Alimentos comprados com recursos próprios da
Venezuela são distribuídos a moradores de Táchira, fronteira
Governo Maduro organiza campanha de distribuição de alimentos em cidades fronteiriças à Colômbia / Foto: Fania Rodrigues |
Diversas ações de distribuição de
alimentos e medicamentos ocorrem em comunidades do
estado venezuelano de Táchira, fronteira com a Colômbia, nesta semana. Quem
realiza esse operativo é o próprio governo venezuelano, do presidente Nicolás Maduro.
Essa é uma resposta às tentativas de entrada de caminhões com ajuda
humanitária vindos do município colombiano de Cúcuta, a mando dos Estados
Unidos.
Segundo
Freddy Bernal, representante do governo nacional em Táchira, os caminhões estão
parados nas proximidades da ponte Tienditas, do lado colombiano, e
transportam cerca de 90 toneladas de alimentos, o que seria suficiente
para alimentar apenas 5 mil pessoas durante dez dias. “Por isso que dizemos que
isso é um show midiático, pois essa quantidade de alimentos não tem nenhum
impacto na região. Isso é uma fraude humanitária. O povo da Venezuela não é
mendigo. Nós, todos os meses, distribuímos 6 mil toneladas de alimentos para
centenas de famílias somente no estado de Táchira”, destaca.
Ainda
de acordo com Bernal, “nenhuma autoridade colombiana entrou em contato com as
autoridades políticas e militares venezuelanas para comunicar a intenção de
ingressar com essa suposta ajuda humanitária”. Seguindo a posição do governo dos EUA,
a Colômbia e outros países da
região, entre eles o Brasil, passaram a não reconhecer o governo
do presidente Nicolás Maduro, eleito no ano passado e
que tomou posse em janeiro deste
ano, para considerar como chefe do Executivo o deputado
autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó.
O
carregamento da ajuda humanitária contém alimentos desidratados
e suplementos nutricionais, de acordo com o governo. “Nós não comemos esse
tipo de comida, não estamos acostumados”, diz o taxista venezuelano Javier
Barrios, ao saber que os prometidos pacotes de alimentos prometidos pelos
EUA são de comida desidratada.
Em
entrevista coletiva, Freddy Bernal, que também é membro do Partido
Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criticou a qualidade dos produtos
enviados pelos Estados Unidos. “Esses alimentos não passaram por
inspeções nem controle sanitário e, portanto, não são próprios para o
consumo humano”.
O
político também acusa o governo colombiano de utilizar a
suposta ajuda humanitária para fazer negócios. “Boa parte dos produtos
foram comprados na Colômbia. O governo de Iván Duque quer criar uma crise
humanitária para aquecer o comércio de Cúcuta”, diz Bernal.
A crise
econômica e social pela qual atravessa a Venezuela tem como um dos fatores
o bloqueio econômico
imposto pelos EUA e outros países,
principalmente sobre o petróleo venezuelano. Desde 2017, Donald Trump
vem aplicando uma série de sanções econômicas sobre autoridades venezuelanas e
também sobre o governo e empresas privadas no país, além de companhias
estrangeiras que atuam na Venezuela. O país latino-americano também foi
proibido de fazer qualquer transação em dólar. Muitas contas foram fechadas e
recursos públicos bloqueados no exterior.
Atividades na
fronteira
Enquanto
o governo da Colômbia ameaça entrar à força com a ajuda humanitária
na Venezuela, na ponte internacional Simón Bolívar, no município venezuelano de
San Antonio del Táchira, moradores de ambos os países parecem ignorar por
completo as divergências entre os dois governos. Em um vai e vem constante,
centenas de pessoas cruzam diariamente a fronteira.
O
comércio bilateral também continua intocável. “Existe um
convênio entre os governos da Venezuela e da Colômbia. O intercâmbio legal
já existe. Cerca de 37 caminhões, de 30 toneladas com produtos cada um, entram
na Venezuela todos os dias de forma legal”, afirma o representante do governo
de Nicolás Maduro no estado Táchira.
O
governo venezuelano defende que todos os alimentos e produtos passem pelos
controles de aduana e sanitários. Além disso, o conceito de ajuda
humanitária usado pelo governo dos Estados Unidos é questionado. “De
acordo com as Nações Unidas, o uso de ajuda humanitária podem usar em três
ocasiões: se o país passou por uma catástrofe natural, que não é o caso da
Venezuela; uma guerra, também não se aplica; ou se o presidente legítimo
solicita. Nesse caso teria que ser feito um pedido às Nações Unidas. O
presidente legítimo da Venezuela e as Nações Unidas não apoiam essa ação ilegal”.
Em seu
site, a ONU divulgou nota em
que afirma que o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários
(OCHA) está observando os acontecimentos na fronteira entre Venezuela e
Colômbia, incluindo a situação do comboio que tenta entrar em território
venezuelano.
“Sobre
a situação na fronteira, a ONU está monitorando a situação de perto”, disse Jens
Laerke, do OCHA. “O cenário ideal é que ajuda humanitária seja fornecida,
independentemente de quaisquer considerações políticas e outras que não sejam
puramente humanitárias, e isto é baseado em necessidade, e apenas necessidade”.
A
oposição venezuelana, partidos de direita e simpatizantes do presidente da
Assembleia Nacional em desacato, Juan Guaidó, convocaram uma marcha para esta
terça-feira (13), no estado de Táchira. No entanto, a presença do
deputado não foi confirmada.
Fonte:
Brasil de Fato
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