quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Boulos: militância progressista deve superar o medo e ir às ruas


O líder do MTST, Guilherme Boulos (PSOL), avalia que parte da população do campo progressista está "intimidada", com medo de ir às ruas fazer campanha pelo candidato do campo democrático á Presidência da República, Fernando Haddad (PT); "Esse é o pior sentimento"; para ele, é chegado "o momento de sair da toca, das pessoas superarem o medo, pegar um boné, um panfleto. É nosso papel construir essa possibilidade", disse em referência ao segundo turno
Luciano Velleda, Rede Brasil Atual - A menos de 15 dias para o segundo turno da eleição que decidirá o novo presidente do Brasil, o candidato pelo Psol, Guilherme Boulos, avalia que parte da população do campo progressista está "intimidada", com medo de ir às ruas fazer campanha por Fernando Haddad (PT). "Esse é o pior sentimento", disse, durante participação no programa Entre Vistas, que foi ao ar nesta terça-feira (16), na TVT.
"Tem gente que diz que botar gente na rua não dá voto. Pode ser. Mas botar gente na rua dá ânimo e moral. É o momento de sair da toca, das pessoas superarem o medo, pegar um boné, um panfleto. É nosso papel construir essa possibilidade", afirmou Boulos.
Para ele, o processo eleitoral das eleições de 2018 foi marcado pelo medo e por uma ideia equivocada de voto útil, em referência ao movimento em torno da candidatura de Ciro Gomes (PDT). "Foi o voto útil mais inútil. Nunca vi voto útil no terceiro colocado."
Apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, o programa também contou com a participação da socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther Solano e a professora de literatura e história africana da UneAfro Adriana de Cássia Moreira.
Logo no início do Entre Vistas, Juca Kfouri questionou quais foram os caminhos que levaram o ativista, nascido em família de classe média, a se envolver com a defesa dos direitos de pessoas excluídas, uma questão frequentemente levantada por críticos do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
"Quando a solidariedade é vista com maus olhos, é porque a sociedade está doente. Ninguém precisa passar fome para se sensibilizar com quem tem fome", explicou, dizendo que o mesmo sentimento foi despertado com quem não tem moradia.
Ao ser cumprimentado por Esther Solano pelo discurso em que alertou para o perigo do retorno à ditadura, o candidato do Psol confidenciou que o fez de improviso, incomodado com o resultado de uma pesquisa eleitoral divulgada horas antes do debate na TV Globo e que dava a Jair Bolsonaro (PSL) a possibilidade de vitória no primeiro turno. Para ele, a existência de um candidato de extrema-direita com força de massa, deixou a parcela progressista da sociedade com medo.
A crise brasileira
O líder do MTST avalia que a atual situação conflagrada do país, imerso numa crise política e econômica, é consequência do Brasil jamais ter alcançado uma democracia plena, mantendo práticas estruturais atrasadas ao longo do tempo.
Esse atraso histórico, na análise de Guilherme Boulos, inclui a existência de uma elite econômica com DNA da "Casa Grande", que critica o programa Bolsa Família por ser "coisa de comunista", se incomoda com os direitos sociais e trabalhistas adquiridos pelas trabalhadoras domésticas, e está fazendo de tudo pela vitória de Bolsonaro.
"Não temos uma elite democrática no Brasil. Temos uma elite que vai fazer de tudo para o Bolsonaro ganhar e depois vai silenciar diante das atrocidades que ele vai cometer", afirmou, lembrando ainda que o país nunca puniu os responsáveis pelos crimes da ditadura. "Quando não se acerta as contas com o passado, se compromete o presente e se assombra o futuro."
Como exemplo, ponderou que Bolsonaro costuma dizer, com orgulho, que seu livro de cabeceira é o livro de memórias do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, único torturador reconhecido como tal pela Justiça brasileira. "E ele diz isso na TV, numa boa."
O eleitor e a esperança
Em determinado momento do programa, Boulos contou que, na véspera do primeiro turno, estava chegando em casa, no Campo Limpo, bairro periférico na zona sul de São Paulo, quando foi abordado por um jovem. O rapaz o elogiou, o parabenizou por sua participação nos debates, disse que gostava dele, mas que votaria em Bolsonaro. O episódio fez o candidato do Psol compreender como um erro achar que a maioria dos eleitores de Bolsonaro são fascistas, iguais ao candidato do PSL.
"Alguns são mesmo, os tais 'bolsominions', um grupo pequeno e barulhento, mas o grosso (dos eleitores) é o povo brasileiro que não aguenta mais corrupção, um sistema político em que não se vê representado, e vê no Bolsonaro alguém de fora do sistema."
Esther Solano ponderou que pesquisas realizadas com eleitores de Bolsonaro, revelam que a palavra "esperança" é a que mais aparece. A socióloga então questionou Boulos sobre o que a esquerda deve fazer para voltar a ser uma opção democrática para o eleitorado do país.
"A esquerda deve voltar a encampar a esperança após ter encampado o pragmatismo. Se a gente não dialogar com a insatisfação das pessoas, esse sentimento vai de bandeja pro colo do Bolsonaro, como foi pro Doria antes (na eleição para prefeito de São Paulo em 2016). Menos a governabilidade a qualquer custo e mais a esperança", definiu o líder do MTST.
Embora reconheça os méritos dos governos petistas no Palácio do Planalto, acredita que a esquerda não terá futuro "acenando" com uma volta ao passado. "Isso no máximo disputa a saudade, não a esperança."
O papel do Judiciário
O candidato do Psol à presidência acredita que, dentre os três poderes da República, o Judiciário talvez seja o menos democrático, por ser o único que não está submetido a nenhum tipo de controle externo e social. "Um poder que regula a si próprio não é compatível com a democracia."
Para ele, a crise política deflagrada pela Operação Lava Jato fez com que o Executivo se tornasse "fraco" e o Congresso Nacional "desmoralizado", criando assim um vácuo de poder que foi ocupado pelo Judiciário, que "passou então a legislar, a executar..."
Ele lembrou ainda a recente frase do atual ministro do Supremo Tribunal Fedaral (STF), Dias Toffoli, que definiu o golpe de 1964 como um "movimento", e nomeou para o seu gabinete, um militar. "Nunca nos últimos 30 anos, os militares tiveram tanta força política", afirmou Boulos.
Citando Robespierre, líder jacobino da Revolução Francesa, mas que depois foi preso e decapitado, Guilherme Boulos disse que o Judiciário não está percebendo que "vai cair junto no abismo".
"Alguém acha que o governo do Bolsonaro vai ser democrático com o Ministério Público? Vai deixar os juízes fazerem o que fazem? Vai dar liberdade à imprensa?", questionou.
O segundo turno
Faltando poucos dias para o segundo turno da eleição, o candidato do Psol insiste na necessidade de a militância ir às ruas, com garra, para a campanha do petista Fernando Haddad ganhar força, contra a ditadura e o fascismo representados pela candidatura Bolsonaro. "Temos que superar o medo, a apatia e levantar o moral."
Boulos defende a importância de ampliar apoio em torno de Haddad, mas acredita que tal movimento não deve ser feito em direção ao mercado, pois isso reforçaria a ideia de sistema, justamente numa eleição marcada pelo sentimento anti-sistema.
"A ampliação que precisa ser feita é com a alma do povo brasileiro", finalizou.


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