Metralhadora verbal,
‘caneladas’ e ministério corrupto frustram os brasileiros e prejudicam a imagem
do país no Exterior
Agência PT –
Jair Bolsonaro só vai receber a faixa em janeiro, mas o
movimento de transição já provoca alguns prejuízos ao país. Eleito sem
participar de nenhum debate, ele parece desorientado e passa longe da promessa
de governar para todos.
A
metralhadora verbal, o disse-me-disse e a guerra de versões aumenta o clima de
desconfiança sobre sua capacidade de governar. Mesmo que não se
concretizem, essas ‘canetadas’ frustram eleitores (já são vários os
arrependidos), atrapalham negócios e prejudicam a imagem do Brasil lá fora.
A conta
do ‘cheque em branco’ já chegou.
Trabalho
Bolsonaro
confirmou nesta quarta (7) que vai extinguir o Ministério do Trabalho. A
pasta criada há 88 anos, segundo ele, será incorporada a pasta em “algum
ministério” – logo quando o Brasil tem 13,5 milhões de desempregados. Ele
também mostrou disposição em falsear os dados do IBGE.
O
Ministério já tem tarefas demais: fiscalização, estatística, registro
profissional, FGTS… Difícil acreditar que haverá empenho de um outro ministério
para, por exemplo, combater o trabalho escravo.
Bolsonaro
chamou de “farsa” a metodologia do IBGE para calcular o desemprego.
Os
profissionais do IBGE reagiram à ignorância. O caso também chamou
atenção da Organização
Internacional do Trabalho, ligada à ONU.
(In)Justiça
e corrupção
A
dobradinha BolsoMoro teve péssima repercussão e jogou a pá de cal no que
restava de credibilidade do juiz que – finalmente – tirou a toga para
fazer política. Já aos amigos do novo governo, tudo deve continuar como
antes.
A
imprensa estrangeira aponta que Moro ‘pavimentou o caminho’ para a
vitória de Bolsonaro e vê ‘grandes riscos’ na escolha.
Em sua
primeira coletiva, ele minimizou a corrupção de Onyx Lorenzoni, dizendo
que ele “pediu desculpas” pelo caixa 2.
Também
ignorou as investigações contra Paulo Guedes, afirmando que ele é
“extremamente correto”
Grande
propagandista das 10 Medidas contra a Corrupção, Moro agora diz
algumas ideias do pacote “já não têm razão de ser”.
A
promessas de governar “sem indicações políticas” também já faz água. Vários dos
escolhidos de Bolsonaro para a transição são velhas raposas enlameadas em
denúncias de crimes. O mesmo vale para os novatos.
Há
negociatas para manter Temer no governo, garantindo foro privilegiado ao
golpista. Bolsonaro diz que “muita coisa” da gestão golpista será mantida.
A equipe
de transição tem Julian Lemos, condenado por estelionato e acusado 3 vezes
na Maria da Penha.
O
astronauta Marcos Pontes, que vai chefiar o Ministério de Ciência e
Tecnologia, usou a ida ao espaço para lucrar.
Pauderney
Avelino (DEM-AM), condenado a devolver R$ 4,6 milhões em propina, virou
grande amigo de Bolsonaro.
Economia
e Previdência
Paulo
Guedes quer adotar o regime de capitalização – que levou ao suicídio
de milhares de idosos no Chile. Por lá, só metade dos aposentados recebe algum
dinheiro na velhice.
Além
disso, o tema é motivo de bate-cabeça entre ele e Bolsonaro. E marca
a primeira rachadura na relação do futuro presidente com o Congresso.
Bolsonaro
diz que ainda não está “convencido” de que esse é o melhor modelo.
O
preocupa o mercado financeiro que comprou no verniz “liberal” da campanha.
De outro
lado, pressionam que os deputados votem logo a Reforma
da Previdência proposta por Temer.
Guedes
prometeu uma “prensa” no Congresso pela aprovação antes da posse. Ele contornou
dizendo que era só “convencimento”.
