O 10 de dezembro marca sete décadas do documento surgido após a Segunda
Guerra Mundial para promover igualdade, respeito, liberdade, tão ameaçados nos
dias de hoje
Conferência Internacional em Defesa da Democracia terá mesas de debates até amanhã |
São Paulo – A presidenta nacional do PT,
Gleisi Hoffmann classificou o presidente eleito Jair Bolsonaro como uma ameaça
não só para o Brasil e para a América Latinha, mas para o mundo, "junto
com seus companheiros de ultradireita". Uma ameaça, segundo ela, ao desenvolvimento,
ao Mercosul, aos Brics “e tudo que conseguirmos construir nesse curto espaço de
tempo como alternativa a ordem mundial vigente”, afirmou.
A
senadora refere-se ao receituário neoliberal da equipe de governo e também à
promessa de impor um regime autoritário, sem diálogo com a sociedade e por
estimular, através de seus discursos, a violência aos opositores e a
integrantes de movimentos sociais. Gleisi falou na abertura da Conferência Internacional em Defesa da Democracia,
promovida nesta hoje (10) e amanhã, pela Fundação Perseu Abramo.
Para
ela, o resgate da democracia passa pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. “Queremos um Brasil inclusivo, comprometido com a paz. E
para isso é muito importante Lula livre.”
O
evento, realizado com apoio do Comitê de Solidariedade
Internacional em Defesa de Lula e
da Democracia no Brasil, e da Secretaria de Relações Internacionais do Partido
dos Trabalhadores, celebra os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Na
noite desta segunda, será realizado também o Ato Internacional Lula Livre, no Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC.
“Diante
dos avanços dos golpes contra governos populares e progressistas, cabe a nós da
esquerda no Brasil e em todo o mundo, fazer uma reflexão aprofundada dos
desafios que estão postos”, afirmou Monica Valente, secretária de Relações
Internacionais do PT, na abertura da Conferência. “Pode parecer brincadeira que
70 anos depois nos reunamos aqui recuperando esses ideais, nessa conjuntura, da
defesa dos direitos humanos, da democracia no mundo.”
Para o
economista Marcio Pochmann, presidente da FPA, o cenário atual exige reflexão
com humildade e profundidade. “Nada mais importante que reunirmos aqui
especialistas e estudiosos, com a preocupação de tentar entender os caminhos em
que estamos envolvidos e oferecer oportunidades, possiblidades”, afirmou.
Pochmann
lembrou as obras de Christian Laval, pesquisador francês, para quem a crise de
2008 estabeleceu as bases de um novo neoliberalismo que aceita forças fascistas
e corrói a democracia. “É uma fase que se recrudesce e parte da sociedade clama
por proposições antissistêmicas, Mas o que vem tem sido retrocesso”, avalia.
“Essa mudança da sociedade, urbana e industrial, apresenta sinais de outras
caracterizações e exige reflexões da nossas instituições”, afirmou o
economista. “De forma fraterna, como é comum aos nossos debates, queremos sair
muito melhores do que quando iniciamos esse seminário.”
Um bom
dia ao presidente Lula, abriu a participação da presidenta do PT, Gleisi
Hoffmann, no seminário. “A gente faz isso todos os dias desde que ele está lá para lembrar
que estamos com ele.”
Aberrações do governo
Bolsonaro
A
senadora petista recordou a história do golpe e o lawfare a que Lula
está submetido. “Sem Lula, tivemos a eleição de Bolsonaro. Lutamos contra uma
fábrica de fake news inspirada e coordenada por Stevie Bannon (que foi assessor na campanha
de Donald Trump, nos EUA)”, relatou. “Bolsonaro se elegeu e mesmo
fora do Brasil muitos estão estarrecidos com a postura dele e suas falas sobre
matar, torturar.”
Gleisi
comentou a Cúpula Conservadora das Américas, realizada no sábado (8), em Foz do
Iguaçu, “reunindo gente do mundo para fazer ofensiva à esquerda” e com um
“discurso agressivo” contra as esquerdas. “No Brasil, o PT é o inimigo
número um.”
E
lembrou os ataques de Bolsonaro ao longo de sua trajetória como parlamentar,
contra indígenas, mulheres, negros, LGBTs. “E tem total desprezo pela questão
ambiental. Seu ministro é uma aberração que segue o padrão dos demais. Diz que
o aquecimento global é uma bobagem.”
