sábado, 20 de janeiro de 2018

Promotores da Lava Jato ‘são analfabetos políticos’, diz Requião



Requião durante evento em Porto Alegre 
em agosto de 2017 | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Por Manoel Ramires e Júlio Carignano


“Não quero julgar o pessoal da Lava Jato com o mesmo critério que eles julgam os outros. Mas eles estão completamente errados e prestando um desserviço ao Brasil. Botar o Lula na cadeia hoje é um crime contra o Brasil e contra a democracia”. A declaração é do senador Roberto Requião (PMDB-PR), ao avaliar o clima que antecipa o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre (RS).
Às vésperas do julgamento do dia 24 sobre o caso envolvendo o triplex do Guarujá (SP), o senador recebeu a equipe do Porém.net. Crítico do atual posicionamento do Poder Judiciário, em especialmente dos promotores e juízes da operação Lava Jato, aos quais compara aos inquisidores Girolamo Savonarola e Tomás de Torquemada, da Santa Inquisição, lançada na fase mais intolerante da Igreja Católica na Idade Média, o parlamentar aponta que Sergio Moro, responsável pela primeira condenação do ex-presidente em Curitiba, foi “cooptado pela vaidade”.
Atribuindo falta de formação aos promotores, o senador referiu-se aos magistrados como os “analfabetos políticos”, citados por Bertold Brecht em seu poema clássico. “Não acho que estão fazendo tudo isso de forma deliberada, mas por má formação, por exacerbação corporativa. São verdadeiros Savonarolas, sem entender de história, de economia, sociologia, não entendem nada. Leram apostilas, fizeram concursos e se acham agora salvadores da pátria por uma absoluta falta de formação. São aquilo que o Brecht chamava de analfabetos políticos”.
Ao rechaçar o direcionamento e parcialidade do poder judiciário, Requião fez uma convocatória aos brasileiros para estarem presentes no dia 24 em Porto Alegre. “A resistência neste momento, mais que um protesto contra o absurdo da condenação do Lula, é uma defesa da democracia. Se não gosta do Lula tudo bem, mas se gosta da democracia esteja lá”.
Presidente do MDB do Paraná e pré-candidato ao governo do estado, Requião ainda falou do racha no partido e do processo eleitoral deste ano. Confira a entrevista na íntegra.
Porém: Como você avalia o clima que antecede o julgamento do ex-presidente Lula?
Requião: Estou confortável na análise por um motivo simples: fui a única oposição no Senado a política econômica do Lula e da Dilma, nunca aceitei a política do Meirelles e muito menos do Joaquim Levy. Votei contra o impeachment da Dilma pois conhecia a cúpula do PMDB e tinha consciência do que era a ‘Ponte para o Futuro’, que pregava abertamente o liberalismo econômico, o entreguismo, um modelo que havia fracassado na Europa.
Estava claro que não tinha nenhuma preocupação com a corrupção. A preocupação era retirar a Dilma para estabelecer esse modelo de liberalismo econômico.
Esse governo é absolutamente corrupto; ministros estão envolvidos, o Temer utiliza todo poder da máquina pública para evitar uma investigação. Junto a isso vemos corporações extrapolarem seus limites legais, se colocando como gestores do Brasil, como verdadeiros Savonarolas ou Torquemadas.
Essa política econômica do Temer é consequência ou causa do golpe?
A política econômica é a causa do golpe, ela foi o motivo da intervenção no governo da Dilma, pois não havia nenhuma preocupação com corrupção. Ai surge a Lava Jato, e eu saudei ela em prosa e verso na tribuna do Senado até verificar que a Lava Jato tinha um foco: era dirigida ao pessoal progressista, basicamente o pessoal do PT e partidos progressistas. Não estou fazendo defesa ou absolvição de corrupto, eles existem e muitos estão pagando pelo que fizeram, mas a Lava Jato sempre retirou do foco os políticos da direita, os entreguistas, os tais “liberais”. Veja as denúncias contra o Serra, ninguém leva a frente, os processos não andam. Mas passam em Porto Alegre na frente de sete processos para julgar o Lula. Evidente que não estão à procura do Lula, mas sim da consolidação deste projeto de liberalismo econômico que já faliu a Europa e está acabando com o Brasil. O foco não tem a ver com corrupção. Quando eu faço uma convocação para que os brasileiros vão a Porto Alegre não estou só considerando o julgamento do Lula, estou considerando o processo democrático no Brasil que está sendo abalado. Isso está sendo abalado pela interferência do Ministério Público, do Judiciário, da Polícia Federal, e de uma forma absolutamente dirigida.
