O jornalista e historiador Christian Schwartz afirma que o
trço anti-intelectual que caracteriza a classe média brasileira é o elemento
político que sustenta o bolsonarismo; ele confronta a tese de uma cisão
identitária no eleitorado e afirma que Jair Bolsonaro venceu as eleições pela
união de camadas médias que, como os políticos, veem a educação como algo
ornamental ou pragmático
247 - O jornalista e historiador Christian Schwartz afirma
que o trço anti-intelectual que caracteriza a classe média brasileira é o
elemento político que sustenta o bolsonarismo. Ele confronta a tese de uma
cisão identitária no eleitorado e afirma que Jair Bolsonaro venceu as eleições
pela união de camadas médias que, como os políticos, veem a educação como algo
ornamental ou pragmático.
O historiador, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo,
destaca inicialmente: "há uma pergunta
que, respondida em toda a sua complexidade, tem o potencial de iluminar muito
do que se passou na política brasileira recentemente. É a seguinte: por que
caminhos (ou diabos) o 'Não me representa' dos protestos de junho de 2013
rapidamente virou o 'Mito! Mito!' que anima o comício permanente de Jair
Bolsonaro —e deve ser, ao que parece, uma espécie de grito de guerra deste
governo tribal? Num texto recente, a
jornalista e escritora Eliane Brum lançou a tese de que, segundo ela pela
primeira vez na história do Brasil, o presidente é um 'homem mediano'. O
argumento avança em três movimentos."
Ele
prossegue: "expõe, primeiramente, o que seria um contraste: ao contrário
de todos os seus antecessores no cargo (o texto silencia, curiosamente, sobre a
única antecessora, nem uma só vez mencionada), Bolsonaro careceria de
excepcionalidade. 'Jair Bolsonaro é o homem que nem pertence às elites nem fez
nada de excepcional. Esse homem mediano representa uma ampla camada de
brasileiros', escreve a jornalista. Nas
duas etapas seguintes, reafirma a explicação padrão de nossos intelectuais
ditos progressistas para o fenômeno, este sim inédito, de um presidente de
extrema direita."
E
complementa: "começa pela assertiva de que 'a posição do homem
heterossexual no topo da hierarquia nunca foi tão questionada como nos últimos
anos'; defende, a seguir, que os governos anteriores ao do interino Michel
Temer teriam feito avançar, em grau sem precedentes, direitos de gênero, classe
e, com especial destaque, raça. 'O reconhecimento destes direitos e a ampliação
do acesso dos negros a espaços até então reservados aos brancos teve grande
impacto no resultado eleitoral e também no antipetismo', reflete Brum."
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