Publicado no Facebook de Manuela D Ávila.
E se fosse você?
Eu estava grávida
quando fui vítima de minha primeira experiência de grande rede de distribuição
de notícias falsas/fake news (certamente financiada). Inventaram uma viagem pra
Miami e um enxoval. Nem conheço Miami, nem fiz enxoval para Laura. À época
achei graça. Mentiras sem sentido. Como alguém acreditaria numa viagem que não
fiz para compras que não fiz? Fui ingênua e quando percebi o debate já era
sobre meu direito ou não de viajar e fazer compras, ou seja, já era sobre a
mentira.
Quando Laura fez 45
dias viajamos juntos: eu, duca e ela. Estávamos muito felizes pois era a
primeira viagem dela para um hotel para assistir a um show do Pai. Quando Duca
estava no palco uma mulher se aproximou e deu dois tapas em laura (que estava
presa pelo Sling) porque disse que o pano era comprado em Miami e deveria tê-lo
comprado em Cuba. Laura apanhou aos 45 dias de uma pessoa desequilibrada a
partir de uma mentira que circulou nas redes.
Assim me preparei
para enfrentar 2018. Poucas coisas piores do que aquilo poderiam me acontecer.
É verdade que quase fui linchada com ela dormindo por uma mulher que incitou a
multidão, é verdade que fui agredida muitas vezes na frente dela e de outras
pessoas de minha família. Mas eu me preparei naquela agressão, há mais de 3
anos, para enfrentar esse comportamento fascista (de me tornar não humana, de
me desumanizar como define Hannah Arendt, de me tornar e a Laura também apenas
um inimigo a ser combatido).
Em 2018 fui alvo de
todo tipo de montagem.
Destruíram meu corpo, manipularam minhas palavras, fizeram com que
conhecidos rompessem relações comigo por acreditarem em notícias falsas.
Chegamos ao fundo do poço e tentaram me levar lá pra baixo.
Há quem diga que
vivemos o fim da era do humanismo, o fim do ciclo das conquistas da Revolução
Francesa e, com isso, o fim de um sentimento construído historicamente com a
revolução: a empatia, o colocar-se no lugar do outro, o sentir que o outro é um
igual.
Mas eu não fui para
o fundo do poço, nós não iremos e eu decidi, no próximo ano, dedicar parte de
minha vida para combater redes de notícias falsas e de conteúdos de ódio porque
para mim a empatia seguirá existindo e nós não soltaremos nossas mãos.
Para mim, cada um de
nós tem um compromisso: refletir sobre si mesmo antes de apertar o botão de
compartilhar ou de gritar na rua.
E se fosse você que
tivesse suas palavras manipuladas, seria engraçado?
E se fosse você que
fosse agredido com seu filho no colo, seria casual?
E se fosse você que
defendesse uma ideia que acredita e tentassem lhe constranger, agredindo sua
família, como você se sentiria?
Existe um combate
macro, um combate a quem financia aos robôs, um combate ao dinheiro sujo que
financia a baixaria.
Mas existe uma mudança individual, a mudança que nos é exigida para que
mantenhamos a internet um ambiente livre e democrático. Essa mudança passa pela
ideia de que o outro é igual a nós e, portanto, merece nosso respeito, nossa
EMPATIA.
Por um mundo cada vez mais diverso e livre, por um mundo em que a gente
sempre pense antes de agir: “e se fosse comigo?”
A maior revolução é
o amor.
O amor por si mesmo,
o amor ao próximo.
Como já nos disse,
há quase dois mil anos, o aniversariante do dia 25 de dezembro: “amai ao
próximo como a ti mesmo”.
Feliz 2019!
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