Moro seguiu o script do mercado e dessa política econômica? Ele está sendo um ator do golpe?
Eles estão seguindo o script da extrapolação dos limites do Judiciário. Essa condução coercitiva não existe na legislação brasileira, é um absurdo total. Começou com o Lula, começou quando não deixaram ele assumir a Casa Civil e hoje um juiz de primeira instância impede que o Temer nomeie a Cristiane Brasil ministra do Trabalho (O governo federal já recorreu três vezes e em todas Cristiane foi impedida de assumir). É fato que ela não tem nenhuma condição de ser ministra, foi um troca de votos com o PTB, uma coisa sórdida para viabilizar a reforma da previdência, mas outro fato é que o juiz não tem nenhuma prerrogativa na lei para impedir a posse de uma ministra. Estão se sobrepondo ao sistema legal, não temos mais estado democrático de direito. Temos a liberdade hermenêutica, que é a ciência da interpretação, querem interpretar a lei apesar da lei. O juiz interpreta a lei segundo sua visão ideológica. Está havendo uma exacerbação, isso é uma ditadura, é o Torquemada e o Savonarola atuando no Brasil em nome de uma proposta ideológica que está na cabeça deles.
Já o Moro tem uma formação ideológica de direita, vejo nele uma paixão pelos Estados Unidos. Neste processo de “juiz protagonista”, ele comanda o inquérito e ao mesmo tempo julga o inquérito que está fazendo. Está tomado de ódio contra o PT e contra o Lula, isso por si só desautoriza qualquer julgamento que ele possa fazer.
Não assusta um juiz virar um “herói” da nação?
Não é questão de assustar, é uma distorção completa do processo judicial. O juiz virou polícia. Mas é uma polícia que não submete as regras da lei, utiliza uma hermenêutica livre, interpreta a lei como quer e no fim ele julga. Quem ele quer ele investiga, quem ele não quer não investiga. Ai sobra à margem todo esse pessoal do PSDB.
E quais as consequências dessa exacerbação do Judiciário?
Pode acarretar o efeito que tento corrigir com a lei do abuso do poder. Mas o problema não é só esse, o problema é que o sistema judiciário está falido, nossa justiça é de base filosófica, ideológica, os princípios são do direito romano e germânico. Ela tem uma série de recursos, apelos e formas de recorrer que se inviabilizam na maneira que a população cresce. A China por exemplo não tem nada a ver com direito romano e germânico, ela resolve seus problemas com conciliação. Que é um acordo entre as partes. E a China tem 130 mil juízes para um bilhão e meio de habitantes. São Paulo deve ter dez vezes mais para uma população de pouco mais de 40 milhões. O sistema jurídico está emperrado, não está funcionando. As associações profissionais se transformaram em sindicatos, em corporações que se colocam acima do conjunto da sociedade. Os erros do Moro são festejados pelas associações profissionais, os absurdos cometidos pelo MP são defendidos pela sua associação de classe. Eles não tem mais nada a ver com o interesse social e a defesa do estado de direito.
Essa “reforma” do judiciário entraria num debate eleitoral?
Não, o debate eleitoral hoje passa pela revogação das barbaridades do governo Temer. Essa é uma questão que precisa ser discutida com mais profundidade. Veja os advogados que surgiram como milionários neste processo da Lava Jato. O que devem estar ganhando aqueles advogados americanos que fizeram a patifaria da indenização da Petrobras? E os que operaram as delações premiadas no Paraná? São dois ou três. Que espécie de direito é esse. Como um promotor pode descobrir um delito de uma determinada pessoa, lhe atribuir a possibilidade de 100 anos de cadeia, e depois dizer ‘se você delatar o que eu quero, eu reduzo isso a um ano de cadeia’. Depois seis meses com uma tornozeleira e depois vai morar como o Funaro, no Rio Grande do Sul. Como isso é possível? Virou negócio, não tem nada a ver com a lei. É uma esculhambação total e atrás dessa esculhambação um projeto de liberação da economia brasileira, sem que os princípios de fraternidade e valorização do trabalho sejam respeitados. É a volta a barbárie. Eu não diria que todos esses juízes e procuradores estão fazendo isso de forma deliberada. Estão fazendo por má formação, exacerbação corporativa, são verdadeiros Savonarolas, sem entender de história, de economia, sociologia, não entendem nada. Leram apostilas, fizeram concurso e se acham agora salvadores da pátria por uma absoluta falta de formação. São aquilo que o Brecht chamava de analfabetos políticos.
