O embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do
Meio Ambiente, sem qualquer proximidade com o PT e um dos mais importantes
diplomatas do país, tem uma opinião corrosiva sobre o pré-governo Bolsonaro:
"O que vejo é que antes de ter a realidade do poder, esta é uma equipe que
já está comprometendo o Brasil. E não estão comprometendo com pouca gente e com
gente pequena. Com a China, com os árabes, com os muçulmanos — que são a maior
religião do mundo –, com a Argentina, que é nosso principal vizinho, com a
Noruega que é o principal financiador. Com quem mais o Brasil quer brigar?"
247 - O embaixador
Rubens Ricupero, ministro da Fazenda e e do Meio Ambiente no governo Itamar
Franco, entre 1993 e 1994, historicamente ligado ao pensamento
social-democrata, sem qualquer proximidade com o PT e um dos mais importantes
diplomatas do país, tem uma opinião corrosiva sobre o pré-governo Bolsonaro:
"O que vejo é que antes de ter a realidade do poder, esta é uma equipe que
já está comprometendo o Brasil. E não estão comprometendo com pouca gente e com
gente pequena. Com a China, com os árabes, com os muçulmanos — que são a maior
religião do mundo –, com a Argentina, que é nosso principal vizinho, com a
Noruega que é o principal financiador. Com quem mais o Brasil quer
brigar?"
Ricupero
concedeu uma entrevista ao jornalista Fernando Serrano, da revista Exame, na
qual expressou sua preocupação com o presente e futuro imediato do país. Para
ele, a nomeação do diplomata Ernesto Araújo para o Ministério de Relações
Exteriores, em vez de amenizar a situação, só gerou ainda mais confusão e
tornou o cenário ainda mais sombrio. Ele compara o Brasil às Filipinas:
"País nenhum do mundo admira uma polícia que mata 500 suspeitos, como o
presidente Rodrigo Duterte faz nas Filipinas. Ele é hoje um pária mundial. É
considerado um marginal. Ninguém admira isso. O que se admira é o respeito aos
direitos, às liberdades, e tal. E não tem outro caminho. O caminho tem que ser
este. Se a política externa brasileira não puder ser isso, o que é que sobra?
Sobra o comércio exterior. Mas mesmo o comércio exterior será vítima se não
houver um mínimo de respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos."
Leia as
declarações mais relevantes do diplomata na entrevista:
O senhor está preocupado?
Eu
estou. E muito. Basta ver as declarações. Digamos que estas declarações vão
desaparecer com o tempo, por causa da curva de aprendizado. Mas é preocupante
quando o presidente eleito diz que não vai conceder um metro a mais de reserva
indígena. A Constituição dispõe que os indígenas têm direitos. É possível
ignorar isso? As pessoas da equipe de transição estão falando coisas que já
estão causando dano antes de eles terem a realidade do poder. Eles não têm o
benefício do poder, mas já estão tendo os ônus.
Qual deve ser o papel da diplomacia brasileira neste cenário?
Tem que
ser, como se diz em inglês, “damage containment” (contenção de danos). Uma
diplomacia deste tipo acaba virando uma diplomacia defensiva. Porque vai ter
denúncia em toda parte. No Conselho de Direitos Humanos, aqui, ali. A
diplomacia vai ter que ficar o tempo todo se defendendo em vez de ser uma
diplomacia construtiva.
E outra
coisa que me preocupa. É que este pessoal não se dá conta do que é o Brasil. O
Brasil é um país importante, forte. Um país que é apreciado no mundo. Então
tudo que o Brasil faz tem consequência. Mas por outro lado o país não é uma
superpotência, como os Estados Unidos. Em outras palavras, os americanos podem
fazer coisas que outros países como o Brasil não podem se dar ao luxo de fazer,
como na questão da mudança da embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
O Brasil corre o risco de se isolar?
O que
vejo é que antes de ter a realidade do poder, esta é uma equipe que já está
comprometendo o Brasil. E não estão comprometendo com pouca gente e com gente
pequena. Com a China, com os árabes, com os muçulmanos — que são a maior
religião do mundo –, com a Argentina, que é nosso principal vizinho, com a
Noruega que é o principal financiador. Com quem mais o Brasil quer brigar?
Tem uma
frase boa que o Azeredo da Silveira, que foi ministro das Relações Exteriores
do Geisel, gostava muito de repetir. Ele dizia assim: “eu não tolero estas
pessoas que fazem questão de atravessar a rua para pisar numa casca de banana
na calçada do outro lado”.
É o
sujeito que inventa o problema, entende? Por que é isso. Nenhuma dessas
questões que foram objetos de declarações da equipe do Bolsonaro precisava ter
sido um problema. Porque não era. A Argentina não era problema. O Mercosul não
era problema. A China não era problema. Um país que tem 57 mil problemas reais,
como o Brasil, vai atravessar a rua para pisar na casca de banana do outro
lado? Esta era a frase luminosa do Silveira.
Você
pode ler a íntegra da entrevista aqui.
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