quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Mercenários praticam violência e roubos em bairros chavistas, relata jornalista


Vivendo em Caracas, brasileira aponta que EUA financiam grupos opositores para provocar o caos no país latino-americano
Bairros populares de maioria chavista são alvo de ataques de grupos opositores, denuncia jornalista brasileira radicada em Caracas / Foto: Agência Venezuelana de Notícias (AVN)

Avança a passos largos a tentativa de golpe de Estado na Venezuela, orquestrada pelos Estados Unidos. Enquanto a oposição não tem força, nem programa, nem unidade para ganhar as eleições, a "saída” para tomar o poder é a legitimação de um governo paralelo, o roubo do patrimônio venezuelano no exterior e a incitação a uma guerra civil.
Não existem mortos nos atos públicos organizados pela oposição. Nesta semana, novas manifestações foram convocadas em, ao menos, 17 lugares de Caracas. O deputado opositor Juan Guaidó saiu a público, assim como no dia 23 de janeiro – quando se autoproclamou presidente encarregado da transição na Venezuela – e ninguém se feriu ou foi preso.
Diferente de outros países, como a Espanha, que prendeu o ex-presidente da Catalunha Carles Puigdemont e outros líderes independentistas catalães por terem convocado – e vencido – um referendo separatista. Puigdemont segue preso. Onde estão as vozes defensoras da liberdade de expressão condenando o governo espanhol? 
Em vários outros países, seria normal uma pessoa que se “autodeclara” chefe da nação, recebe financiamento internacional e nomeia cargos diplomáticos no exterior ser presa por conspiração, organização criminosa ou até mesmo traição à pátria. Mas na Venezuela não. 
Nesse país onde não existe monarquia parlamentar nem ditadura, porque as pessoas saem a votar de maneira facultativa, não porque são obrigadas, e elegem há 20 anos o projeto bolivariano, bom, aqui, prender Guaidó seria considerado um abuso de poder. 
As manchetes da grande imprensa brasileira, que se referem às pessoas mortas, tem a ver com os focos de violência, criados pela oposição justamente para incitar uma guerra civil e gerar um falso cenário de caos. Segundo o Ministério do Poder Popular para a Comunicação e a Informação, somente na última semana foram registrados 255 protestos violentos, com 210 feridos e 118 assaltos a propriedades públicas e privadas.
Os 20 milhões de dólares anunciados, na quinta-feira passada (24), pelo secretario de Estado dos Estados Unidos como "ajuda humanitária" têm a finalidade de financiar mercenários e paramilitares, que, na madrugada, nos bairros periféricos, queimam e saqueiam propriedades, como se fosse uma ação normal de descontento popular. Mentira. Fazem isso, porque justamente nas zonas mais empobrecidas é onde o chavismo mais se fortalece.
Que tipo de manifestante sai às ruas "espontaneamente", no meio da noite, com granadas e fuzis?
Também é no mínimo curioso que as confederações de comerciantes (Consecomercio, Fedecámaras) – historicamente opositoras – orientassem seus afiliados a fecharem seus negócios hoje, porque “haveria novos saques”.
Esses enfrentamentos têm gerado mortes, porque são confrontos de guerra, uma guerra que está sendo criada por aqueles que dizem querer uma Venezuela "livre e democrática", mas, na verdade, só buscam o poder.
E por que afirmo tudo isso? Por que vivo em Caracas, próximo a várias favelas e tenho visto essa farsa ser noticiada diariamente pelos meios brasileiros.
Não nos enganemos, aqui o que existe é um povo que busca defender sua democracia frente a uma tentativa de golpe.
*Michele de Mello é jornalista em Caracas e militante do Polo Comunista Luiz Carlos Prestes.
Fonte: Brasil de Fato

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