E esses “analfabetos políticos” irão condenar o Lula em Porto Alegre?
Eles estão achando que essa condenação do Lula será a gloria deles. O Lula pode sim ser investigado, o Requião pode ser investigado se houver alguma denúncia que aprofunde a investigação. Mas o Lula era presidente da República, o orçamento do Brasil é uma monstruosidade.
O Lula seria corrompido por um apartamento triplex que nunca foi dele? Eu acho que a OAS pretendia dar esse apartamento para o Lula, acho que iriam insistir em dar um presente para um ex-presidente que saia com 84% de aprovação popular e que poderia influenciar nas decisões do novo governo e da Dilma, que ele praticamente elegeu.
Do ponto de vista do direito, pois sou advogado, não há materialidade do crime e ele não pode ser condenado. Mas o Moro e esse pessoal vem com a história que o convencimento do juiz pode ser feito com uma multidão de indícios. É uma tese que não pode valer nunca para o direito penal, que compromete a liberdade da pessoa e que funciona de certa maneira em uma interpretação do direito civil. Mas se vale essa interpretação para o Lula, o que dizer do Moro com as denúncias do Tacla Duran? As acusações ao Zucolotto? Não acredito nelas, mas se vale para o Moro julgar o Lula deve valer para o julgamento dele também. Ambas não são razoáveis. Acho que o Moro é um equivocado, ele está convencido que está salvando o mundo por falta de conhecimento histórico, sociológico e econômico.
Sobre o processo eleitoral, como avalia as especulações do seu nome para uma candidatura a vice do Lula ou como plano B para a eleição presidencial?
Isso é uma homenagem que alguns companheiros me prestam pelo meu protagonismo no Senado. Nunca falei com Lula sobre isso. Me sinto homenageado, mas sou um militante da mudança. Eu acho que essa mudança deve ser viabilizada por uma profunda discussão do Brasil pelos brasileiros. Precisamos de uma frente ampla, pois aquilo que eu acredito pode ser a minha verdade, mas não a verdade de todo mundo. Temos que enfrentar o liberalismo econômico que é a dominação absoluta do capital financeiro, o capital vadio (Após a entrevista, nas redes sociais, o senador colocou seu nome a disposição do partido para disputar o governo do estado).
Mas não há qualquer possibilidade nestas “especulações”?
Tenho idade suficiente para fazer o que eu quero, dizer o que eu penso, sem me incomodar com consequências. O meu protagonismo é esse, fazer o que eu quero, analisar o que vejo e tomar a posição que acho necessária. Sou um militante político com 76 anos de idade. Te diria que ao invés de procurar cargo, estou mais procurando escrever minha biografia com os atos da minha vida.
O PMDB voltou a ser MDB. O que muda? Porque não te expulsaram?
Não muda nada. Eu sou filiado número 1 do partido no Paraná, sou praticamente o fundador e atual presidente do partido no Estado. Acho que teriam dificuldade de me expulsar do diretório nacional.
O pessoal até vende o voto, mas ficaria ruim vender um companheiro. Não seria fácil para eles, mas é um risco que ainda corro. De repente eles ainda tentam uma intervenção no Paraná às vésperas da possibilidade da mudança de partido e evitam uma candidatura minha a qualquer coisa.
É um risco que corro, mas que eles correm também, pois a base do PMDB não tem nada a ver com essa posição corrompida e comprada dessa estrutura burocrática. Na ultima convenção tinha 700 pessoas de pé, o Jucá entrou e foi aplaudido por 27. Quando o Temer entrou esse número baixou para 23, mas na hora da votação eles ganharam. Isso porque os delegados estavam vinculadas aos deputados federais e os deputados tinham sido comprados por favores, emendas, dinheiro para suas bases, nomeações em cargos.
2018 terão eleições, mas até 2019 e o fim do mandato de Temer, o que esperar?