Liberdade
de Imprensa
Ao
contrário do que previam os mais otimistas, Bolsonaro não baixou o tom depois
da eleição – nem com a imprensa. Um de seus alvos preferidos são veículos como
a Folha de S.Paulo, que revelou a indústria de
mentiras bancada por caixa 2 no WhatsApp.
Na
primeira entrevista como presidente eleito ao Jornal Nacional, ele
ameaçou abertamente a Folha de corte
de verba
Em mais
de três ocasiões, a equipe dele VETOU o acesso de alguns
jornalistas a coletivas e eventos.
Um
cinegrafista da TV Globo foi censurado e chegou a ser fichado
pela Polícia Federal.
Não é
assim com todo mundo. As aparições de Bolsonaro na Band, na Record e no SBT têm
clima de torcida.
Silvio
Santos até botou no ar uma campanha com o slogan mais famoso da ditadura.
A
Universal usou sua máquina para exaltar Bolsonaro e atacar Fernando
Haddad; a ordem rendeu denúncias e pedidos de demissão.
Na Band,
houve várias entrevistas “bate bola” entre o então candidato e o apresentador
Datena, quebrando a regra da isonomia de espaços em concessões públicas durante
as eleições.
Relações
exteriores
Questionado
pelo jornal argentino Clarín, Paulo Guedes
foi grosseiro ao dizer que o Mercosul “não era prioridade”. A
declaração já prejudica o país, uma vez que bloco é essencial para
a economia brasileira e as relações no continente.
A
‘canelada’ preocupou até países da União Europeia.
Sem a
Argentina, o Brasil fica sem seu principal comprador de carros. Neste ano, o
número deve chegar a 800 mil.
Outro
país alvo de declarações desastrosas e ameaças por parte de Bolsonaro é a
China.
A grande
preocupação é que rompa os acordos do Brasil com o país, maior parceiro
comercial do Brasil.
A China
fez duro alerta: se ele insistir no estilo Trump, a economia
brasileira sairá perdendo.
Noutra
prova de incompetência diplomática está o plano de mudar a embaixada brasileira
em Israel para a cidade de Jerusalém, alvo de disputa entre
israelenses e palestinos.
Ele
alardeou a provocação nas redes sociais… mas recuou quando o mundo árabe
reagiu. As consequências foram nefastas.
Como
resposta, o Egito adiou uma reunião com Aloysio Nunes no país. Não há
previsão de remarcar.
Vinte
empresários que já estavam por lá voltaram de mãos abanando.
O Egito é
um dos grandes compradores de carne e frango do Brasil. Só no ano passado, esse
comércio rendeu US$3,2 bilhões ao país.
Já a
relação comercial com Israel é bem menos expressiva: 500 milhões de dólares.
Agricultura
e Meio Ambiente
Logo após
as eleições, Bolsonaro confirmou as promessas de fundir o Ministério
da Agricultura com o do Meio Ambiente (MMA). Ele voltou
atrás depois de uma saraivada de críticas, até mesmo dos ruralistas.
O motivo?
Respeitar o meio ambiente é exigência de muitos clientes internacionais do
país.
Até
Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura e maior produtor de soja do mundo,
pressionou para que o novo governo desista da ideia.
Além
disso, a maior parte do trabalho do MMA envolve regulação
em energia, indústria e infraestrutura.
O
Ministério da Agricultura será chefiado por Tereza Cristina (DEM-MS), chefe da
bancada ruralista no Congresso. Além da “velha política”, a nomeação representa
o desprezo do governo Bolsonaro com a saúde do povo e o meio
ambiente.
Em 2014,
a campanha dela recebeu mais de R$ 4 milhões de empresas e figurões ligados ao
agronegócio.
Como
deputada, votou SIM à "MP da Grilagem" e para acabar com o
aviso nos alimentos transgênicos.
Ministra,
ela já afirmou que dará “muito espaço” ao afrouxamento das leis anti-veneno.
E
disseram que Bolsonaro ia acabar com a corrupção e salvar o Brasil…