O líder do MTST, Guilherme Boulos (PSOL), avalia que parte da
população do campo progressista está "intimidada", com medo de ir às
ruas fazer campanha pelo candidato do campo democrático á Presidência da
República, Fernando Haddad (PT); "Esse é o pior sentimento"; para
ele, é chegado "o momento de sair da toca, das pessoas superarem o medo,
pegar um boné, um panfleto. É nosso papel construir essa possibilidade",
disse em referência ao segundo turno
Luciano Velleda, Rede Brasil
Atual -
A menos de 15 dias para o segundo turno da eleição que decidirá o novo
presidente do Brasil, o candidato pelo Psol, Guilherme Boulos, avalia que parte
da população do campo progressista está "intimidada", com medo de ir
às ruas fazer campanha por Fernando Haddad (PT). "Esse é o pior
sentimento", disse, durante participação no programa Entre Vistas, que foi
ao ar nesta terça-feira (16), na TVT.
"Tem
gente que diz que botar gente na rua não dá voto. Pode ser. Mas botar gente na
rua dá ânimo e moral. É o momento de sair da toca, das pessoas superarem o
medo, pegar um boné, um panfleto. É nosso papel construir essa
possibilidade", afirmou Boulos.
Para
ele, o processo eleitoral das eleições de 2018 foi marcado pelo medo e por uma
ideia equivocada de voto útil, em referência ao movimento em torno da
candidatura de Ciro Gomes (PDT). "Foi o voto útil mais inútil. Nunca vi
voto útil no terceiro colocado."
Apresentado
pelo jornalista Juca Kfouri, o programa também contou com a participação da
socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther
Solano e a professora de literatura e história africana da UneAfro Adriana de
Cássia Moreira.
Logo no
início do Entre Vistas, Juca Kfouri questionou quais foram os caminhos que
levaram o ativista, nascido em família de classe média, a se envolver com a
defesa dos direitos de pessoas excluídas, uma questão frequentemente levantada
por críticos do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
"Quando
a solidariedade é vista com maus olhos, é porque a sociedade está doente.
Ninguém precisa passar fome para se sensibilizar com quem tem fome",
explicou, dizendo que o mesmo sentimento foi despertado com quem não tem
moradia.
Ao ser
cumprimentado por Esther Solano pelo discurso em que alertou para o perigo do
retorno à ditadura, o candidato do Psol confidenciou que o fez de improviso,
incomodado com o resultado de uma pesquisa eleitoral divulgada horas antes do
debate na TV Globo e que dava a Jair Bolsonaro (PSL) a possibilidade de vitória
no primeiro turno. Para ele, a existência de um candidato de extrema-direita
com força de massa, deixou a parcela progressista da sociedade com medo.
A crise brasileira
O líder
do MTST avalia que a atual situação conflagrada do país, imerso numa crise
política e econômica, é consequência do Brasil jamais ter alcançado uma
democracia plena, mantendo práticas estruturais atrasadas ao longo do tempo.
Esse
atraso histórico, na análise de Guilherme Boulos, inclui a existência de uma
elite econômica com DNA da "Casa Grande", que critica o programa
Bolsa Família por ser "coisa de comunista", se incomoda com os
direitos sociais e trabalhistas adquiridos pelas trabalhadoras domésticas, e
está fazendo de tudo pela vitória de Bolsonaro.
"Não
temos uma elite democrática no Brasil. Temos uma elite que vai fazer de tudo
para o Bolsonaro ganhar e depois vai silenciar diante das atrocidades que ele
vai cometer", afirmou, lembrando ainda que o país nunca puniu os
responsáveis pelos crimes da ditadura. "Quando não se acerta as contas com
o passado, se compromete o presente e se assombra o futuro."
Como
exemplo, ponderou que Bolsonaro costuma dizer, com orgulho, que seu livro de
cabeceira é o livro de memórias do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra,
único torturador reconhecido como tal pela Justiça brasileira. "E ele diz
isso na TV, numa boa."
O eleitor e a esperança
Em
determinado momento do programa, Boulos contou que, na véspera do primeiro
turno, estava chegando em casa, no Campo Limpo, bairro periférico na zona sul
de São Paulo, quando foi abordado por um jovem. O rapaz o elogiou, o
parabenizou por sua participação nos debates, disse que gostava dele, mas que
votaria em Bolsonaro. O episódio fez o candidato do Psol compreender como um
erro achar que a maioria dos eleitores de Bolsonaro são fascistas, iguais ao
candidato do PSL.
"Alguns
são mesmo, os tais 'bolsominions', um grupo pequeno e barulhento, mas o grosso
(dos eleitores) é o povo brasileiro que não aguenta mais corrupção, um sistema
político em que não se vê representado, e vê no Bolsonaro alguém de fora do
sistema."
Esther
Solano ponderou que pesquisas realizadas com eleitores de Bolsonaro, revelam
que a palavra "esperança" é a que mais aparece. A socióloga então
questionou Boulos sobre o que a esquerda deve fazer para voltar a ser uma opção
democrática para o eleitorado do país.
"A
esquerda deve voltar a encampar a esperança após ter encampado o pragmatismo.
Se a gente não dialogar com a insatisfação das pessoas, esse sentimento vai de
bandeja pro colo do Bolsonaro, como foi pro Doria antes (na eleição para
prefeito de São Paulo em 2016). Menos a governabilidade a qualquer custo e mais
a esperança", definiu o líder do MTST.
Embora
reconheça os méritos dos governos petistas no Palácio do Planalto, acredita que
a esquerda não terá futuro "acenando" com uma volta ao passado.
"Isso no máximo disputa a saudade, não a esperança."
O papel do Judiciário
O
candidato do Psol à presidência acredita que, dentre os três poderes da
República, o Judiciário talvez seja o menos democrático, por ser o único que
não está submetido a nenhum tipo de controle externo e social. "Um poder
que regula a si próprio não é compatível com a democracia."
Para
ele, a crise política deflagrada pela Operação Lava Jato fez com que o
Executivo se tornasse "fraco" e o Congresso Nacional
"desmoralizado", criando assim um vácuo de poder que foi ocupado pelo
Judiciário, que "passou então a legislar, a executar..."
Ele
lembrou ainda a recente frase do atual ministro do Supremo Tribunal Fedaral
(STF), Dias Toffoli, que definiu o golpe de 1964 como um "movimento",
e nomeou para o seu gabinete, um militar. "Nunca nos últimos 30 anos, os
militares tiveram tanta força política", afirmou Boulos.
Citando
Robespierre, líder jacobino da Revolução Francesa, mas que depois foi preso e decapitado,
Guilherme Boulos disse que o Judiciário não está percebendo que "vai cair
junto no abismo".
"Alguém
acha que o governo do Bolsonaro vai ser democrático com o Ministério Público?
Vai deixar os juízes fazerem o que fazem? Vai dar liberdade à imprensa?",
questionou.
O segundo turno
Faltando
poucos dias para o segundo turno da eleição, o candidato do Psol insiste na
necessidade de a militância ir às ruas, com garra, para a campanha do petista
Fernando Haddad ganhar força, contra a ditadura e o fascismo representados pela
candidatura Bolsonaro. "Temos que superar o medo, a apatia e levantar o moral."
Boulos
defende a importância de ampliar apoio em torno de Haddad, mas acredita que tal
movimento não deve ser feito em direção ao mercado, pois isso reforçaria a
ideia de sistema, justamente numa eleição marcada pelo sentimento anti-sistema.
"A
ampliação que precisa ser feita é com a alma do povo brasileiro",
finalizou.
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