O Brasil é muito grande para ser destruído e os exemplos de reconstrução estão ai. É o protagonismo do Estado. Eles querem implantar o estado mínimo e entregar para banca e o capital financeiro. A Alemanha saiu de uma crise com uma associação do estado e grandes empresas sem muita preocupação social, os EUA na mesma época, em 1929 e 1930, saíram de uma crise com o New Deal (o novo pacto). Hoje com a evolução do mundo, com as conquistas trabalhistas da época do Getúlio Vargas não podemos regredir, eu não acredito que o povo brasileiro seja escravizado. Por isso, termino essa entrevista com um apelo: todo mundo dia 24 em Porto Alegre, pois estaremos evitando uma crise cruel do país. A resistência neste momento, mais que um protesto contra o absurdo da condenação do Lula, é um defesa da democracia. Se não gosta do Lula tudo bem, mas se gosta da democracia esteja lá. É a defesa do processo democrático no Brasil e o Lula é importante neste processo.

Ministro Ricardo Barros libera R$ 2,7 milhões para Apucarana

Recursos foram destinados ao Hospital da Providência , Hospital da Providência Materno Infantil, Cisvir e Instituto do Rim
A solenidade que lotou o Salão Nobre da Prefeitura de Apucarana, contou com presenças da vice governadora  do Paraná Cida Borghetti, do deputado federal Alex Canziani, da diretora do Hospital da Providência irmã Giovana Ramos, além de prefeitos da região e vereadores. (Foto: Profeta)

Em solenidade realizada no salão nobre da prefeitura de Apucarana, o ministro da Saúde Ricardo Barros, acompanhado da esposa e vice-governadora do Paraná Cida Borghetti, oficializou hoje (20), o repasse de recursos na ordem R$ 2.700.000,00 destinados ao Hospital da Providência de Apucarana e Hospital da Providência Materno Infantil, ao Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Ivaí e Região (Cisvir) e ao Instituto do Rim.
O Hospital da Providência vai utilizar R$ 1 milhão como reforço nas ações de atendimento de pacientes da alta e média complexibilidade. Os outros R$ 500 mil reais são destinados também no reforço no atendimento da maternidade do Hospital da Providência Materno Infantil para alta e média complexibilidade, através da UTI Neonatal e de atendimentos a partos de alto risco. Ainda R$ 337,3 mil serão investidos na habilitação de serviços de Terapia Renal Substitutiva em Apucarana.
Também foram repassados R$ 885 mil reais ao Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Ivaí e Região (CISVIR), voltados à realização de consultas, exames e cirurgias de alta e média complexibilidade em várias especialidades. Trata-se de uma solicitação antiga do ex-presidente do Cisvir e prefeito de Apucarana, Beto Preto e do atual presidente Aquiles Takeda.
“Viemos entregar recursos para o reforço de caixa para melhorar ainda mais a qualidade do atendimento do Hospital da Providência que faz uma ótima gestão. A exemplo de outros consórcios de saúde do estado, o Cisvir também está recebendo investimentos do governo federal”, disse Ricardo Barros, que apresentou um vídeo das suas ações frente ao ministério da saúde, marcada principalmente com economia nas licitações de compra de medicamento. “Estamos fazendo mais com o mesmo recurso, a partir de uma gestão em que os recursos públicos priorizam ações voltadas a melhoria do atendimento à população”, afirmou o ministro.
Ao agradecer o ministro Ricardo Barros, o prefeito Beto Preto enfatizou que a solenidade visava comemorar investimentos a fundos perdidos. “Saúde se faz com planejamento, porque a demanda da população é muito maior do previsto. No período de 1 ano e 8 meses que está à frente do ministério da saúde, Ricardo Barros já esteve 4 vezes em Apucarana e em todas veio trazer boas notícias. Ele implementou um marco de competência na saúde que  muito não se via. O SUS está atendendo mais pessoas com o mesmo recurso e isso é demonstração de competência”, disse Beto Preto.
A solenidade, que lotou o salão nobre da prefeitura, foi prestigiada por prefeitos e vereadores de Apucarana e da região.
HOMENAGEM E AGRADECIMENTO
A diretora geral do Hospital da Providência de Apucarana e do Hospital Materno Infantil de Apucarana, irmã Giovana Ramos, fez a entrega de uma placa em agradecimento ao ministro Saúde Ricardo Barros em agradecimento “por seu apoio e acreditar em Apucarana e nos serviços prestados pelo Hospital da Providência e Hospital da Providência Materno Infantil.” Ela fez questão de destacar a atuação do prefeito Beto Preto, que tem intermediado a liberação de recursos em favor da instituição.
O prefeito de Marilândia do Sul e Presidente do Consórcio Intermunicipal do Vale do Ivaí e região (Cisvir), Aquiles Takeda, também agradeceu os recursos destacando a abrangência e importância os serviços de saúde prestados pelo Cisvir a 17 municípios da região.


