Relembre o atentado contra a Caravana Lula pelo
Sul, em Quedas do Iguaçu (PR), e seus desdobramentos
Comboio da Caravana Lula pelo Sul foi atingido com dois disparos de arma de fogo no Paraná, no dia 27 de março de 2018 / Daniel Giovanaz |
O
jornalista Joaquim de Carvalho, do portal Diário
do Centro do Mundo, lembra bem daquele momento. “Eu me lembro que a
certa altura houve um barulho seco, diferente daquele barulho que a gente
costumava ouvir que era de pedrada, de ovos, era algo seco. Mas não deu para
saber o que era no momento. Algumas pessoas imaginaram que fosse tiro de
chumbinho, mas parecia algo mais grave do que isso”.
Ao
desembarcar, os passageiros constataram duas marcas de disparos de arma de fogo
contra o ônibus que levava os jornalistas que acompanharam os dez dias de
recorrido pelos três estados da região sul do país. A polícia então foi
acionada.
“Depois
que tudo isso passou, algumas horas depois, é que começou a cair a ficha. E eu
pensei: ‘Cara, podia ter morrido gente’. Foi algo muito grave o que aconteceu.
Agora, mais grave ainda é que não houve nenhum esclarecimento”.
Embora
tenha conseguido assustar a comitiva que acompanhava o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o atentado não feriu ninguém.
Cláudia
Motta, jornalista da Rede
Brasil Atual, conta que já havia feito a cobertura
de outras duas caravanas do ex-presidente. Mas, pela proximidade da campanha
eleitoral, o nível de violência e organização dos grupos opositores foi
distinto no sul do país. Por todo o trajeto de mais de três mil quilômetros,
grupos identificados como apoiadores do então deputado federal Jair Bolsonaro
lançaram pedras, ovos e até rojões contra os ônibus da caravana.
“Nas
duas, sempre tiveram episódios pequenos. No nordeste, nas capitais, de vez em
quando, uma coisinha de nada. Em Minas idem. O que a gente viu desde o primeiro
dia no sul era uma coisa muito orquestrada. Conforme a gente olhava pela
estrada, as pessoas eram as mesmas sempre. Tinha um grupo, pelo que me parecia,
pois não tenho como comprovar. Mas, nesses grupos que acompanharam a
caravana, tinham sempre pessoas parecidas”.
O
jornalista Murilo Matias também acompanhava a caravana e lembra que, desde Bagé
(RS), a primeira cidade visitada pela caravana do ex-presidente Lula, as cenas
de violência se repetiram em cada localidade.
“Algumas
cenas foram muito impactantes nesse caminho. Por exemplo, a cena das pessoas
que esperavam nos trevos, que era justamente quando os ônibus naturalmente têm
que reduzir a velocidade para passar, e as pessoas estavam esperando para jogar
pedras e nós tínhamos que nos abaixar para não sermos atingidos”.
Homem usa chicote para agredir apoiadores de Lula no campus da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Foto: Guilherme Santos/Sul 21 |
Um dos momentos de
maior tensão ocorreu em Chapecó (SC), onde grupos violentos feriram mulheres,
crianças e idosos ao lançar pedras e rojões contra a concentração de apoiadores
do ex-presidente, tudo sob a guarita da Polícia Militar do Estado de Santa
Catarina.
“Eu me
lembro bem que, naquela ocasião, havia um empenho muito grande das pessoas que
participavam naqueles atos de não reagir, porque sabiam que, se de alguma
maneira reagissem, a polícia viria para cima. Era o pretexto que queriam para
tumultuar ou para gerar um conflito ainda maior”.
Apesar
dos sustos, Cláudia lembra que também houve momentos memoráveis da passagem do
ex-presidente Lula pelos estados do sul.
“Uma
coisa que eu nunca esqueço de Chapecó é que, enquanto ele falava, as bombas dos
opositores, que eram poucos do outro lado da rua, foram silenciando. Parece que
até eles pararam para ouvir o presidente Lula”.
Peixe
morre pela boca
Algumas
reações no mundo político ao atentado contra a caravana causaram perplexidade
por insuflar ainda mais a violência política no Brasil. O então deputado e
agora presidente da República, Jair Bolsonaro, ironizou o ataque e sugeriu que
o atentado fosse uma “armação”.
