Juventude, movimentos populares e brigada
cívico-militar ocupam de forma permanente ponte na divisa com a Colômbia
Cidadãos venezuelanos ocupam ponte onde do outro lado da fronteira estão caminhões enviados por EUA e Colômbia / Foto: Fania Rodrigues |
Na fronteira da Venezuela com a
Colômbia, uma ponte tornou-se símbolo de luta para os venezuelanos que defendem
a Revolução Bolivariana e o governo do presidente Nicolás Maduro.
Nessa terça-feira (12), teve início uma ocupação permanente na ponte Las Tienditas – localizada
no município de Ureña, estado de Táchira –, junto ao que chamam de tribuna
anti-imperialista, promovida por movimentos populares, brigadas civis e
militares e cidadãos da região.
Do lado
venezuelano, durante o dia e a noite, moradores e dirigentes sociais e
políticos realizam discursos de apoio ao governo Maduro, pela paz no país
e contra a tentativa de golpe protagonizada por opositores com apoio de
nações estrangeiras. Do lado colombiano, caminhões do que seria uma ajuda
humanitária vinda dos Estados Unidos e da Colômbia esperam entrar em território
venezuelano.
Como a
ponte Las Tienditas nunca entrou em funcionamento e não possui alfândega,
ou seja, não há autorização e fiscalização para circulação de
mercadorias, o governo nacional denuncia que
forças estrangeiras pretendem passar produtos de forma ilegal,
sem controle sanitário e aduaneiro.
Em um
ato realizado em Caracas na terça-feira (12), o deputado e líder opositor Juan Guaidó colocou
uma data para a entrada da ajuda humanitária. Seria o dia 23 de fevereiro,
quando completa um mês de sua autoproclamação como presidente interino da
Venezuela. Guaidó convocou uma caravana que sairá de Caracas e irá se dirigir
até a fronteira.
Ocupação de Las
Tienditas
“Essa
ponte foi construída pelo governo venezuelano como símbolo de unidade com o
povo colombiano. Mas agora se converteu em um símbolo de luta para nós, os
revolucionários, já que o imperialismo norte-americano pretende usar essa ponte
para passar uma suposta ajuda humanitária. Nessa ponte permanecemos em vigília,
toda a juventude de Táchira”, disse Willian Medina, um dos jovens que faz parte
da ocupação de Las Tienditas.
A
moradora Amariles Lavrador Moura, do município de Antonio Rómulo Costa, vizinho
de Ureña, participa da vigília e explica o porquê. “A direita
venezuelana está falando em ajuda humanitária. Nós não acreditamos em contos,
aqui não tem ajuda humanitária. Nosso país não passou por nenhuma
catástrofe natural, nosso país está em paz. Temos um povo livre, vitorioso e um
presidente constitucional, a quem respaldamos”, afirmou.
Os integrantes da
brigada bolivariana são alguns dos mais atuantes nesse processo de
ocupação e resistência. A brigada é conformada por civis com
treinamento militar e é o quinto componente da Força Armada Nacional
Bolivariana, junto como o Exército, a Aeronáutica, a Marinha e a Guarda
Nacional.
Apesar
de fazer parte das Forças Armadas, a brigada bolivariana só atua quando
convocada, sobretudo quando ocorre uma situação irregular no país. Estima-se
que cerca de 1,6 milhão de venezuelanos compõem essa força de segurança
popular.
Além
disso, a ocupação da ponte também traz um outro
simbolismo. Enquanto do lado venezuelano o povo em suas várias formas de
organização e participação guardam a fronteira, do lado colombiano a presença
de apenas três militares deixa a sensação de isolamento do Estado em relação à
população da Colômbia.
No olho do furacão
O
parlamentar estadual Luis José Mora Jurado, que também preside a
Assembleia Legislativa de Táchira, comenta sobre os riscos e os desafios
que enfrenta hoje seu país. “A Venezuela está no olho do
furacão. É tema de um debate mundial. Não gostamos da situação em que
estamos, porque aqui está ocorrendo algo que pode gerar um conflito
continental”, avalia.
Estar
no centro dos interesses políticos de poderosas potências mundiais traz
consequências diretas à população, analisa o parlamentar, que afirma
que seu estado tem sofrido com o bloqueio e a pressão internacional sobre
a Venezuela. “Em Táchira, 80% do território é rural. É uma região de cultivo de
vegetais, hortaliças. E essa guerra econômica está agredindo os moradores de
Táchira e tem gerado carências de alimentos e remédios. Nossos insumos e
fertilizantes estão bloqueados”.
Segundo
moradores, a segurança pública nessa região de fronteira sempre foi
complica, mas em época de ameaça de conflito, a situação fica mais tensa. Isso
porque, entre outros fatores, Táchira é um estado que sofre
com influências de paramilitares colombianos.
Diante
disso, os movimentos populares venezuelanos se organizam para monitorar
qualquer movimentação anormal de grupos armados do país vizinho. “Até o
momento, não notamos nenhuma ação suspeita, se estão preparando algo, estão
fazendo muito bem. Mas estamos atentos e alertas. Estamos em uma situação de
tensão”, diz o líder camponês Ruben Rodríguez, dirigente da Corrente
Revolucionária Bolívar e Zamora no estado de Táchira.
Fonte:
Brasil de Fato
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