Fernando Haddad diz que o DEM, no comando da Câmara e do
Senado, irá articular e coordenar os interesses das chamadas bancadas da bala,
do boi e da Bíblia - interessadas no endurecimento das penas e na liberação da
posse e do porte de armas, no agronegócio, e no ensino religioso; "O DEM,
na Casa Civil e na presidência das duas Casas se habilita para exercer a função
em troca de poder. Desde o fim da ditadura espera esse momento", afirmou
Haddad
Por Tiago Pereira, da RBA - Com Rodrigo Maia (DEM-RJ)
reeleito para comandar a Câmara dos Deputados e Davi Alcolumbre (DEM-AP) eleito
presidente do Senado, o partido (ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) volta a comandar as
duas Casas Legislativas depois de 36 anos (quando era PDS), passando a ter
poderes ascendentes sobre o governo Bolsonaro. A aprovação de qualquer medida
importante para o governo dependerá do apoio do veterano Maia e do novato
Alcolumbre. Essa concentração de poderes pode, inclusive, causar rusgas com o
próprio PSL, partido do presidente.
Para o
ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), o DEM
no comando da Câmara e do Senado vai articular e coordenar os interesses das
chamadas bancadas da bala, do boi e da Bíblia. A primeira, interessada no endurecimento
das penas e na liberação da posse e do porte de armas pela população. A
segunda, representando os interesses do agronegócio. E, por último,
parlamentares ligados a diferentes grupos evangélicos, que em suas pautas
defendem o ensino religioso e são contra a educação sexual nas escolas, além de
se oporem à descriminalização do aborto.
"O DEM, na
Casa Civil e na presidência das duas Casas, se habilita para exercer a função
em troca de poder. Desde o fim da ditadura espera esse momento", afirmou
Haddad, que disputou as eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PSL) em
outubro do ano passado.
A
última vez que o partido controlou as duas Casas foi em 1983, ainda durante a
ditadura civil-militar, com o deputado Flávio Marcílio (PDS-PI) e o senador Moacir
Dalla (PDS-ES), durante o governo do general João Figueiredo. Na época o
partido tinha abandonado a sigla Arena, que dava apoio ao regime.
A
presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), frisou que o governo
"volta a ser comandado por militares, com a antiga Arena dominando o
Congresso", em alusão à presença de representantes das Forças Armadas em
diversos cargos na Esplanada dos Ministérios e à vitória do DEM (ex-Arena) no
Congresso. "De nova essa política não tem nada! Logo vêm os resultados:
velhas medidas contra o povo: menos previdência, menos direitos trabalhistas,
menos renda. O mercado agora tem como implementar."
Para o diretor
licenciado do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap),
Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, a ascensão do DEM – que controla apenas
a sexta maior bancada, na Câmara, e a terceira, no Senado – significa que o
partido do governo, o PSL, não tinha quadros com "estatura, experiência e
conhecimento" para disputar o comando do Congresso. Ele lembra ainda da
proximidade entre Alcolumbre e o ministro-chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni
(DEM-RS). O agora presidente do Senado emprega em seu gabinete Denise
Veberling, esposa de Onyx, desde 2016.
"Toda
essa campanha do governo Bolsonaro é contraditória. O Bolsonaro não é a nova
política. Está aí a 28 anos. E agora, em nome da 'nova política', elegeram-se
velhos políticos para conduzir as duas Casas, mas velhos políticos alinhados
com o programa do governo Bolsonaro", diz Toninho.
Apesar
das velhas práticas, a inexperiência do novo presidente do Senado também pode
trazer problemas ao governo, segundo o diretor do Diap. Ele também prevê que a
concentração de poderes do DEM, se não for bem administrada a relação com o
PSL, pode ser objeto de conflitos e rivalidades.
Toninho
discorda de Haddad, no entanto, sobre eventual apoio do DEM às pautas
conservadoras dos grupos evangélicos. Por outro lado, ele diz que o governo
terá 100% de apoio do partido nas pautas econômicas que dizem respeito à
redução do tamanho do Estado, com privatizações e reformas, como a da
Previdência. "Maia já deu sinalizações de que se entrar o que chama de
pauta cultural antes da pauta econômica pode inviabilizar todo o
processo."
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