Plenária final estabelece rumos durante o governo
Bolsonaro, com objetivo de compor a unidade dos setores progressistas
Estudantes defenderam pautas como educação pública, liberdade de pensamento, soberania nacional e a batalha contra as reformas de Bolsonaro / Matheus Alves / CUCA da UNE |
Com diversas bandeiras empunhadas e um coro único: "Vai avançar a unidade popular". Foi assim que a 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE) encerrou, neste domingo (10), em Salvador. A plenária final divulgou uma carta unificada com as diretrizes para as lutas do movimento estudantil para o enfrentamento dos retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro, com um objetivo principal: a união do setor progressista.
Aprovada
pelos quase cinco mil estudantes presentes à assembleia, o texto convoca todos
os jovens a ocupar as ruas em defesa da democracia e pela manutenção e avanço
de políticas que promovam o acesso irrestrito à educação de qualidade. De
acordo com os estudantes, a eleição de Bolsonaro dá ao momento estudantil
brasileiro uma ampla responsabilidade de compor a frente pela construção uma
unidade na esquerda. "A tarefa da nossa geração é ampliar o diálogo,
amparar as divergências e fortalecer a organização em torno da defesa de nossa
soberania, os direitos sociais e a democracia", diz a carta, assinada
conjuntamente pela UNE, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e
a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Em onze
pontos, o documento consagra a unidade dos movimentos progressistas, defende a
educação pública, a liberdade de pensamento e a autonomia universitária, a
soberania nacional, a luta contra a reforma da Previdência e Trabalhista, além
do restabelecimento das garantias constitucionais e democráticas, a defesa dos
direitos sociais, e a luta contra prisões políticas.
Lida em
conjunto, os estudantes reivindicam que seja cumprido o Plano Nacional de
Educação (PNE) e a destinação de 10% do PIB para a educação, além da manutenção
das políticas de cotas como forma de democratizar o acesso à universidade.
“Defendemos (a aplicação de receitas da exploração do) pré-sal para o setor
educacional, garantindo o orçamento para nós e o fim da Emenda Constitucional
55, que congelou os gastos públicos por 20 anos. Queremos o fomento à pesquisa
e as bolsas de pós-graduação", afirmou o movimento, na leitura da carta.
O texto
ainda aponta preocupação com a fragilidade da democracia brasileira e apologia
à volta da ditadura e defenderam o direito de livre associação e manifestação
dos cidadãos. "Consideramos a prisão de Lula arbitrária. Exigimos
justiça para Marielle Franco e Anderson. Lamentamos que Jean Wyllys não tenha
tomado posse para seu mandato, eleito democraticamente por voto popular, e
exigimos saber quem o ameaça. A possível CPI da UNE é a criminalização do
movimento estudantil", acrescentaram os jovens.
Homenagem
A
cerimônia de encerramento não contou só com protestos, mas também revisitou a
memória da UNE. Logo no começo, foi realizado um ato para homenagear Ruy Cesar
Costa, responsável pelo Congresso da UNE de 1979, em Salvador, exatos 40 anos
atrás, durante a ditadura civil-militar. O evento ocorreu após 15 anos em
que o movimento se matinha na clandestinidade e era perseguido pelo
governo.
Uma
carta também foi lida em sua memória. Os estudantes relataram saudade e se
disseram inspirados pela luta do antigo companheiro. "Viemos à Bahia para
dizer que nunca vamos desistir. Quem nos persegue hoje, é quem se acovarda nos
coturnos da ditadura e se esconde na mordaça. Quem nos persegue hoje é quem
conteve os brilhos do seus olhos em 1979. Rui Cezar Costa, presente".
O passado presente
Outros
líderes da UNE também foram homenageados. Estiveram presente na plenária final
os ex-presidentes Javier Alfaya (1981-1982), Ricardo Capielli (1999-2000) e
Carina Vitral, além do fotógrafo Milton Guran, que registrou imagens do
Congresso de 1979.
Javier
contou que foi ameaçado de expulsão da UNE, durante a ditadura, porquê nasceu
na Espanha e veio cedo ao Brasil. Ele falou sobre a importância do evento que
construiu a entidade há 40 anos para os dias atuais.
"Para
todos nos que fizemos parte da luta estudantil, é emocionante ver a
continuidade da luta por parte das novas gerações, que tem a tarefa de combater
o governo reacionário de Bolsonaro. Esse momento exige da sociedade civil
brasileira uma ideia de que a unidade precisa ser construída. Na época vieram
11 mil jovens para reconstruir o movimento, com o abraço da sociedade civil. O
Congresso da época foi emocionante, com solidez e combatividade",
relembrou.
Já
Ricardo foi o organizador da 1ª Bienal da UNE, em 1999, também na capital
baiana. Aquela edição contou com a participação do líder da revolução
cubana, Fidel Castro. "Volto a Salvador, quando demos um passo importante
para retomarmos encontro da UNE com a cultura nacional popular do país. O
objetivo do primeiro evento era deixar a semente para outras bienais, agora,
esse movimento cresceu e reverbera pelo país inteiro", celebrou.
Por
fim, Guran também falou sobre o Congresso de 1979, na qual é responsável pelas
únicas fotos sobreviventes da época. "Estávamos reorganizando o campo
popular do Brasil. Fui o único fotografo que cobriu todo o congresso. Para
vocês terem ideia, só 54 sobrevieram, porque jogaram fogo na Agência Imprensa
Livre", relatou. "Ninguém me disse, mas hoje eu sei. A universidade
acaba, o tempo de estudante acaba, mas a a UNE nunca sai de nós",
finalizou.
Fonte:
Brasil de Fato
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