Vexame o país do pós-golpe.
E
o mais impressionante: o que ainda sustenta o resto de institucionalidade que
sobrou é o sentimento antipetista.
Ou
seja: eles não têm personalidade, projeto, autoestima, senso de ridículo e vida
própria.
E eles acham que vivem uma
"vitória" (muitos de nós também achamos; muitos de nós achamos que
"a esquerda perdeu").
Para
entender a nossa vitória, nem é preciso ter a capacidade de 'sentir' o tempo
histórico - o que é difícil e exige lastro. Não é preciso conhecer a história
para entender que o processo em curso nos fortalece (fortalece o nosso
discurso, a nossa ação, a nossa mobilização).
Quem
passa os dias (a vida) reclamando de "falta de mobilização da
esquerda" são os fracos que depois terão de ser amparados pela vergonha da
própria inércia.
A
gente dá água a esses pobres coitados.
A
'mobilização', caras-pálidas, é feita todos os dias, dentro de si. Esteja
mobilizado em sua existência e saiba que esse é o gesto de soberania espiritual
por excelência.
Quem
vive "esperando" que os outros se mobilizem pela própria causa (que
acha que tem), segue a própria sina pequeno-burguesa dos scrits pré-fabricados.
São agentes que gostam de aparecer em fotos de jornal e depois mostrar para
amigos dizendo: "olha como eu lutei pela democracia".
Se nós soubéssemos só um décimo da dimensão da nossa vitória política nesses
últimos 4 anos de barbárie golpista, nós nem estaríamos mais nesse lodaçal
bolsonarista.
Qualquer
cidadão que se dê ao respeito sabe que, para se conquistar uma vitória plena,
moral e convencional, é preciso acreditar que ela é, não só possível, como
real, concreta e inevitável.
E
eu, este cara-pálida que vos fala, tenho tanta certeza desta vitória que
prefiro pensar em algo um pouco mais ambicioso: é preciso que nós construamos
um adversário melhor no futuro próximo.
Porque
os adversários destituídos de autoestima fazem a sociedade inteira mergulhar em
um vale-tudo intragável e desmobilizador - o tal ceticismo histérico de muita
gente que se diz 'progressista'.
É
preciso - paradoxalmente - ajudar o adversário político nesse próximo ciclo
histórico que se aproxima rapidamente.
Esse
adversário não pode ser um tecnocrata moralmente fracassado como um tucano, nem
um fascista simbolicamente aniquilado como um bolsonarista.
É
preciso um adversário digno, que tenha conteúdo, que goste do debate, que
respeite a democracia, que saiba perder (para depois desfrutar a vitória real,
soberana, assim como nós desfrutamos).
No
terreno devastado depois dessa guerra violenta, a reconstrução não pode ser dar
apenas de um lado do espectro ideológico. Precisa se dar, justamente, naquele
lado que ainda nem existe (porque, a esquerda vai bem, obrigado - temos o maior
a mais popular partido político do país).
Temer,
Bolsonaro, PSDB, FHC, Serra, Alckmin, Aécio, MDB, STF, Poder Judiciário, todos
esses vetores do retrocesso presente terão de ser substituídos por alguma coisa
nova que preste.
Um
povo soberano - como é o povo brasileiro, ainda que muitos de nós não
acreditemos nisso - não suporta tamanho acúmulo de incompetência. Nunca suportou
(sempre reagiu, como reagiu à ditadura, como reagiu a Collor, como reagiu a FHC
- esse, no voto).
O
ceticismo é um alucinógeno muito sedutor. Ele dá algum tipo de identidade em
existências devastadas pela inoperância. É "chique" dizer que
"não se acredita".
É
por esse e outras que eu opto pelo caminho mais difícil, o contra-intuitivo,
aquele que me confere não o prazer imediato da aceitação, mas o fel instantâneo
do sujeito estilhaçado pelas contradições.
Viver
é perigoso. Mas provocar a vida é muito mais.
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