A chegada da CNN ao Brasil, por meio do empresário Rubens
Menin e do jornalista Douglas Tavolaro, biógrafo oficial do bispo Edir Macedo,
que é um dos principais apoiadores do bolsonarismo no Brasil, foi saudada por
medalhões do jornalismo, mas com uma ponta de desconfiança; "é preciso
saber que autonomia terão os jornalistas", avalia Ricardo Kotscho;
"será que a CNN já chega com algum acordo na publicidade oficial?",
questiona Florestan Fernandes Júnior
247 – A chegada da rede de notícias CNN ao
Brasil, por meio do empresário Rubens Menin e do jornalista Douglas
Tavolaro, biógrafo oficial do bispo Edir Macedo, que é um dos principais
apoiadores do bolsonarismo no Brasil, foi saudada por medalhões do jornalismo,
mas com uma ponta de desconfiança. "Para um mercado de trabalho em
extinção, é sempre uma boa notícia a criação de 400 empregos para jornalistas,
como a CNN Brasil anunciou. Só é preciso saber qual o grau de liberdade e
autonomia essas jornalistas terão para contar o que está acontecendo no Brasil.
Se será como na CNN americana ou como nas emissoras nativas", diz o
jornalista Ricardo Kotscho, Jornalista pela Democracia, que já foi comentarista na Record.
Florestan Fernandes Júnior
levanta outra questão: será que já existe algum tipo de acordo com o governo
federal? "Feliz em saber que 400 vagas
para jornalistas serão abertas no mercado brasileiro com a chegada da CNN. Se o
telejornalismo seguir os padrões de qualidade da informação, independência e
imparcialidade, que são características da emissora norte-americana, teremos
motivos para comemorar", diz ele. "Acho que seria importante a
empresa dizer por que só agora decidiu apostar no mercado brasileiro. Além da
crise econômica que ainda enfrentamos, a CNN chega num momento em que o
trabalho dos jornalistas vem sendo desprezado pelo novo governo de extrema
direita, que prefere se comunicar através das redes sociais. Todos no
mercado de comunicação querem saber pra onde vão as polpudas verbas
publicitárias de empresas públicas como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, etc....Principalmente agora que o novo governo disse que vai
mudar os critérios para a distribuição das verbas publicitarias. Boa parte
deste dinheiro costuma ir para as emissoras de rádio e televisão. A Record de
Edir Macedo já declarou apoio ao novo governo. O SBT de Silvio Santos, também.
Mas o desafeto da família Bolsonaro, a Rede Globo, ainda não. Será que a
CNN Brasil vai chegar abocanhando parte destes recursos? Se isso acontecer
seria algo preocupante. Se não, como viabilizar o custo altíssimo de uma super
estrutura jornalística?"
Marcelo
Auler, que assim como Florestan e Kotscho integra a rede de Jornalistas pela
Democracia, traz uma abordagem ampla para a discussão. "Teoricamente, a pluralidade de canais de informação para o
leitor/eleitor é algo sempre positivo. Devemos sempre relembrar que a Liberdade
de Imprensa e de Expressão – que muitos confundem como direito dos jornalistas,
artistas e intelectuais - é, antes de tudo, um direito do cidadão. Ele, como
receptor do noticiário, tem o direito constitucional garantido de receber tais
informações de fontes diferentes e sem interferência (censura) quer dos
governos, quer dos empresários", diz ele. "Logo, o anuncio de um novo canal de notícias é bem-vindo.
Sempre. Mas – sempre há um mas, em se tratado de Brasil – é preciso saber ao
que se propõe esse novo canal, em especial em um momento em que toda a chamada
grande mídia come o pão que o diabo amassou, muito por conta da crise provocada
pelos chamados novos meios de divulgação. A isto, porém, soma-se uma boa dose
de incompetência que permitiu que sua credibilidade fosse jogada no lixo. Ou
seja, colhe frutos do que plantou ao manipular informações e entrar no jogo
político, em especial contra governos populares. Assim sendo, qualquer comemoração de um novo canal de TV
precisa ser cautelosa. Se for para repetirem o que já existe, como o Sistema
Bolsonaro de Televisão (SBT) ou mesmo as Records e Globos da vida, será chover
no molhado. Mais do mesmo. Se for para ser uma mídia independente como estão
sendo jornais do exterior com suas versões em português, ai sim, teremos o que
comemorar", pontua.
Record versus Globo?
O
colunista Alex Solnik vê fortes indícios de ligações entre a CNN Brasil e o
bispo Edir Macedo. "O nome de Douglas
Tavolaro como CEO da CNN Brasil não é o único sinal de que Edir Macedo, com quem tem ligações familiares e comerciais, pode ser
o verdadeiro sócio do canal. Um tuíte recente de Eduardo Bolsonaro revela que
seu pai tinha interesse nisso: 'Quando vier um jornal/canal conservador, o
negócio vai deslanchar'", relembra Solnik. Ao 247, o empresário Rubens
Menin negou vínculos com Edir Macedo. Solnik, por sua vez, diz que o empresário
terá a Globo como inimiga, caso a empresa dos Marinho perceba a CNN Brasil como
uma operação política.
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