quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Quarenta médicos se concentram em frente à PF em Curitiba


Representando oito estados do País, os médicos participarão da Vigília e tentarão entregar carta ao Lula

Profissionais de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará estarão na mobilização / RNMMP


Quarenta médicos de oito estados do Brasil chegam a Curitiba a partir desta quarta-feira (8) para se somar à Vigília Lula Livre. Os profissionais integram a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP) e os Médicos pela Democracia, e estarão na mobilização pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detido desde o dia 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal.
Após a chegada dos médicos, na parte da manhã, acontece uma roda de conversa sobre a saúde da população negra. À tarde, os ativistas irão se integrar no apoio da Vigília Lula Livre.
A comitiva de médicas e médicos tem o objetivo de entregar, na quinta-feira (9), uma carta a Lula e realizar uma visita de caráter humanitário ao ex-presidente. A médica pernambucana Andreia Campigotto falou sobre a mobilização. “A ideia é a gente se concentrar às 8h30. Participar do Bom dia, PresidenteVamos fazer uma roda de conversa sobre o desmonte do SUS pelo golpe”.
No período da tarde, estarão integrados nas atividades da Vigília, e no final da tarde farão uma concentração em frente a sede da PF. “Fazer uma conversa com o delegado de plantão, para ver se conseguimos uma visita com um caráter de missão médica, humanitária mesmo”, explicou a médica.
Andreia acrescenta que, se viabilizada a visita, avaliarão “as condições físicas, psíquicas, que ele se encontra nesse processo de encarceramento”.
Os profissionais oriundos de Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará, das duas organizações, pretendem ainda denunciar as medidas antidemocráticas que o atual governo Michel Temer (MDB) “tem adotado contra o povo brasileiro”. Campigotto cita, como exemplo, o desmonte das políticas públicas e a Emenda Constitucional 95.
Segundo ela, a iniciativa assume um caráter simbólico também, por se tratar de uma categoria [médica] historicamente hegemonizada por um pensamento conservador.
Campigotto, representando a Rede, e Vitor Rocha, representando os Médicos pela Democracia, tentarão a visita a Lula nesta quinta-feira (9). “Entregar pessoalmente essa carta dirigida ao presidente Lula e ao povo brasileiro. Uma carta que foi redigida pelas duas organizações”.
O documento, dirigido também ao povo brasileiro, faz críticas ao projeto golpista, que vem promovendo ataques às políticas públicas e à democracia.
De Curitiba, a médica, assim como outros profissionais, seguirá para a Marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Brasília.
Militantes da RNMMP estão engajados no Setor de Saúde do MST, que acompanhará entre 10 e 15 agosto a Marcha a Brasília. Há também alguns ativistas da Rede monitorando a saúde dos militantes em greve de fome.
Confira abaixo a íntegra do documento:
Carta Aberta a Luiz Inácio Lula da Silva e à população brasileira
Nós, médicas e médicos participantes de movimentos e entidades que lutam em defesa da democracia e da saúde pública universal, gratuita, integral e de qualidade, em diversos estados da República Federativa do Brasil, iremos em comitiva à Curitiba, com o objetivo de realizar uma visita de caráter médico ao cidadão Luís Inácio Lula da Silva, além de nos somarmos à vigília por sua liberdade, no contexto de uma detenção arbitrária, sem provas e de clara motivação política, que se arrasta desde 7 de abril de 2018.
Primeiramente, a visita a Lula cumpre um caráter humanitário, uma vez que o encarceramento e isolamento o deixam exposto ao risco de diversas doenças físicas e, em especial, psíquicas, de graves repercussões médicas, risco este agravado pelas circunstâncias de sua prisão em flagrante desrespeito à Constituição Federal e de cerceamento ao direito de defesa amplo e irrestrito, com evidente propósito de impedir sua vida política e o seu contato com o povo brasileiro.
Compreendemos, portanto, ser Lula, em pleno século XXI, um preso político no Brasil. Por esse motivo, nossa visita tem também como objetivo a defesa das liberdades democráticas a um cidadão brasileiro, como parte de nossa luta pela democracia no Brasil, atingida violentamente pela destituição de uma presidenta legitimamente eleita, seguida da imposição de um projeto de governo antipopular e antidemocrático ao povo brasileiro.
Este projeto, não legitimado nas urnas, inclui a Emenda Constitucional 95, a PEC DA MORTE, aprovada logo após o golpe, por uma maioria parlamentar sem compromisso com a população brasileira. A EC 95 congela por 20 anos os investimentos sociais, impossibilitando o desenvolvimento de políticas públicas essenciais e inviabilizando a democracia.
Além da PEC DA MORTE, os partícipes do golpe jurídico-parlamentar-midiático dão sequência a um desmonte avassalador do Estado brasileiro, com impacto na soberania nacional e inaceitáveis retrocessos nas políticas de Saúde, Assistência Social e Previdência Social.
Na condição de profissionais da saúde, vemos com imensa preocupação o desmonte sistemático do Sistema Único de Saúde (SUS), maior política pública do país, que universaliza o acesso do povo brasileiro aos serviços de saúde.
Hoje, sob sucessivos ataques dos golpistas, o SUS padece pelo: 1) subfinanciamento orçamentário; 2) fragilização da política de Atenção Primária; 3) redução do Programa Mais Médicos; 4) retrocesso na atenção à saúde de pessoas com sofrimento mental, com retomada de comunidades terapêuticas e leitos psiquiátricos em detrimento dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e demais serviços substitutivos; 5) privatização da saúde através de “planos populares” e sua exploração pelo capital estrangeiro.
Portanto, muitos motivos nos trazem nessa visita a LULA: nossa solidariedade a um cidadão injusta e ilegalmente detido há meses e nosso compromisso na defesa do Estado Democrático de Direito e do Estado de Bem-Estar Social para todas as brasileiras e brasileiros, o que necessariamente exige uma política de saúde universal, gratuita, integral e de qualidade.
Ousar lutar, ousar vencer!
Movimento de Médicos pela Democracia
Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares

Fonte: Brasil de Fato

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