O candidato derrotado no segundo turno das eleições, Fernando
Haddad, afirma que a classe dirigente brasileira perdeu a máscara com a eleição
de Bolsonaro. Ele diz: "achava que a elite econômica não abriria mão do
verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes dirigentes nunca
quiseram parecer ao mundo o que de fato são". Sobre Lula, ele destaca:
"o Lula tem um significado histórico profundo. Saiu das entranhas da
pobreza, chegou à Presidência e deixou o maior legado reconhecido nesse país.
Ele teria força para conter essa onda"
247 - O candidato derrotado no segundo turno das eleições,
Fernando Haddad, afirma que a classe dirigente brasileira perdeu a máscara com
a eleição de Bolsonaro. Ele diz: "achava que a elite econômica não abriria
mão do verniz que sempre fez parte da história do Brasil. As classes dirigentes
nunca quiseram parecer ao mundo o que de fato são". Sobre Lula, ele
destaca: "o Lula tem um significado histórico profundo. Saiu das
entranhas da pobreza, chegou à Presidência e deixou o maior legado reconhecido
nesse país. Ele teria força para conter essa onda".
Na primeira entrevista após as eleições, concedida jornalista
Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, Haddad retoma sua previsão de que a direita estava
consolidando um espaço político inédito até então no Brasil: "há dois
anos, eu te dei uma entrevista. E talvez tenha sido um dos primeiros a dizer:
'É muito provável que a extrema direita tenha espaço na cena política
nacional'. Eu dizia: 'Existe uma onda que tem a ver com a crise
[econômica] de 2008, que é a crise do neoliberalismo, provocada pela
desregulamentação financeira de um lado e pela descentralização das atividades
industriais do Ocidente para o leste asiático'."
Haddad avança na análise
conjuntural: "os EUA estavam perdendo plantas industrias para a China. E a
resposta foi [a eleição de Donald Trump. Isso abriria espaço para a extrema
direita no mundo. Mas a extrema direita dos EUA não tem nada a ver com a
brasileira. Trump é tão regressivo quanto o Bolsonaro. Mas não é, do ponto de
vista econômico, neoliberal. E o chamado Trump dos trópicos [Bolsonaro] é
neoliberal. Trump apoia Bolsonaro. Ele precisa que nós sejamos neoliberais
para retomar o protagonismo no mundo, e tirar a China. Está havendo, portanto,
um quiproquó: os EUA negam o neoliberalismo enquanto não nos resta outra
alternativa a não ser adotá-lo."
Sobre
as articulações em torno da eleição sem Lula, Haddad afirma: "eu dizia:
'Tem que ver se vão deixar o Lula concorrer e como o Ciro vai se posicionar'. O
Lula foi preso e o Ciro não soube fazer a coalizão que o levaria à vitória, que
só poderia ser uma coalizão com o PT. Ele diz que foi traído
miseravelmente pelo partido. Ele não quis fazer [a coalizão]. Uma das razões
foi declarada pelo [filósofo Roberto] Mangabeira [Unger, aliado de Ciro] nesta
casa. Ele dizia: 'Nós não queremos ser os continuadores do lulismo. Não
queremos receber o bastão do Lula. Nós queremos correr em raia própria'. Palavras
dele. Eles não queriam ser vistos como a continuidade do que julgavam
decadente. Apostavam que, com Lula preso, o PT não teria voto a transferir.
Aconteceu exatamente o oposto."
Fernando Haddad ainda fala sobre o papel do PT no quadro político atual:
"o PT elegeu uma bancada expressiva, quatro governadores, fez 45% dos
votos no segundo turno, 29% no primeiro. É até hoje o partido de
centro-esquerda mais importante da história do país. Outras legendas
repetem que o PT não abre mão da hegemonia. O PT é um player no sentido pleno
da palavra. É um jogador de alta patente, que sabe fazer política. Sabe entrar
em campo e defender o seu legado."
Nenhum comentário:
Postar um comentário