Para
ela, tem sido um mantra do presidente eleito e seus ministros atacar os
movimentos sociais, principalmente MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) e MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), o que está gerando nível
de violência muito grande. A senadora lembrou o assassinato de duas lideranças do MST no
domingo, na Paraíba. “Estive no velório de companheiros. Encapuzados entraram
no acampamento, identificaram os dois que eram dirigentes e descarregaram os
revólveres. ”
Gleisi
criticou o que considera ser um incentivo de Bolsonaro à violência. “As pessoas
estão assustadas. Isso está abrindo as portas para que as pessoas façam o que
elas acham que tem de fazer. Pensam que não haverá represália e é possível que
não tenha”, disse. “Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho é um progressista
e colocou a polícia para investigar, tenho certeza que teremos resultado. Mas
do ponto de vista do Judiciário talvez tenhamos muito pouca agilidade nesse
sentido.”
Guerra híbrida no mundo
Esse
retrocesso, segundo ela, não é algo só do Brasil. “Está acontecendo no mundo,
na América Latina está muito presente . É um movimento para implantar política
mais ortodoxa do neoliberalismo e está atingindo Argentina, Equador, Peru,
Paraguai, Chile, perseguição à Venezuela.”
Para a
senadora, vigora na região uma guerra híbrida contra as forças políticas
progressistas e uma das vertentes é o lawfare (abuso da Justiça
com fins políticos) contra Lula, “preso sem provas e agora evidenciado na
nomeação de Moro (o juiz
da Lava Jato, Sérgio Moro, agora ministro da Justiça de Bolsonaro)
para um cargo político, não técnico”.
Ela
lembra que contra Lula valeu tudo, grampos, rapidez e agilidade nunca vistas,
cerceamento de defesa, ordem de Moro, por telefone, em plenas férias para
evitar liberação do ex-presidente via habeas corpus. “Como disse o grande
jurista italiano, Luigi Ferrajoli, é utilizado contra Lula o direito penal do
inimigo.”
Gleisi
destacou, ainda, que as ações estão sendo conduzidas por um Judiciário
politizado e partidarizado, um Ministério Público que tem lado. “Se posicionam
nas redes sociais e vazam para a mídia informações seletivas do que querem do
processo, criando uma narrativa de incriminação do presidente Lula, do Partido
dos Trabalhadores e de outras lideranças. Então fazer um ato da liberdade de
Lula e mostrar isso é muito importante. ”
A dirigente
destacou a deliberação do Comitê de Direitos Humanos da ONU durante a campanha
eleitoral para a Presidência da República. “Foi claro: Lula tinha direito de
ser candidato. A prisão em segunda instância, no Brasil, foi aprovada pela
Suprema Corte e não pelo Congresso Nacional. E teria de ser justificada, tal
qual uma prisão preventiva, pelo risco que a pessoa condenada ofereceria
à sociedade, para não poder ficar em liberdade até o ultimo grau de decisão. E
com Lula isso não ocorreu.”
Para a
senadora, a Moro no Ministério da Justiça representará um Estado policial e
repressor a quem for oposição ao governo. Também destacou a figura de Paulo
Guedes no comando da economia brasileira.
“É
conhecido como um Chicago
boy, um ultraliberal. Já sabemos o que irá acontecer em termos de
garantias sociais. Teremos uma Estado repressor e a população em situação muito
grave em termos de desenvolvimento e proteção social. O desemprego está alto e
deve continuar porque o que estão propondo para a economia não tem capacidade
de resgatá-la.”
Lula símbolo de
conquistas
O papel
do PT, segundo Gleisi, será de resistência e luta, de organizar uma frente
democrática para combater retrocessos. “Só teremos sucesso se tivermos a ajuda
solidária das forças progressistas de todo o mundo. Se não nos fortalecermos
internacionalmente, não conseguiremos fazer frente a essa onda de direita e
ultradireita que está se formando em vários locais.”
A
senadora agradeceu e destacou a importância de todos que se deslocaram de seus
países para conversar sobre a democracia no Brasil, no mundo, e sobre a
liberdade de Lula que, destacou ela, é um símbolo brasileiro, latino-americano
e mundial de conquistas.
“Acredito
que vocês possam ser os articuladores dessa frente e de um grande observatório
dos direitos humanos ao qual possamos recorrer em situações como essa de ontem
(o assassinato dos sem-terra) para que o processo possa ser acompanhado
internacionalmente e a Justiça possa ser feita.”
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