Bebianno e Bolsonaro |
POR RICARDO KOTSCHO
Quinta-feira, 14 de
fevereiro de 2018.
Está na hora de
falar português claro, com todas as letras: o capitão reformado Jair Messias
Bolsonaro já provou, apenas 45 dias após a sua posse, que não tem a menor
condição de governar o país por quatro anos.
O batalhão de
generais que ele levou para o governo já sabe disso.
Eleito presidente da
República sem participar de debates, sem apresentar qualquer plano concreto de
governo, apenas atacando os adversários e repetindo bordões imbecis nas redes
sociais, era uma caixa preta levada pelo voto ao Palácio do Planalto para
derrotar o PT.
Agora, que o país
vai descobrindo, a cada dia mais assombrado, de quem se trata, não adianta
repetir que “é preciso torcer para dar certo porque estamos todos no mesmo
avião”.
Não tem como dar
certo. Bolsonaro vai pilotando a esmo, sem qualquer plano de voo,
desviando das nuvens pesadas em meio a tempestades que ele mesmo e seus
celerados filhos não cansam de provocar.
Os militares que o
apoiaram sabiam muito bem quem era o capitão reformado pelo Exército aos 33
anos por atos de indisciplina, não podem alegar inocência.
Bastava consultar
seu prontuário no breve tempo em que serviu ao Exército.
Mesmo sabendo o
risco que corriam, foi a forma encontrada pelos militares e seus aliados daqui
e de fora para voltarem ao poder, apenas 34 anos após o fim da ditadura.
Definido pelo
general Ernesto Geisel como “mau militar”, Bolsonaro passou sete mandatos
escondido no baixo clero da Câmara, sem fazer nada que preste, e resolveu ser
candidato apenas por capricho para combater seus inimigos reais ou imaginários.
Fez da campanha
eleitoral uma guerra, imitando arminhas com as mãos, e ameaçando fuzilar a
petralhada.
Uma vez no poder,
continua sua guerrilha nas redes sociais, sob o comando do filho Carlos, mais
conhecido por Carlucho, o 02, chamado pelo presidente de “meu pitbull”.
Ao retornar a
Brasília nesta quarta-feira, depois de passar 17 dias internado num hospital em
São Paulo, recuperando-se da terceira cirurgia, sem passar o cargo para o vice,
em quem ele e os filhos não confiam, Bolsonaro encontrou um banzé armado no
Palácio do Planalto.
O 02 resolveu
detonar pelo twitter o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, dono
do cofre da campanha do PSL, denunciado por variadas falcatruas com a verba do
fundo eleitoral.
Em mais uma
entrevista à Record, Bolsonaro apoiou o filho e resolveu carbonizar o seu
ministro mais próximo, dando uma ideia do clima no Palácio do Planalto.
Bebianno, que deve
saber demais, não pediu demissão nem foi demitido até a hora em que escrevo
este texto.
Como devem se sentir
agora os outros auxiliares do presidente, que nem conhecia a maioria deles, e
foi montando seu ministério meio a olho, catando o que de pior encontrou em
cada área?
Este já é de longe o
pior ministério da história da República. E vai governar com o pior Congresso e
o pior Supremo Tribunal Federal que já tivemos.
Com a revelação do
laranjal de candidatos bancados com dinheiro público, desviado para gráficas
fantasmas, sabemos agora como foi montado o esquema da “nova política”, que
levou uma manada de cacarecos para Brasília.
Antes que se pudesse
imaginar, eles já estão se engalfinhando por nacos de poder no governo e no
Congresso, num clima de desconfiança generalizada, todos andando de costas para
a parede.
Twitter, WhatsApp,
Facebook, tudo isso pode ser muito bom e bonito para eleger um presidente pelas
redes sociais, mas é impossível governar com um celular na mão, sem ter a menor
ideia do que se pretende fazer para enfrentar os gravíssimos problemas sociais
e econômicos do país.
A impressão que me
dá é que Jair Bolsonaro não esperava ganhar a eleição quando se lançou
candidato e agora já deve estar arrependido de ter vencido.
De crise em crise,
de recuo em recuo, de trombada em trombada, a caixa preta desse circo de
horrores vai sendo aberta para espanto do mundo civilizado.
Das duas uma: ou os
generais vão tutelar o ex-capitão por mais quatro anos ou o país enfrentará uma
crise institucional sem precedentes.
A primeira
providência deveria ser tirar os celulares das mãos dos Bolsonaros.
Vida que segue.
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