“Está
na cara que alguém deles deu os tiros. A perícia deverá ficar pronta entre hoje
e amanhã e vai apontar a verdade”, disse em um comício em Ponta Grossa (PR) no
dia seguinte ao atentado. Meses depois, o próprio Bolsonaro seria vítima de um
atentado a faca que quase o tirou da corrida eleitoral.
Jair Bolsonaro, ao lado de Felipe Franscischini, em discurso contra Lula em Ponta Gossa. Foto: Reprodução |
O ex-governador do
estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que figurava naquele momento como
o principal candidato da centro-direita ao governo federal, afirmou: “Acho que
eles [o PT] estão colhendo o que plantaram”, disse o tucano que terminou em 4º
lugar, com menos de 5% dos votos.
Já o
atual governador de São Paulo, então prefeito da capital paulista, João Dória
(PSDB), disse que “o PT sempre utilizou da violência, agora sofreu da própria
violência”.
As
investigações
Muitas
controvérsias vieram esquentar ainda mais o assunto do atentado contra a
caravana do ex-presidente Lula. Logo após o ataque, a Secretaria de Segurança
Pública do Paraná (SESP-PR) declarou em nota que “não houve, por parte do
ex-presidente, pedido de escolta”, informação que foi desmentida em seguida
pelo diretório estadual do PT, que divulgou o conteúdo do pedido encaminhado às
autoridades paranaenses. “O PT pediu, sim, ao governo do estado que
providenciasse toda a segurança para a caravana”, declarou o partido.
Homem é flagrado portando arma dentro do campus da UFSM. Foto: Reprodução |
Dias depois, o Brasil de Fato denunciou
que o jornalista Karlos Eduardo Antunes Kohlbach, assessor de imprensa da SESP-PR, também se apresentava como
assessor de imprensa do comitê de campanha do então pré-candidato presidencial
Jair Bolsonaro (PSL) em Curitiba. Procurado pela
reportagem, o assessor afirmou que a assessoria de imprensa do comitê de Bolsonaro
era eventual e não configurava uma relação de trabalho. A colaboração com o
comitê, sem remuneração, teria sido feita a pedido do deputado federal Fernando
Francischini (PSL), amigo pessoal do jornalista e pai do atual presidente da
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, Felipe
Francischini.
No dia
5 de abril, a Polícia Civil do Paraná divulgou o resultado da perícia que
atestou que a caravana de Lula foi atingida por dois tiros de arma de fogo
calibre 32. Os disparos perfuraram a lataria de um dos três ônibus da comitiva
petista na rodovia PR-473, entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras
do Sul. No dia 12 de abril de 2018, a polícia do Paraná informou haver
identificado o dono do terreno de onde teriam partido os tiros que atingiram um
dos ônibus: Leandro Langwinski Bonotto, fazendeiro de 45 anos com
histórico de conflitos com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
na região. Até o momento, ninguém foi responsabilizado.
O Brasil de Fato solicitou
à SESP-PR informações atualizadas sobre a investigação, por meio de sua
assessoria de imprensa, mas até a publicação dessa reportagem não havia obtido
retorno.
Caravana volta à percorrer o
sul por Lula Livre
Os
comitês e a campanha nacional Lula Livre, assim como o
PT, irão promover uma nova edição da Caravana Lula Livre
no Rio Grande do Sul , Santa Catarina e Paraná, nos dias 5, 6 e 7 de abril,
respectivamente, com Fernando Haddad,
ex-candidato presidencial. A ação também terá o
compromisso de fazer resistência aos retrocessos de Jair Bolsonaro(PSL)
“O Lula
é o presidente de honra do PT. Temos uma obrigação moral de lutar contra essa
injusta prisão. O partido continua acreditando na Justiça, de que ela será feita. Lula é um preso político.
A Caravana é a primeira sem a presença física dele, mas com forte presença da
ideia Lula, do símbolo que ele é”, disse Carlos Árabe, secretário de
comunicação do PT. Clique aqui para saber mais
sobre a nova Caravana.
Fonte:
Brasil de Fato
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