Censurado por toda a mídia conservadora brasileira,
Lula é destaque nesta terça (14) no mais importante jornal do planeta,
o The New York Times. O jornal publicou artigo de Lula com a a seguinte
advertência aos leitores: "O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da
Silva escreveu este artigo de opinião da prisão"; o NYT deu como
título: "Lula: Eu quero democracia, não impunidade" e
destacou: "Há um golpe de direita em andamento no Brasil, mas a
justiça prevalecerá"; leia a íntegra
A íntegra do artigo (tradução de Gustavo Conde):
Lula: Eu quero democracia, não impunidade
Há um golpe de direita em andamento no Brasil, mas
a justiça prevalecerá
By Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva
escreveu este artigo de opinião da prisão.
CURITIBA, Brasil - Dezesseis anos atrás, o Brasil
estava em crise; um futuro incerto. Nosso sonho de sermos um dos países mais
prósperos e democráticos do mundo parecia ameaçado. A ideia de que um dia
nossos cidadãos poderiam desfrutar dos padrões de vida confortáveis de nossos
colegas na Europa ou em outras democracias ocidentais parecia estar
desaparecendo. Menos de duas décadas após o fim da ditadura, algumas feridas
daquele período ainda estavam abertas.
O Partido dos Trabalhadores ofereceu esperança, uma
alternativa que poderia mudar essa tendência. Foi por esta razão, creio, acima
de tudo, que triunfamos nas urnas em 2002. Eu me tornei o primeiro líder trabalhista
a ser eleito presidente do Brasil. Inicialmente, os mercados foram abalados por
esse desenvolvimento, mas o crescimento econômico que se seguiu os deixou à
vontade.
Nos anos que se seguiram, os governos do PT
conseguiram reduzir a pobreza em mais da metade em apenas oito anos. Nos meus
dois governos, o salário mínimo aumentou 50%. Nosso programa Bolsa Família, que
auxiliou famílias pobres ao mesmo tempo em que garantiu que as crianças
recebessem educação de qualidade, ganhou renome internacional. Nós provamos que
combater a pobreza era uma boa política econômica.
Mas este progresso foi interrompido. Não através
das urnas, embora o Brasil tenha tido àquele momento eleições livres e justas,
mas com a interrupção de um mandato da presidente Dilma Rousseff, que sofreu
impeachment e foi destituída do cargo por uma ação que até mesmo seus oponentes
admitiram não ser um gesto passível de punição. Eu também fui mandado para a
prisão, depois de um julgamento duvidoso sobre acusações de corrupção e lavagem
de dinheiro.
Meu encarceramento foi a última fase de um golpe em
câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas
no Brasil. Pretende-se impedir que o Partido dos Trabalhadores seja novamente
eleito para a presidência.
Com todas as pesquisas mostrando que eu venceria
facilmente as eleições de outubro, a extrema direita brasileira está tentando
me tirar da disputa. Minha condenação e prisão são baseadas somente no
testemunho de alguém cuja própria sentença foi reduzida em troca do que ele
disse contra mim. Em outras palavras, era do seu interesse pessoal dizer às
autoridades o que elas queriam ouvir.
As forças de direita que tomaram o poder no Brasil
não perderam tempo na implementação de sua agenda. A administração
profundamente impopular do presidente Michel Temer aprovou uma emenda
constitucional que estabeleceu um limite de 20 anos para os gastos públicos e
promulgou várias mudanças nas leis trabalhistas que facilitarão a terceirização
e enfraquecerão os direitos de negociação dos trabalhadores e até mesmo seu
direito a uma jornada de trabalho de oito horas. O governo Temer também tentou
fazer cortes nas aposentadorias.
Os conservadores do Brasil estão tentando reverter
o progresso dos governos do Partido dos Trabalhadores e estão determinados a
nos impedir de voltar ao cargo em um futuro próximo.
Seu aliado nesse esforço é o juiz Sérgio Moro e sua
equipe de promotores, que recorreram a gravações e vazamentos de conversas
telefônicas particulares que tive com minha família e com meu advogado,
incluindo uma conversa ilegal. Eles criaram um roteiro fantasioso de mídia ao
me prenderem, pois me acusaram de ser o “mentor” de um vasto esquema de
corrupção. Esses detalhes aterradores raramente são relatados na grande mídia.
Moro foi protegido pela mídia de direita do Brasil.
Ele se tornou intocável. Mas a verdadeira questão não é o Sr. Moro; são aqueles
que o elevaram a esse status intocável: elites de direita, neoliberais, que
sempre se opuseram à nossa luta por maior justiça e igualdade social no Brasil.
Não acredito que a maioria dos brasileiros tenha
aprovado essa agenda elitista. É por isso que, embora estando na prisão, eu
estou concorrendo à presidência, até porque as pesquisas mostram que, se as
eleições fossem realizadas hoje, eu venceria. Milhões de brasileiros entendem
que minha prisão não tem nada a ver com corrupção, e eles entendem que eu estou
onde estou apenas por razões políticas.
Eu não me preocupo comigo mesmo. Já estive preso
antes, sob a ditadura militar do Brasil, por nada mais do que defender os
direitos dos trabalhadores. Essa ditadura caiu. As pessoas que estão abusando
de seu poder hoje também cairão.
Eu não peço para estar acima da lei, mas um
julgamento deve ser justo e imparcial. Essas forças direitistas me condenaram,
me prenderam, ignoraram a esmagadora evidência de minha inocência e me negaram
o habeas corpus apenas para tentar me impedir de concorrer à presidência.
Eu peço respeito pela democracia. Se eles querem me
derrotar de verdade, que o façam nas eleições. Segundo a Constituição
brasileira, o poder vem do povo, que elege seus representantes. Então que se
deixe o povo brasileiro decidir. Eu tenho fé que a justiça prevalecerá, mas o
tempo está correndo contra a democracia.
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