Pelo Whatsapp, grupos bolsonaristas espalham versões mentirosas sobre
fatos relacionados com o rompimento da barragem ocorrido em Minas Gerais
Vale não foi reestatizada pelo PT, nem rompimento da barragem foi obra de atentato bolivariano |
São Paulo – Em
meio à tragédia do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que até
o momento deixou 60 mortos e 292 desaparecidos, grupos de apoiadores do
presidente Jair Bolsonaro (PSL) divulgam mentiras, boatos e notícias falsas
– fake news –
implicando desde a ex-presidenta Dilma Rousseff, a "agentes bolivarianos
com explosivos", passando pelo envio de veterinários, a pedido da
primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para cuidar de animais atingidos pela lama,
o que também não ocorreu.
O primeiro boato que começou a circular no
submundo das redes sociais desde a última sexta feira (25), quando ocorreu a
tragédia, acusa a ex-presidenta Dilma de ter reestatizado a Vale, e que
"petistas indicados" comandariam os negócios da empresa.
Em nota, o PT afirma que o atual
presidente da empresa, Fabio Schvartsman, não tem qualquer ligação com o
partido, e lembra que a estatal, criada por Getulio Vargas, em 1942, foi
privatizada em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
pelo valor de R$ 3,3 bilhões, e que não foi reestatizada durante as gestões
petistas.
Para efeito de comparação, a ex-estatal
teve R$ 11 bilhões do seu caixa bloqueados temporariamente pela Justiça para
eventual pagamento de indenizações aos atingidos em Brumadinho.
O partido também lembra que, durante as
mais de cinco décadas em que a mineradora permaneceu sob controle do Estado
brasileiro, "nunca houve desastre ambiental que chegasse perto dos de
Mariana e Brumadinho."
Decreto
Outra fake news ressuscitada após o
ocorrido em Brumadinho é que Dilma, em 2015, teria "transformado" a
tragédia de Mariana, quando o rompimento da barragem da mineradora Samarco
– controlada pela Vale e pelo grupo BHP Billiton – matou 19 pessoas, em
"desastre natural", supostamente suavizando os impactos da tragédia.
O decreto, editado 10 dias depois da lama da mineração devastar o distrito de
Bento Rodrigues, serviu na verdade para que as famílias dos atingidos pudessem
ter acesso a recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
"A má-fé dos que espalham fake news
continua a mil, mesmo diante da tragédia de Brumadinho. Em 2015, assinei
decreto que considera natural desastres como rompimento de barragens. Isso foi
para permitir àqueles atingidos sacar o FGTS para reconstruir suas vidas",
respondeu a ex-presidenta. O boato surgiu naquele ano, sendo desmentido à época
pelo site E-Farsas.
Atentado
Mas talvez a mais fantasiosa versão sobre
o episódio em Brumadinho envolve dois supostos agentes estrangeiros – um cubano
e um venezuelano – que teriam causado o rompimento da barragem da Vale com a
detonação de explosivos. Os suspeitos teriam sido detidos pela Polícia
Rodoviária Federal (PRF), em Minas Gerais, após troca de tiros que teria
deixado um morto.
Atribuídas à Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), e à própria PRF, as informações teriam sido divulgadas
pelo Observatório Direita Brasileira. Os nomes dos supostos perpetradores do
atentado, assim como o do observatório, foram inventados, e não constam de
nenhuma outra publicação ou documento, senão no texto que circula pelo
WhatsApp.
"Não há qualquer confirmação da Abin
das pessoas presas", afirma o site Boatos.org. O texto lembra que
uma notícia impactante como essa renderia manifestação oficial do governo
brasileiro e da própria Abin. "E não há nada. Nadinha."
A Abin divulgou nesta segunda-feira (28),
três dias após a circulação da mentira, uma nota em que afirma a informação é "totalmente inverídica".
Veterinários
Um perfil falso da primeira-dama, Michelle
Bolsonaro, diz que, a pedido dela, "com olhos cheios de lágrima",
"o ministro da Agricultura" teria enviado a Minas Gerais 100 médicos
veterinários para auxiliar no tratamento de animais atingidos pela lama da
Vale.
Segundo a Agência de Notícias de Direitos
Animais (Anda), são apenas sete veterinários e outros seis bombeiros civis que
também são auxiliares veterinários, prestando atendimento aos animais no
momento. Cabe lembrar também que é uma ministra, Tereza Cristina, e não um
ministro, que ocupa a pasta da Agricultura no atual governo.
Fonte: RBA
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