"Será que foi por ter emprisionado o líder da esquerda
brasileira que o magistrado será recompensado por Jair Bolsonaro?",
questiona o jornal francês sobre a possibilidade do juiz Sérgio Moro ser
ministro do governo de Jair Bolsonaro ou aceitar uma indicação para o STF; de
acordo com a análise do jornal, se Moro aceitar um dos dois cargos, isso só
corroborará o argumento de que ele sempre foi um juiz "seletivo"
Da RFI - O jornal
francês Le Monde que chegou às bancas nesta quarta-feira (31) traz uma
reportagem sobre as "ambiguidades de Sérgio Moro". O diário afirma
que a inexperiência política do responsável pela prisão do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva é um fator que não deve ser ignorado.
"Seu
escritório de Curitiba, no sul do Brasil, está perto da célula onde o ex-chefe
de Estado Luiz Inácio Lula da Silva cumpre sua pena de 12 anos de prisão. O
'troféu de Moro', dizem na região", começa a reportagem de Claire Gatinois.
"Será que foi por ter emprisionado o líder da esquerda brasileira que o
magistrado será recompensado por Jair Bolsonaro?"
A
matéria lembra que Moro era apenas um personagem menor para a história nacional
até se tornar o chefe da Operação Lava Jato que, desde 2014, tem sacudido o
mundo político do país. "Na segunda-feira, 29 de outubro, dia seguinte à
sua eleição, Jair Bolsonaro disse que ofereceria ao juiz de primeira instância
um cargo na Corte Suprema ou o posto de ministro da Justiça".
Moro,
descrito como "ambicioso" por seus aliados, se disse
"honrado" com a proposta, mas revelou que precisava de tempo para
refletir. "Mais do que honrado, o magistrado estaria já atraído pela
proposta. Sérgio Moro cultiva uma admiração secreta pelo presidente eleito, se
esquecendo do pouco respeito do militar às instituições e seu desprezo pelos
direitos humanos", continua a repórter. A ocupação de um dos altos cargos
da jurisdição por um juiz de primeira instância seria inédita, aponta o texto.
Show midiático
A
matéria do Monde retraça a história do juiz que, investigando "um caso
banal" de lavagem de dinheiro, acabou revelando um dos maiores casos de
corrupção do país. "A operação envolve quase todos os partidos, mas a
Justiça e Sérgio Moro têm um cuidado todo especial em relação ao Partido dos
Trabalhadores", diz a reportagem.
"Inovador
e ambicioso", Moro soube mexer com a população brasileira, já cansada dos
inúmeros casos de corrupção, "multiplicando as detenções
preventivas". "Em 2016, ele 'deixou escapar' uma conversa telefônica
constrangedora, mas ilegal, entre a então presidente Dilma Roussef e Lula,
alguns meses antes do impeachment".
Ainda
mais constrangedor, segundo o Monde, é a rapidez com que Lula foi julgado, num
país onde a Justiça anda a passos lentos, semanas antes da oficialização das
candidaturas para as eleições de 2018. De acordo com a análise do jornal, se
Moro aceitar um dos dois cargos, isso só corroborará o argumento de que ele
sempre foi um juiz "seletivo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário