tal artigo diz que, em caso de “ausência absoluta do presidente”, deverão ser convocadas novas eleições a serem realizadas em um prazo de 30 dias. Este ato de Guaidó foi prontamente reconhecido por países como os Estados Unidos e os membros do Grupo de Lima.  
parte da oposição que apoia Guaidó diz não reconhecer a eleição presidencial realizada em 20 de maio de 2018, por suportas fraudes. No pleito, Maduro alcançou 5,8 milhões de votos, ou 68%. No entanto, creem como legítimas as eleições de 2015, quando o atual líder opositor foi eleito deputado, com 97 mil votos. Segundo especialistas e observadores internacionais, as duas eleições contaram com as mesmas condições.
Já a votação que levou Guaidó ao cargo máximo do Legislativo venezuelano, a Assembleia Nacional, foi considerada simbólica, pois se tratou de um acordo entre os partidos opositores, que dominam o órgão. Na eleição do último dia 6 de janeiro, foi a vez do partido de Guaidó assumir a liderança, como explica o vice-presidente da Casa, o deputado Edgar Zambrano, do partido Ação Democrática. “A presidência da Assembleia Nacional já havia sido exercida pelos partidos Primeiro Justiça e Ação Democrática. Era a vez do Vontade Popular, e Guaidó foi uma indicação de seu partido. Foi um acordo que fizemos”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato.
Fonte: Brasil de Fato

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