Jornalista diz ao ex-presidenciável, em carta aberta, que
"ainda dá tempo de ajudar a virar este jogo e evitar que o pior aconteça
para o nosso Brasil" e alerta que o "fato novo" determinada para
a virada pode ser justamente esse gesto; "Agora é hora do coração falar
mais alto, deixando as querelas da política de lado, para depois de evitarmos
juntos a catástrofe que ainda nos ameaça, mas já sem tanta força. O
importante agora é que a nossa democracia sobreviva", afirma Ricardo
Kotscho; leia a íntegra
247 - O jornalista Ricardo Kotscho escreveu em seu blog uma carta aberta ao ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT, em
que o chama para o dever de se manifestar em apoio a Fernando
Haddad. "Ainda dará tempo de ajudar a virar este jogo e evitar que o
pior aconteça para o nosso Brasil", diz Kotscho, lembrando que "falta
só o fato novo e decisivo para impedir a vitória do 'Mito' que nos ameaça a
todos", e alerta que esse fato novo pode ser o apoio do ex-ministro.
Caro Ciro,
sei que
o amigo só vai chegar de viagem depois das oito da noite em Fortaleza, mas
ainda dará tempo de ajudar a virar este jogo e evitar que o pior aconteça para
o nosso Brasil.
A
virada da civilização contra a barbárie já começou.
Falta
só o fato novo e decisivo para impedir a vitória do "Mito" que nos
ameaça a todos.
E esse
fato novo, que pode decidir a parada para um lado ou outro é você, caro Ciro
Gomes, meu companheiro no governo Lula e nas lutas todas em defesa da
democracia.
Minha
família toda votou em você no primeiro turno. Não deu, mas agora não tem outra
escolha: é democracia ou ditadura, está nas nossas mãos.
Muita
coisa mudou nos últimos dias por aqui, o povo está caindo na real e descobrindo
que o capitão alucinado não é candidato a presidente da República, mas a
ditador.
As
ultimas pesquisas Datafolha e Ibope já estão mostrando que temos jogo pela
frente para fechar a boca do jacaré e chegar pau a pau na boca da urna.
Ao
contrário do que os analistas apontavam, a eleição não está decidida e, agora,
só depende de nós decidir para onde queremos levar nosso país.
Como
você é bom de briga, boto muita fé que a tua posição neste momento pode
influenciar os 14% de eleitores que ainda não sabem em quem votar ou não
pretendem votar em ninguém, segundo o Datafolha.
Você já
deve ter visto o vídeo dos artistas que votaram no Ciro no primeiro turno e
estão fazendo um apelo para você tomar uma posição firme a favor do Fernando
Haddad.
Tem uma
frase da jovem atriz Samara Felippo, que resume bem o que todos pensam: "A
gente está ou não está junto pela democracia?"
Sei
qual é a tua resposta, como você mesmo falou, logo após o anuncio do resultado
no dia 7, ao sair de casa para falar com os repórteres, naquela noite mal
assombrada que quase nos levou para o inferno de vez.
Enquanto
escrevo, me lembrei de outra carta de muitos anos atrás, publicada pelo
"Jornal da República" do Mino Carta, no dia em que outro cearense
guerreiro voltava do exílio ao Brasil.
Era
Miguel Arraes, que voou num aviãozinho direto do Rio para o Crato, onde sua mãe
e toda a família o esperavam. Você pode imaginar a emocionante festa que
fizeram.
Isso
faz agora exatos 40 anos. Claro que a situação e as circunstâncias são
completamente diferente. São outros os tempos.
No vôo
para o Crato, Arraes leu a minha carta no jornal em que contava como estavam
vivendo seus parentes e amigos.
Logo ao
chegar, ele quis saber quem tinha escrito aquela carta. Por sorte, eu estava no
quarto da mãe dele e acabei fazendo uma entrevista exclusiva com um dos maiores
líderes políticos que o nordeste já conheceu.
Arraes
seria eleito e reeleito governador de Pernambuco, teve importante papel na
campanha das Diretas Já e na primeira campanha de Lula, em 1989.
Por
falar em Pernambuco, você precisava ver que maravilha foi o comício do Haddad
ontem à noite no Recife, o centro velho todo tomado por uma multidão em festa,
que me lembrou outras campanhas presidenciais.
Gostaria
muito que você lesse esta carta antes de chegar de volta à tua terra, agora que
estamos todos interligados nas nuvens da internet, e algum amigo comum poderia
nos fazer esta gentileza.
Quem
sabe o velho Egídio Serpa, teu assessor e de Tasso, que estava naquele almoço
com o Lula, na cantina do Mario, perto do escritório dele, no Ipiranga, no
final de 1993, na busca de um entendimento entre PT e PSDB, que acabou não
sendo possível .
Agora é
hora do coração falar mais alto, deixando as querelas da política de lado, para
depois de evitarmos juntos a catástrofe que ainda nos ameaça, mas já sem tanta
força.
O
importante agora é que a nossa democracia sobreviva. Estamos juntos!
Boa
viagem.
Forte
abraço.
Vida
que segue.
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