“Super-Moro”: As origens de um juiz acima da Lei

Pedro de Oliveira/ALEP

Boa parte das páginas de apoio ao juiz Sergio Moro se sustentam por meio do compartilhamento de fake news; "Juiz Sérgio Moro – O Brasil está com você" é do mesmo grupo que administra a página "Folha Política", uma dos principais propagadores de fake news das redes brasileiras; de acordo com  muitos juristas, o juiz utiliza desse apoio virtual para sua promoção pessoal, e, mais grave, para a formação da opinião pública sobre o principal e maior caso sob responsabilidade do juiz: a Operação Lava Jato
Há dezenas de páginas nas redes sociais homenageando o juiz de primeira instância da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Ao pesquisá-las, a primeira que aparece, com 1,6 milhão de curtidas e postagens constantes contra o Partido dos Trabalhadores (PT), leva apenas o nome do juiz, podendo ser confundida com uma página oficial. A segunda é "Juiz Sérgio Moro – O Brasil está com você", com 1,5 milhão de seguidores, que se define como uma página de "causa". A terceira é sobre um psicólogo canino que também se chama Sérgio Moro.
A repercussão das páginas de apoio a Moro é maior do que a de alguns presidenciáveis. Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, não chega a 1 milhão de seguidores. É, talvez, a segunda vez na história brasileira em que um juiz ganha tanta fama. Antes de Moro, apenas Joaquim Barbosa havia adquirido um acervo de fãs, ainda que muito menor, e ambos foram cogitados como candidatos à Presidência.
Vale apontar que boa parte dessas páginas de apoio se sustentam por meio do compartilhamento de fake news. "Juiz Sérgio Moro – O Brasil está com você" é do mesmo grupo que administra a página "Folha Política", uma dos principais propagadores de fake news das redes brasileiras, de acordo com o "Projeto M", do portal Manchetômetro, que analisa a veracidade dos conteúdos jornalísticos sobre política no país.
De acordo com a análise de muitos juristas, o juiz utiliza desse apoio virtual para sua promoção pessoal, e, mais grave, para a formação da opinião pública sobre o principal e maior caso sob responsabilidade do juiz: a Operação Lava Jato. Inclusive, sua própria esposa, a advogada Rosângela Wolff Moro, chegou a criar uma página pessoal do casal, que teve como nome o trocadilho "Eu Moro com ele". A página foi amplamente repercutida, chegando a ter quase 1 milhão de seguidores e, de acordo com o casal, tinha como objetivo "retribuir o carinho e apoio do povo brasileiro" ao juiz.
No dia 30 de novembro de 2017, logo após a explosão das declarações do ex-advogado da Odebrecht Tacla Duran, que denunciou diversos crimes nas investigações da Operação Lava Jato, a página foi apagada, sob a justificativa de que já tinha "cumprido seu papel". Para além da página de Rosângela, Moro não possui outras contas próprias nas redes sociais.
Personalidade do ano
A Lava Jato não apenas teve grande parte de seus julgamentos em primeira instância sob a comarca do juiz, mas praticamente ganhou seu rosto como marca. Para o advogado da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap), Patrick Mariano Gomes, esse processo serviu para legitimar uma série de ilegalidades jurídicas cometidas durante a Operação.
"O que justificava e sustentava a figura do juiz Sérgio Moro era a mídia, um se retroalimentava do outro. Funcionava assim: o juiz praticava ilegalidades, mas a mídia o exaltava, não só como uma grande personalidade jurídica, mas também como um grande personagem nacional. Então ele era incitado a falar sobre cultura, sobre shows, virou uma personalidade, porque interessava ao sistema político um personagem como esse", afirmou.
Mesmo sob os holofotes da grande mídia e das redes sociais, Moro construiu uma imagem supostamente discreta. Poucas informações sobre ele foram mapeadas em perfis jornalísticos nos últimos anos, e a vida pessoal do juiz, que nasceu em Maringá (PR) em 1972, e estudou Direito na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e na Universidade Federal do Paraná (UFPR) – onde hoje leciona direito processual penal – é blindada.
Para especialistas, no entanto, não há nada de recatado em relação a Moro. O juiz já recebeu diversos prêmios e homenagens, inéditos para um magistrado brasileiro. Foi citado como uma das pessoas mais influentes e uma das maiores lideranças do mundo pelas revistas internacionais Fortunee Time. Esta última o caracterizou como "Super-Moro" logo na primeira linha do texto. O juiz também recebeu o prêmio Brasileiros do Ano pela Revista Istoé em dezembro de 2017 – ocasião em que foi definido como "herói brasileiro" em um discurso do prefeito de São Paulo João Doria (PSDB).
De acordo com Ricardo Costa de Oliveira, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que produziu um artigo acadêmico sobre o perfil social dos personagens da Lava Jato e suas relações com as estruturas de poder no país, a construção da imagem de Moro está relacionada às conexões que o juiz possui com a elite.
"Todas as conexões de Moro são com o campo político da direita no Brasil, com meios empresariais e da grande mídia. Há a tentativa de construção ideológica do juiz como um símbolo da luta contra a corrupção, quando ele sempre representou setores da elite, um homem branco, de família inserida na elite estatal, casado com uma mulher de uma das principais famílias do poder no Paraná. Além do mais, há essa produção ideológica na grande mídia, que também é oligárquica familiar, já que ele recebe prêmios e tem sua imagem projetada na Rede Globo e outras emissoras", explicou.
Super-Moro
