"Já havia mais de 50 mil pessoas na maior empolgação na
praça em frente aos Arcos da Lapa, no Rio, quando o Jornal Nacional resolveu
dar um breve registro do maior fato político das últimas semanas, em defesa da
libertação de Lula. Foi apenas uma 'nota coberta' de 40 segundos. Lembrou muito
o que fizeram no primeiro grande comício das Diretas Já, na praça da Sé, em São
Paulo, em 25 de janeiro de 1984, quando o JN deu a notícia como se fizesse
parte das comemorações do aniversário da cidade", aponta o jornalista
Ricardo Kotscho
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho – Já havia mais de 50 mil
pessoas na maior empolgação na praça em frente aos Arcos da Lapa, no Rio,
quando o Jornal Nacional resolveu dar um breve registro do maior fato político
das últimas semanas, em defesa da libertação de Lula.
Foi
apenas uma "nota coberta" de 40 segundos, que é como, no jargão da
televisão, os profissionais se referem às matérias que precisam ser exibidas,
mas sem destaque.
Lembrou
muito o que fizeram no primeiro grande comício das Diretas Já, na praça da Sé,
em São Paulo, em 25 de janeiro de 1984, quando o JN deu a notícia como se
fizesse parte das comemorações do aniversário da cidade.
Hoje,
era o dia de Alexandre Garcia, o William Bonner dos sábados, ex-assessor de
João Figueiredo, o último general da ditadura militar, que estava visivelmente
constrangido e contrariado com a grande festa pela libertação de Lula que
aconteceu ali perto de onde ele estava nos estúdios da Globo.
Capaz
até de ter ouvido os cantos e gritos pela libertação de Lula, mas reagiu como
se aquilo estivesse acontecendo no Afeganistão.
A
esta altura, eu já havia publicado três notas no Facebook mostrando o contraste
entre o que acontecia na vida real do país, no Rio da Globo, e o que estava
sendo exibido nas emissoras abertas e nos canais de notícias, solenemente
ignorando a manifestação nos Arcos da Lapa, a mais bela festa democrática a que
assistimos nos últimos tempos no Brasil do Centrão de Temer, agora de Alckmin.
Mas,
ao vivo, só vimos estas imagens nas redes sociais, nos blogs e canais
alternativos.
A
Globo, mais uma vez, tão presente nas manifestações pelo impeachment de Dilma,
perdeu o bonde da história e, daqui a mais 30 anos, é capaz de admitir o erro.
O
Brasil velho e caquético, que fez do anti-lulismo e do anti-petismo seu ideal
de vida, arrastando chinelos pelas casas do seu passado anônimo e sombrio, até
vibrou com a "nota coberta" do JN, como se aquilo fosse uma
demonstração de jornalismo isento.
Pois
ficou pior a emenda do que o soneto.
Teria
sido melhor fingir que não viram aquela multidão na Lapa cantando e gritando
horas seguidas pela libertação do ex-presidente Lula, com a participação de
muitos artistas globais.
O
passado sempre volta: lembrou aquele JN, às vésperas da eleição de 2006, em que
caiu um avião na Amazônia, e preferiram dar imagens de montes de dinheiro dos
aloprados petistas, o que levou a reeleição de Lula para o segundo turno.
Não
esquecem, não perdoam e não aprendem. No Brasil, o tempo passa, o mundo dá
muitas voltas, e voltamos sempre ao ponto de partida, para criar narrativas
paralelas à realidade.
Parece
que o Brasil está condenado a viver eternamente no passado, com medo do futuro.
Vida
que segue.
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