O juiz não costuma negar o título de herói, e a página "Eu Moro com ele" frequentemente compartilhava fotos de crianças segurando cartazes que relacionavam o juiz aos super-heróis dos quadrinhos, dos quais ele próprio também é fã. Em um discurso realizado em 2015, durante um Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Moro chegou a mencionar uma famosa citação da Marvel, uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos de super-heróis, relacionando seu poder ao do personagem Homem-Aranha. "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", afirmou, arrancando risos da plateia.
No mesmo ano, durante uma palestra do evento Exame Fórum, Moro utilizou outra conhecida citação do universo dos quadrinhos, dessa vez do Batman, para definir a importância da Operação Lava Jato. "A noite é sempre mais escura antes do amanhecer", afirmou.
Coincidência ou não, a imagem do juiz é frequentemente atrelada à de Batman, em montagens online e cartazes de manifestações. O interesse no personagem, conhecido por fazer justiça com as próprias mãos, pode ser considerado um sintoma da visão do Direito compartilhada por Moro e colocada em prática pela Lava Jato. De acordo com Patrick Gomes, a Operação, considerada a maior da história brasileira, é baseada em uma série de arbitrariedades e ilegalidades, mas continua sendo defendida pela mídia como uma cruzada contra a corrupção.
"Não é tarefa dele condenar alguém, mas você pode ver que não é raro o discurso de que o Judiciário tem que combater a corrupção, quando, na verdade, ele não tem que combater nada, tem que julgar, porque a polícia investiga, o MP denuncia, e, se o juiz for combater, quem vai julgar? Então o papel do juiz foi completamente transfigurado", denunciou o advogado.
Juiz condenador
Além dos personagens dos quadrinhos, Moro tem outras referências polêmicas de entendimento de Justiça. Uma de suas principais inspirações é a mega-operação italiana "Mãos Limpas", que nos anos 1990 desvendou um enorme esquema de corrupção no país, emitindo quase 3 mil mandados de prisão contra parlamentares e empresários.
Moro já escreveu uma tese acadêmica sobre a operação e praticamente transpôs sua estrutura jurídica para a Lava Jato. Na sentença que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no chamado processo do triplex, Moro defendeu o uso das delações premiadas fazendo referências ao juiz italiano Piercamillo Davigo, que participou da "Mãos Limpas". A operação italiana é amplamente criticada por juristas do mundo todo pelos seus excessos e também utilizou da ferramenta das Delações Premiadas e dependeu do espetáculo midiático para "condenar" suspeitos antes do julgamento.
Para Patrick Gomes, desde que começaram a ser utilizados no país, os institutos de negociação que estão por trás da ferramenta da delação premiada estão sendo usados sem nenhuma forma de regulamentação.
"A delação, por ser negocial, dá margem a muita arbitrariedade. Você vê que os procuradores da Lava Jato negociam coisas que não poderiam negociar. Hoje, o empresariado que fez delação está em Nova York ou cumprindo prisão domiciliar. Esse é o problema dos institutos negociais, porque, no capitalismo, eles acabam reproduzindo o modo de atuação do capital: quem tem mais dinheiro escapa, quem não tem fica para trás", explicou.
De acordo com o advogado, a utilização indiscriminada de delações é prática comum do direito estadunidense, no qual Moro também se inspira. O juiz cursou o programa para instrução de advogados na Universidade de Harvard, nos EUA, e, em 2009, como foi vazado pelo site Wikileaks, chegou a participar de treinamentos do Departamento de Estado Norte-Americano para juristas brasileiros, um dos pontos mais polêmicos e questionáveis de seu currículo.
"Moro faz parte de uma geração de juízes, de uma faixa de idade de 40 anos, que meio que se encantou com uma visão do direito norte-americano. Talvez influenciado por séries de TV norte-americanas, acabou bebendo dessa fonte. O problema é o transplante de institutos norte-americanos no direito brasileiro sem nenhuma adaptação e crítica em relação ao nosso sistema. Nos EUA, se você divulgar a conversa de um presidente da república [como Moro fez com a ex-presidenta Dilma Rousseff], você é preso, por exemplo", critica.
Jurisdição universal
Um dos principais excessos praticados por Moro é a forma como grande parte dos julgamentos das mais de 40 fases da Operação Lava Jato caem na sua comarca, mesmo que os casos não tenham sido cometidos em Curitiba. O fenômeno, conhecido como "jurisdição universal", fere a Constituição Federal brasileira e é uma das principais linhas da defesa de Lula, uma vez que o caso do triplex aconteceu no Guarujá, litoral de São Paulo. Além do uso da jurisdição universal, o papel do juiz se torna difuso, se misturando às atribuições de investigadores de polícia e dos promotores do Ministério Público (MP), tornando Moro um "líder" supremo de uma investigação de proporções gigantescas.
Além dos prêmios recebidos nestes quatro anos de Operação, o juiz Sérgio Moro, agora ultra-especializado em crimes de "colarinho branco", já percorreu mais de 13 cidades de nove estados brasileiros, e outras seis no exterior, para realizar mais de 50 palestras sobre sua atuação. Na cidade de Coimbra, em Portugal, uma palestra com o juiz chegou a ter ingressos vendidos por R$ 8,5 mil.
Por fim, é irônico ressaltar que qualquer uma dessas manifestações do juiz - palestras, prêmios, páginas virtuais de apoio a ele -, não é, tampouco, constitucional. O artigo 36 da Lei Orgânica da Magistratura (Loman) proíbe os juízes brasileiros de manifestarem, por meio de qualquer meio de comunicação, sua opinião sobre processos pendentes de julgamento. Em seu artigo sobre a operação "Mãos Limpas", entretanto, Moro prova que pouco se importa com isso ou com o princípio de imparcialidade que rege a magistratura. No texto, ele destaca que "a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é essencial para o êxito da ação judicial".


Polícia e GM abordam 75 pessoas, apreendem drogas e interditam duas tabacarias em Apucarana

As Polícia Militar (PM) e Civil e a Guarda Municipal (GM), em conjunto com o setor de tributação da prefeitura de Apucarana, Vigilância Sanitária (VS), Corpo de Bombeiros e Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do Adolescente realizaram na noite de sexta-feira (20) e madrugada de sábado (21) uma Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu) em diversas tabacarias e bares durante a qual 75 pessoas foram abordadas. 
De acordo com o comando da PM, a ação teve como objetivo fiscalizar os estabelecimentos comerciais visando coibir práticas delituosas recorrentes, conforme denúncias anteriores, bem como regularizar as situações no que diz respeito aos demais órgãos fiscalizadores, principalmente quanto a alvará de funcionamento. 
Resultado
Durante a Aifu, 75 pessoas foram abordadas. Duas delas foram detidas por posse de cocaína e maconha e quatro menores acabaram apreendidos.
A polícia acrescentou que duas tabacarias foram interditadas por irregularidade relacionada ao alvará de funcionamento. Os detidos e as pequenas quantidades de maconha e cocaína foram levados à 17ª Subdivisão Policial (SDP) para os procedimentos legais.

"Esse é um tipo uma ação bastante efetiva, que traz resultados positivos para toda população de Apucarana", afirmou comandante do 10º BPM, José Francisco Cardoso.
Fonte: TN Online